Há 18 anos, em meados de março, um dia é dedicado à ação Viva o Taquari-Antas Vivo. A mobilização pelo rio, inciada em Lajeado, atravessou a margem e chegou a Estrela. Ao longo do tempo, desceu o rio e alcançou Cruzeiro do Sul, Bom Retiro do Sul e Venâncio Aires. Ao mesmo tempo, subiu para Arroio do Meio, Encantado e rumou à serra. Hoje, é um evento oficial da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas e desdobra-se em outras atividades de educação ambiental durante o ano. A Escola das Águas, lançada durante a 17ª edição, anos passado, leva oficinas sobre o tema às instituições de ensino.
O publicitário Gilberto Soares é um dos idealizadores do Viva o Taquari-Antas Vivo. Ele conta que a ideia surgiu entre os funcionários da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil). “À época, eu, que era vice-presidente de Responsabilidade Social da organização, encampei a iniciativa e convenci a diretoria sobre a importância institucional do evento.” Desde então, Soares está à frente da coordenação do programa e conta com a Unidade Parceiros Voluntários de Lajeado na organização, além e representantes instituições públicas e privadas nos municípios de adesão ao programa.
Desde o início, conta ele, houve a preocupação de unir as duas margens do Taquari, fazendo a ação simultaneamente nos dois municípios. “Começamos com Lajeado e Estrela, mas jamais esquecemos que vivemos em uma rica, mas frágil, bacia hidrográfica.” Portanto, os organizadores procuraram expandir a ideia e convencer outros municípios a se integrar às atividades desenvolvidas ao longo dos 18 anos. “Hoje, o Viva o Taquari-Antas Vivo é um programa oficial do Comitê da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas, e lutamos para chegar a todos os municípios da maior bacia hidrográfica do país.”
Além da ação às margens do Rio Taquari, a criação da Jornada Técnica Ambiental, o Seminário Ambiental e a exposição de fotos Mostra Espelhos tornaram a iniciativa um programa envolvendo comunidade e estudantes. “Imaginamos o recolhimento como um símbolo forte contra a irresponsabilidade, o desconhecimento e a falta de cidadania,” lembra Soares. Porém, recolher os resíduos foi uma forma de chamar a atenção da sociedade. “Nosso propósito firmou-se sempre na educação ambiental. Assim, até hoje, as jornadas ambientais miram a informação qualificada dos adultos; os seminários instruem os jovens; e a mostra retrata parte daquilo que encontramos a cada ano.”
Dentro do seminário, ocorrem oficinas nas escolas, conforme o interesse das instituições pelos assuntos ofertados. Voluntária, a engenheira ambiental Luana Hermes ministrou a oficina Vaso Compostor – aprendendo o ciclo da compostagem. O tema foi levado aos estudantes do 5º ano da EMEF Guido Arnaldo Lermen, em Lajeado.
Resíduos
Ao longo dos anos, percebe-se uma mudança nos materiais recolhidos. No início, muitos pneus, pedaços de lona, redes de pesca, caixas de isopor, madeira, móveis. Atualmente, são resíduos menores, como garrafas pet, plásticos. Para Soares, a mudança representa o impacto positivo da visibilidade do trabalho dos milhares de voluntários ao longo destes anos todos. “São mais pessoas às margens do rio, enquanto o volume de resíduos/lixo mantém-se em queda.
Fogões, sofás e camas, por exemplo, eram objetos corriqueiros encontrados nos primeiros mutirões, mas são quase raros.” Entretanto, ele ainda destaca que as enchentes do ano passado podem alterar para pior a tendência percebida ao longo dos anos. Sobre o futuro, o coordenador do Viva o Taquari-Antas Vivo afirma: “A expectativa é deixar de recolher lixo para colher música e poesia nas margens do rio Taquari.”
Gilmara Esteves Scapini
Coordenada da Unidade Parceiros Voluntários Lajeado
“Das 18 edições do programa Viva o Taquari-Antas Vivo, estive na coordenação em 12, com o coração cheio de propósito e esperança. Cada etapa foi marcada pelo trabalho coletivo, pelo voluntariado organizado, pela força transformadora das pessoas e pelo compromisso com o meio ambiente.
