Caracterizado por mudanças genéticas, dores e lesões intestinais, o câncer colorretal é um dos mais incidentes no Brasil. A doença é tratada com relevância para a saúde pública, sendo o terceiro câncer mais comum no país. Ela fica atrás apenas do câncer de pele não melanoma, além do câncer de próstata nos homens e o câncer de mama nas mulheres.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa é de mais de 44 mil novos casos da doença por ano, com uma taxa de mortalidade entre 20 e 25 mil mortes anuais.
Os principais fatores de risco estão associados ao comportamento, como sedentarismo, obesidade, consumo regular de álcool e tabaco, além da alimentação. Com o intuito de conscientizar a população para esses cuidados, esse câncer ganha o mês de março para debater sua relevância.
“Não existe um quadro típico, pode se manifestar de várias formas. Na grande maioria dos casos, o paciente já chega com algum tipo de sintoma que, de alguma forma, foi negligenciado.”
Dr. Luis Fernando Scaglioni, proctologista
Prevenção
O câncer colorretal, ou de intestino, pode ser evitado ou amenizado por meio de exames preventivos. Segundo o proctologista Dr. Luis Fernando Scaglioni, a colonoscopia, um exame de imagem que permite identificar lesões, é o principal método de prevenção, já que permite a detecção e remoção de pólipos – alterações na mucosa intestinal que podem evoluir para tumores malignos ao longo dos anos.
Embora fatores genéticos e doenças inflamatórias intestinais estejam associados ao desenvolvimento do câncer colorretal, os hábitos de vida têm grande influência no desenvolvimento do tumor. A prevenção por meio de exames regulares, segundo o profissional, é essencial.
De acordo com Scaglioni, os principais sintomas desse câncer incluem sangramento nas fezes, alterações no hábito intestinal, dor abdominal, cansaço excessivo e perda de peso repentina. Em muitos casos, os pacientes só procuram atendimento quando os sinais se tornam evidentes, o que pode retardar o diagnóstico.
“Não existe um quadro típico, pode se manifestar de várias formas. Na grande maioria dos casos, o paciente já chega com algum tipo de sintoma que, de alguma forma, foi negligenciado”. O médico também alerta que nem todo sangramento significa um câncer, mas sempre é preciso investigar.
Rastreamento
Em 2021, pelo alto índice do desenvolvimento da doença também em jovens, a idade recomendada para o início do rastreamento do câncer colorretal foi reduzida de 50 para 45 anos. Para indivíduos com histórico familiar da doença, no entanto, a orientação é iniciar os exames dez anos antes da idade em que o familiar foi diagnosticado, podendo ser antes dos 45 anos.
O proctologista explica que o tratamento do câncer varia de acordo com a extensão da doença. Alguns pacientes ainda precisam utilizar a bolsa coletora, de forma temporária ou permanente, dependendo da localização e gravidade.
Realizar exames periódicos, manter um estilo de vida saudável e estar atento a qualquer alteração no organismo são medidas importantes para garantir um prognóstico mais favorável.
Diagnóstico
Foram esses cuidados e atenção aos sintomas que permitiram que Ilori Kafer, 61, descobrisse o câncer de forma precoce. Após a colonoscopia, para a retirada da parte do intestino doente, ela não precisou da quimioterapia. Mesmo assim, faz o tratamento com medicação e utiliza, desde dezembro do ano passado, a chamada bolsa coletora ou bolsa de colostomia – um dispositivo que coleta as fezes quando o intestino grosso não funciona corretamente.
Ela conta que o primeiro sintoma percebido foi um sangramento na hora de ir ao banheiro. Com casos de câncer na família, inclusive de tios com tumores no intestino, logo procurou auxílio.
A moradora de Lajeado diz que o tratamento e o uso da “bolsinha” são processos de adaptação. Hoje, ela segue com consultas a cada três meses. Em abril, um novo exame pode definir até quando precisa utilizar a bolsa coletora que, no caso dela, é reversível.

