Noites mal dormidas, roncos durante o sono e dias sem disposição. Foram esses os motivos que levaram o lajeadense Antônio Inácio Ruwer, 71, a procurar ajuda. Há 10 anos, ele utiliza um aparelho, chamado Cpap, que auxilia na oxigenação quando vai dormir. Também faz uma década que diz se sentir mais descansado quando acorda pela manhã.
A rotina corrida como engenheiro mecânico fazia com que Ruwer dormisse menos horas por noite e fosse para a cama cansado. Hoje, aposentado, mudou alguns hábitos e afirma que o Cpap é um companheiro diário, inclusive quando viaja. “Parei de roncar e passei a acordar mais leve. Mas se não uso, tudo volta”, comenta.
O aparelho também foi recomendado para a saúde, já que exames do sono identificaram muitas apneias – paradas respiratórias – durante uma noite de sono. “A apneia é perigosa. Cada vez que a pessoa volta a respirar, o coração tem que trabalhar em dobro. Eu tinha mais de 50 apneias por noite e estava sempre cansado”, reforça.
De tempos em tempos, as noites de sono de Ruwer são monitoradas pelos médicos e algum ajuste pode ser feito no aparelho.
Riscos à saúde
A identificação de distúrbios ou o mapeamento do sono podem ser feitos por meio de exames neurológicos. Entre eles, a polissonografia. Na região, uma das únicas clínicas que faz o exame é a Medicina do Sono, em Lajeado. O médico neurologista e especialista na área, Roberto Wagner, destaca que o sono é um momento essencial da vida, sendo o principal repositório de energias.

Os distúrbios do sono podem ser detectados por meio de exames neurológicos
O profissional explica que o corpo humano produz outros hormônios à medida que diminui a intensidade do sol durante o dia. “São vários hormônios que estão envolvidos nesse processo e que fazem com que o corpo humano, as estruturas mais profundas do nosso cérebro, mudem o comportamento”.
Wagner ressalta a importância de respeitar esse período para dormir. Ele percebe que a rotina inversa, com muitas pessoas trabalhando à noite e dormindo durante o dia, tem como causa sonolências excessivas diurnas, além do cansaço.
Apesar do ronco ser um dos sintomas mais evidentes de distúrbios do sono, as apneias podem ocorrer independente desse ronco. “Isso a gente percebe nos exames de polissonografia. A apneia e o ronco são as principais queixas, mas depois vem a insônia, motivo de estudos muito intensos por parte dos laboratórios de pesquisa do sono”, destaca o especialista.
Ele explica que a apneia ocorre quando há paradas na respiração e aumento de CO2 no sangue. Com esse aumento, o cérebro faz a pessoa acordar, mesmo que talvez não perceba, os chamados microdespertares. Esses episódios, quando ocorrem com frequência, também podem causar outros problemas, incluindo deficiências cardíacas e cerebrais. O médico ainda alerta para riscos da apneia, como maiores chances de provocar morte súbita, infarto agudo do miocárdio ou AVC. Nas crianças, ainda afirma que o sono tem a função de desenvolvimento físico e mental.
“Ter qualidade de sono é, principalmente, a pessoa acordar e saber que foi satisfatória aquela noite de sono. Ela tem que ter um período entre 6h e 8h e ter descansado”.
Rotina
A qualidade do sono é essencial para a saúde, destaca a enfermeira especialista em distúrbios do sono, Marieda Rampanelli Wagner. No entanto, diversos distúrbios podem comprometer essa função.
Entre os mais comuns, estão as parassonias, que incluem comportamentos involuntários durante o sono, como o sonambulismo. A privação de sono também afeta a cognição e o humor. “Um paciente que dorme mal pode apresentar irritabilidade, falta de memória e dificuldades de atenção”, alerta.
Para evitar esses impactos, sugere a higiene do sono, com ambientes favoráveis ao descanso, para melhorar a qualidade do sono. “É essencial ter uma rotina de horários para dormir e acordar, manter o ambiente escuro e silencioso, evitar telas antes de dormir e não consumir cafeína ou bebidas alcoólicas até seis horas antes”, orienta Marieda.
A luz azul emitida por dispositivos eletrônicos também interfere, já que ela “engana o cérebro”, fazendo-o interpretar que ainda é dia.
Bruxismo
O bruxismo é outro distúrbio que exige atenção. O transtorno consiste em apertar ou ranger os dentes de forma involuntária, principalmente durante o sono. Mas também pode ocorrer durante o dia. Entre as princiṕais causas, estão estresse, ansiedade ou depressão, distúrbios neurológicos, histórico familiar, consumo de cafeína e hábitos diários.
A dentista, especialista em dentística restauradora, Maria Eduarda Ferri, afirma que o problema tem sido cada vez mais comum. “Eu digo, só não tem bruxismo quem não vai ao dentista”. Ela afirma que, em especial, depois da pandemia, se percebeu um surto de bruxismo muito forte, incluindo consequências como a fratura de dente.

Maria Eduarda Ferri,
dentista
Segundo Eduarda, o bruxismo não tem uma causa odontológica. Sua origem ocorre no sistema nervoso central. “A gente percebe uma ansiedade muito grande nesses pacientes e a consequência muito forte nos dentes. Geralmente o dentista é o primeiro que o paciente busca por uma fratura”.
Os profissionais da área percebem, ainda antes da fratura, um desgaste dentário, assim como marcas nas bochechas e na língua. Pacientes também relatam dores de cabeça e de ouvido.
“O bruxismo é um comportamento e não tem tratamento, o dentista nunca vai diagnosticar ou tratar, a gente vai controlar as consequências”, alerta a dentista. Entre as formas de controle, ela cita as placas dentárias rígidas utilizadas durante a noite. Em alguns casos, também é necessário fisioterapia. A conscientização é outra medida de controle.