As lições da pandemia

Cinco anos depois

As lições da pandemia

Diante da maior emergência sanitária já vivida na região, profissionais na linha de frente em áreas como saúde, gestão pública, economia e educação relembram ações e debatem legados da Covid-19

As lições da pandemia
Doença chegou a ultrapassar limites das UTIs nos hospitais da região / Crédito: Arquivo A Hora
Vale do Taquari

Cinco anos depois do coronavírus ser disseminado de forma global, áreas como a saúde, a economia, a educação e a gestão pública ainda sofrem os impactos da maior emergência sanitária já vivida na região. Além das ações imediatas diante do caos da época, também ficam as lições.

Em Lajeado, o primeiro caso foi confirmado no dia 21 de março. Na cidade, até 5 de maio de 2023, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o fim da pandemia, foram 27.716 casos confirmados e 251 óbitos, com uma taxa de mortalidade de 0,90%.

Mesmo antes dos primeiros casos chegarem à região, os municípios começaram a debater a possibilidade da presença da doença no Vale do Taquari. Secretário de saúde de Lajeado na época, o pneumologista Dr. Cláudio Klein lembra que o município vivia sob a incerteza. Ele destaca que a própria OMS tentava se orientar em meio à crise.

“Aqui, formamos um grupo de médicos e especialistas para entender a doença e buscar soluções locais”, recorda. Foi criado um comitê de enfrentamento da Covid-19, que reuniu profissionais da área para elaborar estratégias.

O reforço na infraestrutura hospitalar também foi prioridade. “Inicialmente, criamos um hospital de suporte para atender a demanda, dentro da Univates. Embora não tenha sido necessário ativá-lo integralmente, expandimos a parceria com hospitais da região, como Cruzeiro do Sul, Marques de Souza e Bom Retiro do Sul. Isso garantiu retaguarda para o Hospital Bruno Born, que ficou dedicado exclusivamente aos casos mais graves”, explica.

Os resultados desse fortalecimento hospitalar são vistos ainda hoje. Na pandemia, o HBB chegou a contar com 58 leitos de UTI dedicados à Covid-19. Parte desta infraestrutura foi mantida e permitiu a criação da UTI pediátrica. Outros equipamentos tecnológicos adquiridos no período também tornaram os serviços mais qualificados.

Do ponto de vista científico, o especialista observa avanço expressivo no tratamento de doenças respiratórias. A vacinação também foi um marco para o controle do vírus.
Para Klein, a pandemia evidenciou fragilidades, mas também significou melhorias à saúde. O profissional ainda destaca como principal lição, a necessidade de preparação contínua. “O vírus encontrou maneiras de circular, e sempre haverá novas ameaças. Nosso desafio é manter uma saúde pública resiliente e preparada para o futuro”.

Aqui, formamos um grupo de médicos e especialistas para entender a doença e buscar soluções locais”
Cláudio Klein, médico pneumologista e ex-secretário de Saúde de Lajeado

Na economia

Outra área que sofreu mudanças que perduram ainda hoje foi a economia. Entre os desafios, esteve a adaptação de modelos de vendas e de trabalho. A economista Fernanda Sindelar afirma que, depois de cinco anos, a economia global ainda se encontra fragilizada, sentindo o impacto dos juros elevados, baixo crescimento econômico e mudanças estruturais nas cadeias de fornecimento.

Embora a pandemia não seja a única responsável por esse cenário, ela afirma que os efeitos do período foram agravados por uma série de fatores climáticos e geopolíticos. Por outro lado, ressalta que após o período mais conturbado dos dois primeiros anos de pandemia, quando foi observada a queda da atividade econômica, o fechamento de empresas e interrupções nas cadeias de suprimentos, as atividades foram retomadas – com transformações significativas, em especial, nos modelos de produção, na dinâmica de relacionamento com os clientes e na maior flexibilização das relações de trabalho.

“A pandemia acelerou movimentos que já estavam em curso, como a ampliação de investimentos em inovação e transformação digital, além do maior uso de plataformas de e-commerce”.

