Ações impulsionam bairros. Gargalos desafiam futuro

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Ações impulsionam bairros. Gargalos desafiam futuro

Alto do Parque e São Cristóvão estiveram no centro do debate promovido pelo A Hora no Parque do Imigrante. Participantes abordaram aspectos históricos, momento atual, transformações e problemas com a mobilidade urbana

Ações impulsionam bairros. Gargalos desafiam futuro
Alberto Müller tem movimento constante, mas boa fluidez. (Foto: arquivo)

Atenção à mobilidade urbana, melhorias estruturais e momento econômico da cidade, com destaque para investimentos anunciados, alguns em execução e outros finalizados. Temas que nortearam o segundo debate temático de 2025 do projeto “Lajeado – Um novo olhar sobre os Bairros”, ocorrido na entrada do Parque do Imigrante, no bairro Alto do Parque.

Símbolo de um dos bairros mais pujantes da cidade, o parque sedia eventos como a Expovale + Construmóbil e tem um ousado projeto de reforma em vias de ser executado. Por isso, foi o local escolhido para a atração promovida pelo Grupo A Hora, dentro do programa “Conexão Regional”. Além do Alto do Parque, o debate também teve como foco o desenvolvimento do São Cristóvão.

Juntos, os dois bairros vizinhos somam quase 9 mil habitantes e sediam importantes empreendimentos, que contribuem para a geração de emprego e renda na cidade. Além disso, são cortados por vias que os conectam a partes diversas da cidade, como as avenidas Alberto Müller e Senador Alberto Pasqualini, e estão sediados às margens de rodovias importantes.

Vice-presidente da Associação de Moradores do São Cristóvão, Ademir Schneider representou a comunidade local, enquanto o presidente da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), Joni Zagonel, abordou com mais ênfase o Parque do Imigrante e o momento do Alto do Parque.

Pelo Poder Executivo, o secretário de Planejamento, Urbanismo e Mobilidade, Alex Schmitt, apresentou planos e ideias para os bairros. Por fim, o diretor do Centro de Educação Básica Gustavo Adolfo, Edson Wiethölter deu sua contribuição sobre o São Cristóvão, bairro onde o colégio está sediado, e também abordou planos futuros.

Reflexo das mudanças

O momento do Alto do Parque tem despertado cada vez mais o interesse do setor da construção civil, impulsionado pelas mudanças recentes no Plano Diretor do município. Tradicionalmente ocupado por grandes residências em terrenos amplos, o bairro começa a vivenciar um novo momento.

Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), Joni Zagonel, o processo é reflexo natural do crescimento da cidade. “O espaço público não é estático. Com o crescimento que Lajeado tem experimentado nos últimos anos, é natural que as transformações aconteçam também aqui. A Avenida Alberto Müller, por exemplo, já é um eixo importante”, observa.

Problemas de mobilidade são frequentes no São Cristóvão (Foto: Mateus Souza)

Zagonel destaca que o bairro conta com uma infraestrutura consolidada, o que torna a área ainda mais atrativa. “Temos vias largas, bom fluxo de veículos e uma estrutura que exige pouco investimento adicional. Quando se permite uma maior densidade de ocupação, com construções verticais, o valor do terreno se torna o principal atrativo, mais do que a casa que está ali construída”.

Ele frisa que há uma procura cada vez menor por casas grandes e antigas. “Temos terrenos nobres, mas muitas das casas já têm uma idade de uso e não se alinham mais ao desejo do consumidor atual, que prefere investir o mesmo valor em projetos mais atualizados, mesmo que em regiões mais afastadas”, explica. A possibilidade de verticalização pode, segundo ele, reverter essa lógica.

Tradição e crescimento

Ademir Schneider conhece cada rua, cada esquina do São Cristóvão. Vice-presidente da Associação de Moradores e morador do bairro há mais de seis décadas, viu o bairro nascer, crescer e se transformar em uma das regiões mais populosas e valorizadas de Lajeado. Quando era criança, “não havia quase nada aqui, era tudo mato e virou cidade”, como ele mesmo costuma dizer.