Ilori e Clair estão em tratamento contra a doença, e esperam a retirada da bolsa coletora nos próximos meses / Crédito: Bibiana Faleiro
Sem medicação
Clair Rodrigues do Nascimento, 53, também se prepara para retirar a “bolsinha”, depois de um ano e dois meses de tratamento contra o câncer colorretal. A moradora de Lajeado começou a perceber alterações no intestino em 2023, e iniciou um tratamento para glúten e lactose, com suspeita de intolerância. Seis meses depois, dores intestinais se juntaram aos sintomas e, em consulta com um proctologista, agendou a colonoscopia.
Clair descobriu o câncer durante a consulta, já em nível avançado. A solução foi a cirurgia, que deu à ela a chamada “bolsinha”. Ela conta que, após a cirurgia, passou também por quimioterapia, durante seis meses e, desde de julho do ano passado, está livre dos medicamentos.
Mesmo sem medicação, o acompanhamento com especialistas ainda segue por pelo menos cinco meses. Para Clair, a força de vontade e a fé é o que a auxiliam nesse processo.
SOBRE A DOENÇA
– O câncer de intestino abrange os tumores que se iniciam no intestino grosso, chamado cólon, e no reto. Também é conhecido como câncer de cólon e reto ou colorretal.
– É tratável e, na maioria dos casos, curável ao ser detectado precocemente, quando ainda não se espalhou para outros órgãos.
– Grande parte desses tumores se inicia a partir de pólipos, lesões benignas que podem crescer na parede interna do intestino grosso.
– O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que 44 mil novos casos de câncer colorretal surjam no Brasil por ano.
– A doença é mais frequente em pessoas com mais de 50 anos, mas também afeta pessoas jovens.
ENTREVISTA
Dr Renato Cramer | médico oncologista
“Para ser curado, o câncer precisa ser bem investigado, diagnosticado e tratado”
Como se desenvolve o câncer colorretal?
O desenvolvimento ocorre por alterações genéticas nas células intestinais. Essas alterações podem ser provocadas por agressões ao longo da vida, e levando ao aparecimento de tumores malignos.
O câncer colorretal tem cura?
Sim, mas para ser curado, ele precisa ser bem investigado, diagnosticado precocemente e tratado adequadamente.
Quais são as principais medidas preventivas?
Antes mesmo da colonoscopia, é essencial cuidar da alimentação, beber água, praticar exercícios, evitar tabagismo, alcoolismo e obesidade. Esses fatores reduzem significativamente o risco. O consumo excessivo de carne vermelha e ultraprocessados aumenta as chances de câncer. O Inca recomenda um limite de 500g semanais de carne vermelha cozida. Alimentos processados, como presunto, salame e mortadela, também elevam o risco. O câncer é uma doença traiçoeira. Vai se transformando, a cada tratamento e a cada falha dos tratamentos, estou diante de uma doença que é mais resistente. A gente se preocupa tanto com a prevenção e o rastreamento do câncer de intestino, porque às vezes quando o paciente tem o primeiro sintoma, já pode ser tarde demais.
Em que casos a quimioterapia é necessária?
Em estágios iniciais (1 e 2), a cirurgia pode ser suficiente. No estágio 3, é indicado fazer quimioterapia por pelo menos seis meses. No estágio 4, o tratamento pode ser por tempo indeterminado. No estágio 4, quando o câncer se espalha para outros órgãos, ele é considerado incurável, mas pode ser controlado com tratamento adequado.
Como a tecnologia tem auxiliado no tratamento?
Principalmente no tratamento de doenças metastáticas. A imunoterapia é uma abordagem promissora, que fortalece o sistema imunológico para combater as células cancerígenas. Além disso, a terapia personalizada tem possibilitado tratamentos mais eficazes. É um tratamento baseado nas características genéticas do tumor de cada paciente. Isso permite o uso de medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais, aumentando a sobrevida.