Intensificado pela pandemia e pelas relações de trabalho e convívio cada vez mais digitais e globalizadas, o uso da internet, em especial, das redes sociais, tem sido tema de estudos que relacionam a falta de equilíbrio na utilização das tecnologias, com distúrbios à saúde mental.
Apesar de afetar todas as idades, incluindo crianças e idosos, os maiores sintomas desse uso excessivo das redes sociais são percebidos nos jovens. O assunto foi tema da pesquisa de doutorado da psicóloga gaúcha Ilana Luiz Fermann, doutora em Psicologia Clínica pela Unisinos, e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.
A tese buscou entender esses impactos na vida dos universitários, e foi desenvolvida durante quatro anos. Dois deles foram pré-pandemia, e dois durante a crise sanitária. O estudo ainda resultou na publicação do livro “Uso Nocivo de Internet e Mídias Sociais – Adoecimento Mental e Protocolo de Intervenção Cognitivo-Comportamental”.
Em entrevista ao programa Frente e Verso, da Rádio A Hora 102.9, a psicóloga afirma que a pandemia estreitou as relações das pessoas com as tecnologias e exigiu que, para além do uso das redes para lazer, as ferramentas também fossem utilizadas para trabalho e para desenvolver relações, inclusive, familiares.
“Tanto na minha experiência docente quanto clínica, os alunos vinham trazendo queixas, demandas e sintomas decorrentes dessa temática. O que a gente percebeu é que o uso nocivo da internet pode trazer sintomas que afetem a vida funcional desses universitários e de uma maneira geral, de todos nós”, ressalta Ilana, que também atua como professora do curso de graduação de Psicologia das Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT) e de cursos de especialização.
A profissional afirma que entre os prejuízos desse uso excessivo, estão sintomas cognitivos, fisiológicos e comportamentais. Segundo ela, os universitários começaram a apresentar sintomas maiores de ansiedade, depressão, tendência ao isolamento, e dificuldade de interação social. Ainda, ela percebeu mudanças em comportamentos diários, como alteração do sono e alimentação.
“Muitos universitários relataram que passavam o dia inteiro conectados a ponto de esquecerem de ir ao banheiro ou se alimentar adequadamente”, destaca. A dependência do celular é outro fato relatado. Jovens afirmam utilizar o aparelho, inclusive, durante momentos como o banho.
Ilana afirma que os tratamentos existentes se concentravam em pessoas diagnosticadas com dependência digital.
Efeitos percebidos
- Sintomas cognitivos, fisiológicos e comportamentais
- Aumento da ansiedade e depressão
- Tendência ao isolamento social
- Dificuldade de interação social
- Alterações no sono e na alimentação
- Dependência do celular (uso excessivo, até em momentos como banho)
- Negligência de necessidades básicas (esquecer de ir ao banheiro ou se alimentar)