Durante as enchentes, de setembro de 2023 e maio de 2024 o que foi mais difícil?
Foram várias situações difíceis. Mas, em maio, a maior dificuldade foi o isolamento do município. Dependíamos muito da ajuda externa e as pessoas não conseguiam mais chegar aqui, por conta da elevação dos rios, queda de pontes e outros fatores. Nossa cidade também estava sem atendimento dos bombeiros, o que dificultou ainda mais os resgates. Felizmente, tivemos muitos voluntários, verdadeiros anjos, que ajudaram nas remoções e no transporte de pessoas de um lado para o outro.
O que a experiência dessas tragédias ensina?
A principal lição é que a Defesa Civil municipal não pode funcionar com apenas uma pessoa. Ela precisa ser composta por um grupo participativo, envolvendo toda a comunidade. Os moradores precisam ter consciência dos eventos climáticos. Isso exige uma mudança de paradigma. É preciso começar pela educação, nas escolas, nas famílias, nas associações. Somente assim a prevenção e o enfrentamento se tornam mais eficazes.
Como era e como foi estruturada a Defesa Civil durante sua gestão?
Era uma estrutura enxuta, com poucos recursos e muita dependência de articulações voluntárias. Mesmo assim, conseguimos implementar planos de resposta e articulação com outras esferas do poder público. Mas reforço: não é possível fazer esse trabalho sozinho. O envolvimento da sociedade e o apoio técnico são fundamentais. Acredito que nas últimas gestões houve avanços.
A população estava preparada para o que aconteceu?
Não. Ninguém estava. Nem nós, que estávamos na linha de frente, esperávamos algo tão devastador. Foi um cenário de guerra. Mas acredito que, a partir dessas tragédias, as pessoas começaram a entender a importância da prevenção, da evacuação, dos abrigos e de saber como agir em momentos críticos.
Você segue envolvido com a Defesa Civil?
Embora eu tenha encerrado meu ciclo como coordenador no fim de 2024, continuo participando de reuniões e apoiando os novos integrantes. Fizemos os encontros de transição onde fornecemos todas as informações necessárias. Compartilho minha experiência e tento ajudar na formação de uma rede de colaboração mais ampla.
O que precisa mudar no futuro da Defesa Civil municipal?
Investimento em capacitação, estrutura e principalmente em educação comunitária. A população precisa ser parte ativa do processo. Precisamos de simulados, treinamentos e campanhas permanentes. A prevenção tem que ser uma cultura.
Qual foi o momento mais marcante desses anos de atuação?
Sem dúvida, os dias em que o resgate era feito com ajuda de barcos, caminhões e pessoas com o que tinham à disposição. Ver a solidariedade se sobrepor ao caos foi algo que nunca vou esquecer.