Na sua infância, você sentia que pendia para trabalhar com educação?
Sou natural de Taquari e há 12 anos resido em Lajeado. Fui uma menina que sonhava, imaginava e conversava sozinha. Ficava as dando aula para as bonecas, e amigos imaginários. Aos 4 anos, meus vizinhos iam à escola. Eu chorava muito porque também queria ir. Passava o dia com a mochila nas costas, lápis, caderno, folhas-querendo fazer parte da escola.
Qual o desafio atual da educação?
A educação sempre foi um desafio. O desafio da educação nos dias de hoje é o tempo acelerado, e os fluxos de sala de aula também, reflexo da sociedade.
Essa rapidez acaba fazendo com que a gente perca coisas essenciais. Precisamos retomar a ideia de que a escola é feita de pessoas para as pessoas. Na escola a gente precisa ter tempo pra falar, escutar, olhar nos olhos e produzir de forma autônoma e autoral.
O que significa pra ti esse tempo acelerado? Precisaríamos de uma “educação lenta”?
Essa educação lenta seria uma sala de aula onde a qualidade seria mais valorizado do que a quantidade de coisas que o professor executa com os estudantes. O planejamento do professor precisa estar muito centrado às necessidades daqueles estudantes. Refletir sobre o que de fato esse estudante precisa aprender. Pois a internet traz o conhecimento. Mas o que pesquisar, perguntar e onde utilizar? Além disso, precisamos pensar na autonomia do estudante. Ele pode ser um pesquisador. A autonomia se perde pelo excesso de regras e engessamento, gerando reprodução e mecanização por quantidade.
Podes oferecer um exemplo de “matéria lenta”?
Pensando em um exemplo sobre História do Brasil: eu pediria para os alunos trazerem uma pesquisa prévia sobre o período colonial, por exemplo. Dividiria a turma em grupos. Eles pesquisariam antecipadamente e montariam mapas mentais das principais ideias e me debruçaria com eles a circular o ponto de vista deles.
Não é reduzir o conhecimento, é continuar explorando todo o Brasil. Ao invés disso, a gente gasta aulas e aulas, passando no quadro, textos que estão prontos. A professora pede: “copia rápido”. Isso não gera tempo para se gastar na discussão e na discussão, nas boas perguntas, nos problemas que aconteceu no Brasil Colônia e que ainda se repetem hoje. Precisamos de uma educação mais ativa, fazendo o aluno pensar e não apenas consumir o discurso da professora.
O que seriam aulas “com interação”?
Uma aula com mais interação é onde a pesquisa antecede o conteúdo. Ou uma explosão de ideias mostrando que nós sabemos muito sobre muitas coisas, valorizando esse conhecimento. Claro que o professor, dentro desse debate, vai levar referências, sugerir ideias. Mas o aluno vai ser levado a ser um criador.
Como a educação pode competir com o TikTok?
Eu acho que não é uma competição. Eu acho que a gente tem que pensar como uma ferramenta como o TikTok pode me fazer pensar sobre a educação? O que o TikTok me diz sobre o ensino? O que o TikTok me diz sobre a vida? Nem tudo é um vídeo de 30 segundos, nem tudo é efêmero. Eu perguntaria para os meus estudantes se a vida se resume a um vídeo de 30 segundos. E a vida de ninguém se resume a um vídeo de 30 segundos ou uma sequência disso. A vida é muito mais que isso. Isso é apenas um recorte. E eu acho que a educação tem esse papel refletindo este tempo e espaço para alertar as crianças e os adultos também. Me incluo nisso. A vida não é uma selfie. A vida não é um vídeo do TikTok.