Os subprojetos do programa me ensinaram o valor da conexão entre comunidade e natureza, mas concretização da Escola das Águas a partir do ano de 2024, sem dúvida, foi um marco especial. Ver essa iniciativa ganhar vida foi como plantar uma semente e acompanhar seu crescimento, percebendo que cada pequeno esforço se transforma em um impacto profundo e duradouro.
Ao longo dessa jornada, vivi experiências que moldaram meu entendimento do que significa cuidar de um legado natural como o Rio Taquari-Antas. Cada encontro, cada desafio e cada conquista foram um lembrete de que preservar vai além de proteger, é sobre inspirar, mobilizar e engajar para que todos se tornem guardiões desse bem tão precioso.
Sinto-me profundamente grata por fazer parte dessa história e por ter a oportunidade de colaborar com tantas pessoas incríveis, que, juntas, fizeram desse sonho uma realidade vibrante.”
Antonio Juarez da Silva
Gerente da Acil
“Fui um dos criadores da ação em 2007 para constituí-la como programa por excelência da Acil como Voluntária Pessoa Jurídica da Parceiros Voluntários. A partir da iniciativa, buscamos fortalecer o movimento com outras forças vivas do município e região, havendo a cada ano a adesão crescente de voluntários. Chegamos ao nível atual de mobilização de dezenas de empresas e entidades e milhares de pessoas graças à elogiável consciência ambiental de nossa comunidade regional. A ação original e seus projetos desdobrados têm contribuído para educar e alertar sobre o valor inestimável do rio e seus afluentes para a nossa qualidade de vida!”
Entrevista
Naiara Daniela Lopes • voluntária
“ Cuidar da natureza foi um hábito que aprendi na infância com os meus pais”
Naiara Daniela Lopes, 31, é bióloga, moradora de Lajeado e participa da ação desde 2012. Nas 12 ações, recolheu resíduos, trabalhou no apoio às equipes de voluntários e na parte da educação ambiental.
Educame – Como você conheceu a ação e quanto começou a participar?
Naiara – Conheci a ação em 2012, quando iniciei o estágio na Secretaria de Meio Ambiente de Lajeado (Sema). Eu auxiliava no Programa de Recuperação Sustentável da Mata Ciliar do Rio Taquari (antigo Programa de Recuperação Sustentável do Corredor Ecológico do Rio Taquari) e foi aí conheci trabalhos e ações ligados à preservação do Rio Taquari e das matas ciliares.
Você representa alguma instituição?
Sempre participei representando uma entidade. Iniciei como voluntária pela Sema Lajeado e atualmente participo com o time da Geoambiental Consultoria e Licenciamento.
O que te motiva participar?
Cuidar e preservar da natureza foi um hábito que aprendi durante a infância com os meus pais. A curiosidade sobre o meio ambiente e a consciência sobre a importância da preservação ambiental me acompanharam na vida acadêmica e na decisão da minha profissão. Ao ingressar em meu primeiro estágio, conheci a ação e desde então acompanho e participo.
Qual a importância da ação?
A ação traz diversos benefícios, inicialmente pela limpeza das margens colaborando com a retirada dos resíduos, preservação do ecossistema e da biodiversidade, auxilia na sensibilização da comunidade quanto a separação e destinação de resíduos e entulhos em locais apropriados. Além de que, são realizadas atividades de educação ambiental que buscam conscientizar e fomentar a importância destas ações para o meio ambiente, saúde pública e toda a coletividade. Participar da ação é o momento ideal para exercer a responsabilidade compartilhada em prol da sustentabilidade.
Escola das Águas
No ano passado foi lançada a Escola das Águas. O projeto prevê oficinas itinerantes ministradas por educadores sociais voluntários. As atividades podem ocorrer ao ar livre, no Recanto Viva o Taquari-Antas, no Parque Ney Santos Arruda, e nas escolas interessadas.