“O Cristo Protetor não é um ponto final, mas um começo, um portal.” A afirmação do presidente da Associação de Turismo do Vale do Taquari (Amturvales), Rafael Fontana, sintetiza a visão estratégica para os próximos anos. Na avaliação dele, a região deve capitalizar o novo status de destino turístico religioso e unir roteiros gastronômicos, passeios e paisagens para oferecer uma experiência completa aos visitantes.
Pelo acompanhamento da Amturvales, o status atual do Vale está entre os cinco principais destinos do RS. “No momento temos a oportunidade para junto com outras regiões, buscarmos os turistas dos demais estados do Brasil”, diz Fontana e complementa: “temos 47 atrativos mapeados em 15 municípios. A meta é criar pacotes que levem os visitantes do Cristo às vinícolas de Garibaldi, às cascatas da região alta e aos eventos gastronômicos de Nova Bréscia. Já estamos formatando roteiros temáticos com operadoras.”
“O Cristo é o atual indutor do turismo regional”
A Hora – Com as inundações e os impactos na visitação, como é possível reestabelecer as atrações? Há algum tipo de apoio governamental ou linhas de crédito específicas para os empreendimentos turísticos atingidos?
Fontana – Os episódios climáticos extremos retardaram muitos avanços para o setor. Porém os empreendedores foram resilientes e persistentes. Estão prontos para a retomada. Precisamos fortalecer a promoção e divulgação do destino turístico Vale Taquari para outras regiões do RS e do país. Em termos de políticas públicas, precisamos que o governo federal destine mais recursos do Fungetur (Fundo Geral de Turismo) para financiar empreendimentos no Vale.
O turismo exige profissionais qualificados em hospitalidade, gastronomia e receptivo. Como está a demanda por mão de obra no setor?
Fontana – O setor enfrenta as mesmas dificuldades das demais atividades econômicas, falta de mão-de-obra. Estamos buscando alternativas para auxiliar as empresas na contratação e com parcerias cursos de qualificação para as diversas áreas do setor turístico. Teremos ainda neste semestre cursos para guias, condutores locais e boas práticas de produção de alimentos.
Como a região pode capitalizar a visibilidade de Encantado para fortalecer o turismo em outros municípios?
Fontana – O Cristo Protetor é o atual indutor do turismo regional. A partir dele sabemos que estão sendo projetados outros atrativos importantes e expressivos que irão contribuir para fortalecer o interesse do turista em nos visitar. Vivemos um momento de maturidade entre o trade turístico, integrando os diversos atrativos naturais históricos e gastronômicos para oferecer uma experiência completa ao visitante. Essa conexão está acontecendo e é necessária.
Estamos fazendo levantamento junto aos municípios e empreendedores para estruturar um caderno de demandas em infraestrutura, para busca de recursos que viabilizem esses investimentos.
“O Cristo nos projetou, mais do que isso, nos uniu e fortaleceu como comunidade”

Jonas Calvi – prefeito de Encantado
A Hora – Antes do Cristo, como Encantado era conhecida? E agora, como o mundo passará a enxergar a cidade? Essa obra mudou a autoestima da população?
Jonas Calvi – A cidade já era reconhecida pela força na agricultura, pelas indústrias, pela Suinofest e pelo Canto da Lagoa. Carregamos com orgulho o título de Capital do Ouro Branco. Mas, com o Cristo Protetor, ganhamos uma nova dimensão. A frase mais emblemática de Adroaldo Conzatti resume isso: “a autoestima quando compartilhada é um bem que se multiplica”. Hoje, o mundo olha para Encantado com admiração, e a nossa gente passou a se ver com mais orgulho. O Cristo nos projetou, mais do que isso, nos uniu e fortaleceu como comunidade.
Para o futuro, no que se refere ao sentimento da população. Como a obra pode interferir no pertencimento das novas gerações?
Calvi – Quando vemos as escolas se mobilizando, as crianças estudando sobre o monumento, entendemos que o Cristo já faz parte da identidade das novas gerações. Ele desperta esse pertencimento, de orgulho pelo lugar onde vivem. E mais do que isso: abre portas. O turismo que cresce traz novas empresas, novos empregos, novas perspectivas. Isso tudo ajuda a construir um futuro com mais oportunidades para nossos jovens.
O fluxo de visitantes já mudou a rotina da cidade. Como equilibrar o crescimento econômico com a preservação da qualidade de vida?
Calvi – As ações de crescimento econômico equilibradas estão alinhadas com o planejamento que Encantado quer. Investimentos em infraestrutura, tais como asfalto comunitário, saúde, educação e geração de emprego e renda, refletem diretamente na qualidade de vida da comunidade.
Com o fortalecimento do turismo, diversos empreendimentos surgiram, assim proporcionando aos moradores novas opções de lazer, passeios, diversão e novas experiências. As novas opções de trabalho que estão surgindo fazem com que a renda familiar seja maior.
“A região precisa entender como integrar outros projetos e estruturas”

Mateus Trojan – prefeito de Muçum e presidente da Associação dos Municípios do Alto Taquari (Amat)
A Hora – Como os prefeitos do Alto Taquari estão trabalhando para transformar o Cristo Protetor em um projeto de desenvolvimento regional?
Mateus Trojan – O Cristo Protetor é um “carro-chefe” do turismo regional. Eu diria que, junto com o Trem dos Vales, temporariamente suspenso, são os dois maiores projetos turísticos do Vale do Taquari. A região precisa entender como integrar outros projetos e estruturas, qualificar a sinalização e os espaços públicos, captar recursos para a consolidação e aprimoramento da infraestrutura regional. Destaco a recuperação das ferrovias e a Rota do Pão e do Vinho.
Como a associação dos prefeitos planeja garantir condições para receber os turistas?
Trojan – Temos cobrado os órgãos responsáveis pela evolução de obras e construções projetadas. Destaco, aqui, a dificuldade para dar velocidade à Ponte de Santa Bárbara, entre São Valentim do Sul e Santa Tereza. Também entra aí a obra de recuperação da ERS-332, no trecho que liga Encantado a Arvorezinha, bem como a pavimentação da ERS-129 no trecho de Roca Sales.
Em termos de captação, mantemos a pressão política para a recursos para a Rota do Pão e do Vinho, permitindo uma ligação mais rápida entre o Vale do Taquari e a Serra Gaúcha. Ainda, temos tratado com muita maturidade, seriedade e firmeza a necessidade de melhorar muito a proposta de concessão do Bloco 2 das rodovias estaduais. Não podemos admitir tamanha tarifação prevista, freando a recuperação da região e o fluxo turístico.
Qual o paralelo entre Cristo Protetor e a reconstrução de Muçum?
Trojan – A ligação do Cristo com outras iniciativas estava em evolução antes dos desastres. Naturalmente, o tamanho do impacto da tragédia atrasou o processo. Já a memória das inundações e o processo de reconstrução deve se tornar, ao longo do tempo, também uma espécie de produto para recebimento de visitantes e até mesmo excursões de aprendizagem sobre os desastres naturais. Essa pauta está sendo tratada em nível microrregional por diferentes frentes, e deve ser aprofundada ao longo dos próximos meses e anos, por meio da consolidação de monumentos, memoriais, museus e registros dos impactos, mas também da recuperação das cidades.