Da interface aos invisíveis

Opinião

Caroline Lima Silva

Caroline Lima Silva

Assuntos e temas do cotidiano

Da interface aos invisíveis

Venho de uma caminhada, dentro do campo da Psicologia, que, não raras vezes, se traduz como um viés do que o cotidiano quer nos mostrar. Nesse sentido, os invisíveis são aqueles que realmente não aparecem numa sociedade ainda pouco preocupada com o significado que eles fazem. A invisibilidade surge quando se ecoa o sofrimento, se marginaliza aquele que não tem padrão de beleza, anda sujo ou desempenha trabalho considerado inferior pelas condições e a baixa remuneração. Se a nossa sociedade faz isso, é uma responsabilidade de todos nós, porque diz respeito a qualquer ser humano, sem discriminação ou restrições. Ser invisível é pertencer a um mundo paralelo de desamparo e poucas ilusões como os mendigos que dormem na rua, sem saber se vão ter alimento no dia seguinte, os lixeiros e garis, que nem sempre recebem um bom dia durante o seu trabalho. Assim, já no viés social, há várias ocorrências de invisibilidade: econômica, racial, sexual, etária, entre outras.

No meu próximo livro, que será o décimo terceiro, “Da interface aos invisíveis” há uma preocupação em não haver rótulos e diagnósticos, muito porque cada ser humano tem uma singularidade única e uma integralidade que precisam existir e não ser abaladas. O conceito de invisibilidade social tem sido aplicado a seres socialmente invisíveis, seja pela indiferença, seja pelo preconceito. Este fato nos leva a compreender que tal fenômeno atinge tão somente aqueles que estão à margem da sociedade. A invisibilidade consiste na característica de um objeto não ser visível, o que no caso dos seres humanos consistiria no fato da luz visível não ser absorvida nem refletida pelo objeto em questão. É o que acontece, por exemplo, quando um mendigo é ignorado de tal forma que passa a ser apenas mais um objeto na paisagem urbana.

Portanto, há de se imaginar quantas vezes passamos pela faxineira de nossa escola sem termos notado a cor dos olhos ou ouvido um murmúrio; aliás, quantas serão as vezes em que isso se deu e nem notamos a faxineira? Esses são elementos que não nos interessam e não nos dizem respeito, por não comporem nossos pares afetivos, portanto, nada significam. Entram na estatística como mais uma maneira de discriminação, cada vez mais inserida na sociedade. A impossibilidade de reconhecimento e de inscrições grupais e sociais ameaça o desenvolvimento narcísico-identitário, reduzindo as referências identificatórias e, portanto, as possibilidades criativas de existência.

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