Segundo Fernanda, ainda se observa uma maior preocupação das empresas com questões sociais e ambientais. A economista cita também a valorização do espírito de cooperação e da necessidade de união para enfrentar desafios coletivos como outro aprendizado da pandemia.

O que aprendemos é que cada público demanda um formato diferente, e a combinação entre presencial e virtual é a melhor estratégia”
Cintia Agostini, economista vice-reitora da Univates

Adaptação
tecnológica

Na educação, os desafios aceleraram processos de digitalização, transformando métodos de ensino e reconfigurando a relação entre alunos e professores. A vice-reitora da Univates, Cíntia Agostini, destaca, entre as principais lições aprendidas no período, a adaptação exigida pela educação.

Em março de 2020, com a necessidade de distanciamento social, a Univates foi uma das primeiras instituições do Rio Grande do Sul a adotar o modelo de aulas virtuais, a fim de garantir a continuidade do ensino. A transição exigiu uma reorganização estrutural e tecnológica, bem como um esforço coletivo de professores, alunos e funcionários.

O ensino remoto emergencial também mostrou a necessidade de novas ferramentas e abordagens pedagógicas. “Fomos obrigados a nos apropriar de tecnologias que antes não faziam parte do nosso cotidiano”. Esse aprendizado resultou em um modelo de ensino mais flexível e integrado, combinando o presencial e o digital de forma estratégica.

Cíntia cita como consequência da pandemia, a consolidação do ensino híbrido. “O que aprendemos é que cada público demanda um formato diferente, e a combinação entre presencial e virtual é a melhor estratégia”, destaca.

Cíntia ainda reforça a importância do contato humano na aprendizagem, seja nas escolas ou universidades. “A convivência em sala de aula é fundamental para uma formação completa”.Hoje, afirma que o desafio é continuar aprimorando as estratégias desenvolvidas.

Desafios públicos

Na linha de frente contra a Covid-19, ainda estavam os gestores públicos. O então prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo, destaca os desafios da pandemia para as administrações municipais. “É um momento que a gente talvez não vai ver de novo, ter que lidar com uma emergência sanitária como foi a situação da pandemia. Foram momentos muito difíceis, porque ninguém tinha resposta pras perguntas mais complexas”.

Caumo destaca entre as primeiras iniciativas, cercar as equipes públicas de pessoas especialistas em cada uma das áreas impactadas. Apesar das restrições, o gestor público diz ter trabalhado a pandemia semana a semana.

“A gente analisava a situação de Lajeado, se o hospital estava tranquilo, se tinha suporte, se conseguia ser um pouco mais flexível. Se a situação do estado estava mais flexível, mas nós estávamos sobrecarregados, a gente era um pouco mais restritivo”.

Ele afirma que entender a doença e a realidade da região permitiu trabalhar a situação de forma positiva, a fim de conter o contágio e diminuir a mortalidade pelo vírus.

MARCOS NA REGIÃO

Março 2020
Equipes de saúde elaboraram plano de prevenção e possível contágio, adotando o distanciamento social, também com escolas e comércios fechados. Em 21 de março é registrado o primeiro caso de coronavírus na região. Municípios adotam toque de recolher.

Abril 2020
Primeiros testes rápidos chegam à Univates. Em 23 de abril é registado o primeiro óbito por coronavírus, em Lajeado. Máscaras viram itens obrigatórios.

Julho 2020
Enchente do Rio Taquari agrava situação da pandemia. Ocupação de UTIs supera 70% no Vale.

Setembro 2020
Aulas retornam nas escolas de forma presencial, mas debate continua e ocorrem novas suspensões ao longo dos meses. Lajeado bate recorde de casos ativos de coronavírus.

Janeiro 2021
Primeiras pessoas são vacinadas na região. Estado tem presença de nova mutação do vírus.

Fevereiro 2021
Novo surto obriga a região a adotar protocolos de bandeira preta.

Março 2021
Ocupação nas UTIs do Vale chegam a 117%.

Agosto 2021
Lajeado percebe um alívio na pandemia, com menor número de casos em dez meses.

Janeiro 2022
Nova onda de coronavírus atinge a região.

Março 2022
Uso de máscara passa a ser facultativo.

5 de maio de 2023
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declara fim da pandemia.

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