Mas o progresso também trouxe desafios. “A gente caçava no mato onde hoje passa a BR-386. O que era tudo mato virou cidade. Quando construíram as rodovias, o bairro foi dividido. Antes, todo mundo se conhecia, era fácil circular. Hoje é diferente. Aquilo que era uma rua direta virou túnel, virou desvio”, comenta, se referindo à divisa com o bairro Santo André, pela ERS-130.

Ademir aponta a mobilidade urbana como o principal problema enfrentado por moradores atualmente. Cita que, onde antes era tranquilo, hoje é perigoso caminhar. “As ruas estão cheias de carros, buracos, calçadas ruins. E agora estão construindo mais prédios. Mas não tem espaço físico para tanta coisa”, alerta.

Mesmo com os gargalos, Schneider destaca que o São Cristóvão é um bairro valorizado e querido e destaca as funcionalidades. “Tem mercado, shopping, escolas, serviços de saúde, tem tudo. O novo posto e a central de polícia vão ajudar muito. Mas a gente precisa de um olhar estratégico, se não o desenvolvimento acaba atropelando a qualidade de vida”.

Papel importante

Há quase seis décadas instalado no São Cristóvão, o Centro de Educação Básica Gustavo Adolfo se consolidou como uma das principais instituições de ensino do Vale. O diretor Edson Wiethölter detalhou como a escola tem atuado para promover transformações no território onde está inserida.

Dois projetos recentes ganham destaque entre os estudantes do ensino médio: o Empreenda-se, no qual os alunos do segundo ano desenvolvem empresas fictícias baseadas em fundamentos científicos e mercadológicos, e uma nova iniciativa com os alunos do primeiro ano, que busca propor soluções para o futuro do município.

“Eles vão estudar o município de Lajeado e apresentar alternativas de desenvolvimento. Queremos envolver os secretários municipais, dialogar com a prefeita e apresentar os resultados ainda no primeiro semestre”, explica.

A atuação da escola, no entanto, vai além dos muros. Pesquisas internas analisam o crescimento imobiliário do bairro, como o aumento de edifícios e residências, dados essenciais para decisões estratégicas da instituição.

“A partir dessas análises e da escuta da comunidade, a escola avalia a criação de uma terceira unidade. Existe uma demanda muito forte da nossa comunidade por atendimento desde a educação infantil, inclusive berçário. Estamos próximos de anunciar esse novo projeto”, revela o diretor, mantendo em sigilo os detalhes sobre o local da nova escola.

Atualmente, o GA é formado por duas unidades: o Colégio Sinodal Gustavo Adolfo, que atende da educação infantil até o sétimo ano, e o Centro de Ensino Médio Gustavo Adolfo, localizado no campus da Univates. Ambas estão passando por melhorias significativas, como a instalação de geradores e reservas de água.

Expansão urbana

Ao ser questionado sobre as possibilidades de expansão urbana no Alto do Parque, Alex Schmitt cita que o atual Plano Diretor de Lajeado já trouxe avanços importantes nesse sentido. “O bairro já comporta atividades de baixo impacto, como consultórios, escritórios e serviços. Agora, a avenida principal tem previsão para prédios comerciais. Já há projetos aprovados e inaugurados nessa área”.

Embora não haja previsão de mudança na volumetria (altura e densidade de construções permitidas) nas zonas residenciais mais restritivas, o secretário ressaltou que o bairro tem atraído o olhar do setor imobiliário.

Ele mesmo, com passagem anterior por esse ramo, destacou que o diálogo com a comunidade e com os empreendedores será essencial para qualquer nova proposta de readequação urbanística. “Antes de qualquer planejamento, precisamos escutar as pessoas. São elas que vivem a cidade no dia a dia”, finalizou.

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