S eja por graças recebidas, por devoção ou pela aventura, o complexo tem atraído visitantes desde o início da obra.
Izabel Maria Boni, 59, é uma delas. Natural de Guaporé fez o trajeto até o monumento três vezes, sempre motivada por alguma promessa. Na primeira vez, incentivou o grupo de caminhantes de e organizou a logística, com ônibus, almoço e bênçãos. Ela conta que a saída de Guaporé permite que eles façam um percurso de Cristo a Cristo, contando com o monumento religioso da própria cidade.
Na época, foram entre 70 e 72 quilômetros percorridos. Iza, como é conhecida, conta que no primeiro dia, a caminhada foi até Muçum e, no segundo dia, foi o restante do caminho até o Cristo Protetor.
“Cada um se prepara do seu jeito. Pra mim, foi uma caminhada cheia de desafios, em uma estrada de chão e em um dia bastante quente”. Em um momento, caiu no caminho. A lesão lhe tirou da caminhada. Precisou seguir de carro para o momento de chegada dos peregrinos. O incidente não impediu que ela voltasse para contemplar o Cristo.
“Em todas as caminhadas que eu participei a primeira sempre foi uma promessa e as demais sempre foram para agradecer e rezar para outras pessoas que precisam”, relata.
Iza afirma que a ideia é continuar fazendo o caminho todos os anos. “Quando eu retorno de uma caminhada assim é uma benção, é como se eu estivesse nascendo outra vez”.
A peregrina conta também ter feito 10 vezes o caminho até o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha, e outras 10 até a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, em Pulador.
Primeiro visitante
A neblina densa da manhã de sábado do dia 15 de maio de 2021, quase escondeu o destino que mudaria para sempre a vida do ciclista Carlos Wallauer. O que começou como um pedal rotineiro pelo Vale, transformou-se em um marco: Wallauer tornou-se no primeiro visitante oficial do Cristo Protetor de Encantado.
Então com 37 anos, saiu de Colinas como fazia todos os sábados há 20 anos. “Era um trajeto habitual até Roca Sales, mas resolvi esticar quando vi a placa indicando o Cristo Protetor”, conta. O ciclista, que morou no Rio de Janeiro e conhecia bem o Cristo Redentor, queria comparar as obras.
A subida de 8 quilômetros foi um desafio maior que o esperado. “O vento cortante e a neblina tornavam cada pedalada mais difícil. Cheguei exausto ao portão principal, onde tinha uma placa de entrada proibida”, lembra. Foi quando avistou barracas improvisadas vendendo souvenirs. Ao comprar um chaveiro, descobriu, por acaso, que poderia entrar no complexo.
Ao ser recebido pelas guias, descobriu ter sido o primeiro visitante oficial. O bilhete “#000001” custou R$ 20, tornou-se um documento histórico.
“Confesso que fiquei emocionado, mesmo sendo ateu”, revela Wallauer. “A magnitude da obra, saber que estava inaugurando esse momento. Foi algo maior que religião, era sobre a capacidade humana de criar e se superar”.
Três anos depois, o ingresso está emoldurado na parede da sala de Wallauer. “Guardo como lembrança de que as melhores coisas da vida muitas vezes chegam sem avisar”, reflete.
ENTREVISTA
Vanessa Goldoni, diretora de Logística do Cristo Protetor de Encantado
“O Cristo Protetor é um abraço”
A Hora – Você esteve com o Papa Francisco levando a mão direita do Cristo para ser abençoada. Como foi o momento?
Vanessa Goldoni – De profunda emoção e responsabilidade. Senti como se não fosse apenas eu e os demais ali, mas toda a comunidade que sonhou, lutou e acreditou nessa obra. O peso simbólico dessa entrega foi além do material; foi a bênção sobre um projeto de fé, união e esperança. Quando o Papa tocou aquele fragmento, ele abençoou a Associação Amigos de Cristo e todas as pessoas envolvidas, cada doador, cada trabalhador, cada peregrino, cada devoto que vê no Cristo Protetor um símbolo de acolhimento.
Como foi a adesão e doações da comunidade?
Vanessa – Cada doação carregava uma história, um significado. Mas uma que me marcou profundamente foi a de uma senhora simples, que doou uma pequena quantia e disse: “É pouco, mas é de coração, porque quero que esse Cristo proteja meus netos.” Isso mostrou que o projeto não era sobre dinheiro, mas sobre fé e pertencimento.
Como explica o significado da obra?
Vanessa – O Cristo Protetor é um abraço. Ele representa acolhimento, fé e a força de uma comunidade que não desistiu. Ele transcende o ferro e o concreto, não é apenas um monumento, mas um símbolo de superação, de retomada, um ponto de encontro entre o divino e o humano. É a materialização da crença de que juntos somos capazes de realizar o impossível.
O que essa experiência te ensinou sobre fé, comunidade e perseverança?
Vanessa – Gratidão. Essa jornada me ensinou que quando as pessoas se unem por um propósito maior, milagres acontecem. Gratidão pela fé que moveu cada um, pela força da comunidade que não desistiu, pela perseverança que transformou um sonho em realidade.