O dia mais esperado do ano pela comunidade regional chega sem a entrega da ponte da ERS-130. Mas com uma data confirmada pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) para liberação do tráfego de veículos na nova estrutura. A tarde da próxima sexta-feira, 4, vai simbolizar a reconexão definitiva do Vale do Taquari, quase um ano após a catástrofe climática de maio de 2024.
Depois de um rápido processo para definição da empresa responsável, desconfianças de líderes regionais, imprevistos climáticos no começo da obra e um prazo inicial frustrado, os trabalhos às margens do Rio Forqueta avançaram de forma significativa desde o fim do ano passado. Agora, a estrutura está quase pronta, com alguns detalhes ainda a serem resolvidos.
Os trabalhos nessa semana ocorreram em três frentes. Do lado de Arroio do Meio, o aterro que dá acesso à ponte foi concluído. No lado de Lajeado, a Construtora Giovanella avançou na obra do aterro. Enquanto isso, equipes da Engedal concluiram na noite dessa sexta-feira, 28, o lançamento das lajes pré-moldadas.
A expectativa é de que, num primeiro momento, sejam liberados apenas veículos leves na ponte da 130. O governador Eduardo Leite participará do ato de inauguração, possivelmente nas primeiras horas da tarde. Já o fluxo de veículos pesados deve ser permitido nos dias seguintes, ainda sem uma data definida.
O aterro de Lajeado terá a colocação do asfalto neste sábado, segundo o engenheiro da Giovanella, Cristiano Kirst. “Estamos chegando no ponto final da obra. Hoje terminamos a etapa da base, e amanhã fazemos o revestimento. Entre domingo, segunda e terça-feira fazemos o último pedaço, que vamos deixar para a Engedal terminar a parte da cabeceira”, frisa.

Entrega da nova travessia ocorrerá 11 meses após enchente do Forqueta levar antiga estrutura. (Foto: arquivo A Hora
Impacto econômico e expectativas
A expectativa dos empresários para a entrega da nova ponte cresce à medida que as obras avançam. A reconexão é considerada fundamental entre os empresários, que há 11 meses sofrem com os impactos econômicos e logísticos. O empresário Márcio Majolo, dono de uma marcenaria situada a 200 metros da ponte antiga e da nova construção, acompanhou de perto cada etapa da obra.
Para Majolo, a falta da estrutura causou grandes transtornos. Seus principais clientes e fornecedores estão em Lajeado, incluindo fábricas de portas e compensados. Antes, o trajeto levava três minutos; agora, pode chegar a uma hora e meia. “Tivemos um prejuízo de R$ 500 por semana. Não vejo a hora de essa ponte ficar pronta”, desabafa.
Além das dificuldades logísticas, cita foi atingido pela enchente de setembro, tanto na empresa quanto em sua residência. Ele havia transferido a marcenaria do centro da cidade para Barra da Forqueta, mas mesmo assim sofreu os impactos da cheia. “O futuro da empresa e da cidade depende dessa ponte. A comunidade aguarda ansiosa pela liberação”, afirma.
Outro empresário afetado é Altair Hammes, proprietário de uma empresa de instalação e manutenção de ar-condicionado para caminhões e ônibus, localizada às margens da ERS-130, em Barra da Forqueta.
Após a enchente, a queda no movimento foi drástica. “A falta de trânsito na rodovia e os desvios alternativos causaram uma redução de 80% no serviço logo após a enchente”, relata. Para minimizar os prejuízos, Hammes firmou uma parceria com uma empresa de Lajeado, permitindo a continuidade dos atendimentos.
Agora, ele aguarda a liberação da ponte para que o fluxo de veículos e clientes seja retomado. “A rodovia ficou sem movimento por muito tempo. Espero que o trânsito seja restabelecido logo e que possamos voltar à normalidade”, conclui.
“Segunda mais importante”
Diretor da Fetransul e empresário, Diego Tomasi lembra que, para além da reconexão do Vale, a nova ponte também representa a retomada da ligação com a região Norte do RS, sobretudo cidades como Serafina Corrêa, Casca e Marau. Por isso, entende que o transporte de cargas é o mais beneficiado com a estrutura que está prestes a ser inaugurada.
