Valores evangélicos em questão
Em 1964, a Escola Evangélica de Roca Sales foi a única instituição particular da comunidade. Pais matriculavam os filhos, atraídos pela proposta pedagógica, baseada nos valores religiosos e formação acadêmica e cultural.
Foi dentro deste contexto que Suzana Juliana Lohmann Stapenhorst, ingressou na 1 ª Série. “As famílias da sociedade evangélica matriculavam seus filhos na mesma escola”, lembra Suzana, que prestava grande atenção às aulas de Linguagem, Matemática e Estudos Sociais e Naturais, matérias da época. Aos sábados, participava das aulas de canto e alemão, o que tornou sua trajetória diferenciada. “Meus bisavós vieram da Alemanha. Sentia que era importante aprender”, salienta.
As lições em alemão a tornaram bilíngue, ajudando da conversação diária na comunidade e pessoas de outros países. “As aulas de alemão me auxiliaram nas viagens fora do Brasil e nas visitas de pessoas de outros países, que recebemos aqui em casa, em Roca Sales”, afirma.
Os boletins da época, amarelados e escritos à caneta pelos professores, estão guardados com carinho, para lembrar a proeza da aluna, de ter conquistado o primeiro lugar. Ela lembra da emoção do pai. “Quando cheguei em casa com o boletim, meu pai questionou se eu havia passado. Ele viu o boletim e exclamou: você tirou o primeiro lugar. Me pegou no colo e começou a chorar. Eu não sabia porque meu pai estava chorando”.
Suzana aprendeu na escola a importância da educação para viver em sociedade. Essa é uma ação individual que passa a se tornar coletiva. Porque cada aluno deve assimilar noções de respeito, disciplina, organização e boas maneiras. Quando todas essas habilidades se tornam coletivas, o mundo evolui. “Em uma boa escola, se aprende boas maneiras e educação para melhorar a sociedade”.
Aos 15 anos, Suzana se tornou costureira, ofício que desenvolve até hoje. Residente em Roca Sales, conhece a comunidade de ponta a ponta. Criou família, aumentou o círculo de amigos com a habilidade de conversar simpaticamente com todos a quem atende.
Quando chegou a hora de matricular a filha, não pensou duas vezes: a menina Leocardia ingressou no Colégio Evangélico Alberto Torres – antiga Escola Evangélica de Roca Sales. Assim, a costureira viu a filha crescer e se tornar professora na instituição.
De aluna para professora em Roca Sales
Aos 39 anos, Leocardia Luciana Stapenhorst ensina o poder da música no Colégio Evangélico Alberto Torres aos alunos de Roca Sales. Dança e coral fazem parte das lições, além de Educação Física. “São 20 anos sendo professora. A escola é minha segunda casa”.
Nada poderia ser mais verdadeiro. Em 1992, Leocardia ingressou na Escola Evangélica de Roca Sales e descobriu um mundo novo na 1ª Série. “Lembro de minha mãe me dando tchau”, revela. Os professores de antigamente, hoje, são colegas do corpo docente. A coreógrafa e cantora empresta sua voz à Orquestra de Teutônia, de Imigrante e Encantado.
Ela viu a escola de Roca Sales se transformar em Colégio Alberto Torres. Em 2011, o CEAT encampou a unidade, mantendo os pilares como fé cristã, valorização do ser humano e conhecimento científico. Leocardia concluiu o Ensino Médio em 2002 e um ano depois, retornou como regente de coral da escola e depois, agregou a função de professora de Educação Física.
O filho dela, Luís Augusto S. Gheno, está na quarta série e se interessa por futebol. “Família e educação são dois pilares que precisam andar juntos para o crescimento de uma criança”, garante Leocardia, que decidiu ser professora pela forte ligação com crianças.
Na juventude, o pai, pintor, deixava as latas de tinta de lado nos fins de semana, para tocar na banda de música. Ela acompanhava, tocando teclado e cantando. “O pai sempre esteve presente na comunidade e a música me acompanhou”.
Os valores paternos e os pilares da escola a fizeram entender que o futuro do filho estava na mesma escola. “Educação engloba convívio social”, salienta a professora.
Treinando para o futuro
O filho de Leocardia, Luís tem 9 anos e iniciou a quarta série em 2025. Nas aulas no prédio em Roca Sales, Luís socializa com os amigos e aproveita as quadras para jogar futebol, basquete e vôlei. O futebol é o que mais se identifica e espera praticar “até quando adulto”. Com a mãe professora, ele a acompanha para a escola, na ida e volta.
Luís tem ainda muito chão pela frente, precisa driblar testes, matérias e atacar no vestibular. Mas ele sabe: a educação de qualidade é a melhor treinadora para o futuro.