“É preciso mudar o paradigma da proteção e do trabalho exercido pela Defesa Civil”

ABRE ASPAS

“É preciso mudar o paradigma da proteção e do trabalho exercido pela Defesa Civil”

Policial militar aposentado, Valdecir Leandro Crescêncio, 52 anos, esteve à frente da Coordenadoria Municipal da Defesa Civil de Arroio do Meio entre 2021 e 31 de dezembro de 2024. Com ampla experiência nas enchentes que assolaram o município, especialmente nos episódios de setembro de 2023 e maio de 2024, Crescêncio destaca a importância do trabalho em equipe e reforça a necessidade de educação e preparação da comunidade para eventos climáticos extremos. Mesmo fora do cargo, continua contribuindo com os novos coordenadores e participando ativamente dos debates sobre prevenção e resposta a desastres

“É preciso mudar o paradigma da proteção e do trabalho exercido pela Defesa Civil”
FOTO: GABRIEL SANTOS

Durante as enchentes, de setembro de 2023 e maio de 2024 o que foi mais difícil?

Foram várias situações difíceis. Mas, em maio, a maior dificuldade foi o isolamento do município. Dependíamos muito da ajuda externa e as pessoas não conseguiam mais chegar aqui, por conta da elevação dos rios, queda de pontes e outros fatores. Nossa cidade também estava sem atendimento dos bombeiros, o que dificultou ainda mais os resgates. Felizmente, tivemos muitos voluntários, verdadeiros anjos, que ajudaram nas remoções e no transporte de pessoas de um lado para o outro.

O que a experiência dessas tragédias ensina?

A principal lição é que a Defesa Civil municipal não pode funcionar com apenas uma pessoa. Ela precisa ser composta por um grupo participativo, envolvendo toda a comunidade. Os moradores precisam ter consciência dos eventos climáticos. Isso exige uma mudança de paradigma. É preciso começar pela educação, nas escolas, nas famílias, nas associações. Somente assim a prevenção e o enfrentamento se tornam mais eficazes.

Como era e como foi estruturada a Defesa Civil durante sua gestão?

Era uma estrutura enxuta, com poucos recursos e muita dependência de articulações voluntárias. Mesmo assim, conseguimos implementar planos de resposta e articulação com outras esferas do poder público. Mas reforço: não é possível fazer esse trabalho sozinho. O envolvimento da sociedade e o apoio técnico são fundamentais. Acredito que nas últimas gestões houve avanços.

A população estava preparada para o que aconteceu?

Não. Ninguém estava. Nem nós, que estávamos na linha de frente, esperávamos algo tão devastador. Foi um cenário de guerra. Mas acredito que, a partir dessas tragédias, as pessoas começaram a entender a importância da prevenção, da evacuação, dos abrigos e de saber como agir em momentos críticos.

Você segue envolvido com a Defesa Civil?

Embora eu tenha encerrado meu ciclo como coordenador no fim de 2024, continuo participando de reuniões e apoiando os novos integrantes. Fizemos os encontros de transição onde fornecemos todas as informações necessárias. Compartilho minha experiência e tento ajudar na formação de uma rede de colaboração mais ampla.

O que precisa mudar no futuro da Defesa Civil municipal?

Investimento em capacitação, estrutura e principalmente em educação comunitária. A população precisa ser parte ativa do processo. Precisamos de simulados, treinamentos e campanhas permanentes. A prevenção tem que ser uma cultura.

Qual foi o momento mais marcante desses anos de atuação?

Sem dúvida, os dias em que o resgate era feito com ajuda de barcos, caminhões e pessoas com o que tinham à disposição. Ver a solidariedade se sobrepor ao caos foi algo que nunca vou esquecer.

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