“A vida é uma adaptação constante”

ABRE ASPAS

“A vida é uma adaptação constante”

Fremiot Clerjuste, 39 anos, natural do Haiti, encontrou em Encantado um novo lar. Professor de Matemática, em busca de uma vida melhor, chegou ao Brasil em 2012, após passar por Equador e Acre. Hoje, com dois filhos nascidos na região, Vitória, 6, e Gabriel, 4, Fremiot tem cidadania brasileira e construiu uma história de superação, adaptação e integração

“A vida é uma adaptação constante”
Foto: Diogo Fedrizzi

Como foi a decisão de deixar o Haiti e vir para o Brasil?

Em 2004, o Haiti passou por uma crise social, e o Brasil enviou tropas de paz. Isso fez com que o país se tornasse uma referência para muitos haitianos. Eu já havia morado no Equador por alguns meses, mas foi no Brasil que decidi recomeçar. Um amigo me falou sobre o programa da Dália, em Encantado, e eu vim. Cheguei em 19 de dezembro de 2012, sem falar português, mas disposto a me adaptar.

E a adaptação à língua e à cultura?

Foi um desafio. No Haiti, falava crioulo e francês, e também domino espanhol e inglês. Mas o português era completamente novo. Comprei um dicionário inglês-português na tabacaria e comecei a assistir TV e ouvir rádio para aprender. Fiz um curso de seis meses oferecido pela prefeitura e, depois, uma prova de proficiência na Ulbra, em Porto Alegre. Hoje, dou aulas de matemática e até ensinei português para outros imigrantes.

Como foi a chegada em Encantado?

Fui acolhido pela família Dias e Frigeri, especialmente pela dona Alda e o Armindo. Eles me ajudaram muito. Trabalhei na Dália por um ano e quatro meses, mas meu sonho sempre foi atuar na educação. Sou formado em Matemática e, no Haiti, lecionava do 9º ano ao Ensino Médio. Aqui, consegui validar meu diploma e hoje trabalho na Escola Estadual General Souza Doca, em Muçum, e na Escola Estadual Vespasiano Corrêa.

E a vida familiar?

Tenho dois filhos, Vitória e Gabriel, que nasceram aqui. Eles são encantadenses de coração (risos). Comprei um terreno e financiei nossa casa em 2021. Também tenho um carro para levar as crianças à escola e ao trabalho. Minha vida está aqui. Me sinto em casa.

Como é a relação com a comunidade?

A integração é um processo. Fomos acolhidos, mas ainda há um caminho para nos sentirmos totalmente inseridos. Temos uma cultura rica, que pode ser compartilhada com a comunidade. No Haiti, somos descendentes da África, e nossa história é cheia de tradições. Mas, muitas vezes, ficamos isolados, apenas trabalhando e voltando para casa. Precisamos de um olhar mais atento para que possamos contribuir mais.

E a família no Haiti?

Tenho duas irmãs no Haiti e um irmão em Porto Alegre. Outros irmãos estão nos Estados Unidos. Converso todos os dias com minhas irmãs que estão no Haiti. Agora, com minha cidadania brasileira, estou tentando trazê-las para cá. Já mandei a documentação necessária para que possam vir.

O que diria para quem está começando uma nova vida em outro país?

Não é fácil, mas é possível. A vida é uma adaptação constante. É preciso aprender a língua, respeitar a cultura e buscar oportunidades. A educação foi minha aliada, e acredito que pode ser a de muitos outros. Por isso, nunca desistam dos seus sonhos. A vida é feita de recomeços, e cada um deles pode ser o início de uma nova história.

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