“Eu diria que é a segunda ponte mais importante da nossa região. Então, essa conexão é relevante em termos de logística e transporte de cargas. Tem dois fatores determinantes, que eram o tempo de demora de viagem e o aumento da quilometragem. Isso nos prejudicou muito. As transportadoras estavam evitando ao máximo essa rota, e isso gerou um desaquecimento na nossa economia”, frisa.
A retomada da normalidade logística e a reconexão com outras regiões do RS também são destacadas pela presidente do Codevat, Cintia Agostini. Para ela, a obra é fundamental para o Vale dar um passo a mais na retomada econômica, somando-se às obras na BR-386 para deixar a infraestrutura rodoviária mais adequada à realidade regional.
“Estamos falando não apenas do Vale, mas de parte do Estado, que circula por essa rodovia, e que teve sua vida precarizada. Então a gente fala de logística, de mobilidade, trafegabilidade, mas também da vida das pessoas, que estão há um ano nesse prejuízo dos deslocamentos e tiveram suas dinâmicas de vida e de trabalho alteradas”, pontua.
Quebra-galhos
O presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT), Angelo Fontana, reforça a importância da nova ponte, sobretudo por recuperar uma ligação que é considerada a principal entre Lajeado e Arroio do Meio, numa rodovia com importância não apenas para a região, mas também para o Estado.
“Qualquer alternativa que não seja a infraestrutura mais adequada sempre é algo complicado. Hoje, temos quebra-galhos, como a ponte do Exército, a estiva e a ERS-129. Mas não são como a estrada principal. Apesar de toda a demora que levou, entendemos que foi procurado fazer o melhor possível e agora a obra avançou”, frisa.
Em meio a esse processo, Fontana atenta para a importância da região manter a mobilização nas discussões referentes a concessão das rodovias do bloco 2, da qual a ERS-130 faz parte. “Temos quase certeza que o levantamento apresentado pelo Estado [do volume de tráfego] não condiz com a realidade. O movimento deve ser ser medido quando se tem um ir e vir tranquilo na região”.
Da queda à nova estrutura
- 2 DE MAIO
Enchente atinge o ápice no Rio Forqueta. Ponte da ERS-130 é levada pela força das águas. No mesmo dia, a histórica Ponte de Ferro também não resistiu, bem como a travessia entre Marques de Souza e Travesseiro; - 20 DE MAIO
EGR publica edital de licitação para contratação de empresa responsável para a construção da nova ponte. Resultado foi homologado 11 dias depois e, no começo de junho, contrato com a Engedal foi assinado; - 5 DE JUNHO
Com a assinatura da ordem de início dos trabalhos, empresa contratada começa os levantamentos topográficos e hidrológicos do local. As sondagens de solo iniciaram também naquele mês e foram concluídas somente em agosto; - 16 DE JULHO
EGR e Engedal começam a montagem do parque fabril e do canteiro de obras, que foram instalados do lado de Lajeado. Espaço foi concluído no fim de agosto; - 24 DE SETEMBRO
Começa o trabalho de instalação das fundações e estacas cravadas, considerada uma das partes mais complexas da obra. Etapa segue até o fim de outubro; - 28 DE NOVEMBRO
Em meio às críticas de líderes regionais e de um iminente protesto, EGR confirma adiamento do prazo para inauguração da ponte, previsto inicialmente para o Natal de 2024. Nova data é 29 de março de 2025; - 6 DE DEZEMBRO
Começa a construção dos pilares da futura ponte. Conclusão ocorre quase dois meses depois e dá forma à travessia entre as duas cidades; - 21 DE JANEIRO
Engedal conclui a concretagem das vigas, que havia iniciado em novembro. Já o aterro do lado de Arroio do Meio começa a tomar forma; - 5 DE MARÇO
Uma semana depois do previsto, EGR começa o lançamento das vigas. Trabalhos seguem até a segunda quinzena do mês. Já no dia 17, inicia o içamento das lajes pré-moldadas, feito por uma empresa terceirizada; - 25 DE MARÇO
A quatro dias do fim do prazo para conclusão da obra, EGR afirma que entrega da ponte ocorrerá entre os dias 4 e 5 de abril, mas garante que estrutura fica pronta no dia 29. Data de inauguração foi confirmada três dias depois: na tarde do dia 4, com a presença do governador Eduardo Leite.