Encontrar tempo em meio à rotina de trabalho, casa e família, para o autocuidado, é um desafio para muitas mulheres. A mudança cultural do papel feminino na sociedade, no entanto, e a participação compartilhada no cuidado dos filhos, por exemplo, criam oportunidades para que elas mudem hábitos e busquem, cada vez, a saúde e o bem-estar.
Em diferentes realidades, o assunto “saúde da mulher” é pensado também em âmbito de políticas públicas municipais, estaduais e nacionais, a fim de garantir direitos em todas as fases da vida.
Esse cuidado inclui um conjunto de ações de prevenção, promoção, tratamento e recuperação da saúde, garantindo acesso equitativo e de qualidade aos serviços de saúde. Ainda, integra a saúde ginecológica, os direitos sexuais e reprodutivos, a saúde materna e a saúde mental.
Hábitos saudáveis de vida, prática de exercícios físicos e acesso a terapias estão entre as indicações dos profissionais para a longevidade da mulher.
Começa na adolescência
A atenção à saúde começa na adolescência, e quanto mais as jovens entenderem sobre si, melhores os resultados ao longo da vida. É o que afirma a médica ginecologista Dra. Letícia Leite.
“É importante essa busca pelo autoconhecimento. A menina já vem no consultório porque quer entender o que está acontecendo com o corpo dela. Nosso objetivo é também passar informações de qualidade, para além do que ela vê nas redes sociais”.
Letícia afirma que o ideal é que o acompanhamento ocorra já no início das primeiras menstruações das meninas, para que ela se prepare para a vida adulta e entenda o desenvolvimento do seu corpo, sempre em consenso com a mãe. Ela diz ser essencial que a figura materna explique sobre os ciclos da mulher para as filhas.
A médica também trabalha com a conscientização sobre bons hábitos de vida para o futuro. “O que elas não fizerem agora, vai impactar. Muitas vezes, elas acham que isso é problema para o futuro, mas tem que se preparar desde a adolescência. Por isso, a família é tão importante. Principalmente na alimentação, que deve ser uma consciência conjunta”.
Letícia indica hábitos saudáveis em todas as fases da vida, mas afirma que, quanto mais cedo, mais fácil iniciar e permanecer. “Esse autoconhecimento é interessante, porque vai fazer com que, no futuro, a menina se entenda melhor”. A profissional também diz ser importante reservar momentos de lazer e ter um hobbie para a saúde física e mental.
Cuidar de si
Cuidar da mente e do bem-estar é outro fator que garante qualidade de vida às mulheres. E foi com esse propósito que a empresária Aline Giovanella idealizou o Espaço Zahara, em Lajeado.
O serviço de beleza, que inclui salão, corte de cabelo para crianças, terapias capilares, spa, nutrição e massoterapia, surgiu da vontade de Aline de cuidar da autoestima e da saúde das pessoas, incentivando o autocuidado. “O que eu vejo é que, hoje, as mulheres estão aprendendo a viver mais e buscando a qualidade de vida. Se dando esse momento de descansar, de relaxar”. Aline afirma que muitas mulheres atendidas no espaço, em especial que se dedicam ao trabalho, à família e aos filhos, relatam sentimentos de exaustão. A comparação entre outras mulheres, principalmente pelas redes sociais, também impacta no bem-estar.
Além do cuidado com o corpo, Aline destaca os benefícios das terapias com psicólogos. “Em cada fase, a gente acaba construindo e moldando a nossa história. Estou vivendo isso hoje, depois dos 40. Entendi que precisava me conhecer. Nunca me dei esse tempo”. A empresária conta ter iniciado a terapia para o autoconhecimento e para se relacionar melhor com ela mesma. Aline percebe que esse movimento do autocuidado tem sido cada vez mais real entre as mulheres, que buscam realização e felicidade.
Autonomia e disposição
A prática de exercícios físicos contribui para essa busca e tem se mostrado um forte aliado à saúde. Entre as atividades que garantem qualidade de vida, está o pilates, procurado pelas mulheres em diferentes fases da vida. Seja para mobilidade ou fortalecimento, os exercícios possibilitam autonomia em tarefas simples, como carregar um filho no colo, levantar de uma cadeira ou carregar as compras do mercado.
Fisioterapeuta e especialista em coluna, Julia M. Zen, 41, administra um estúdio de pilates em Lajeado, chamado Espaço Zen Pilates, e afirma que os alunos que atende possuem diferentes idades e objetivos. A profissional também trabalha com reabilitação dentro do pilates, e atende, em especial, situações de dores.
A coordenação é outro benefício, principalmente ao idoso. “As pessoas estão vivendo bastante, então coordenação, equilíbrio, aumentar a musculatura, vai trazer autonomia para coisas do dia a dia”. Júlia afirma que a atividade pode ser feita desde os 7 anos de idade, até mais de 100 e permite que a pessoa possa desempenhar também outros exercícios. Além de dar aulas, a profissional pratica o pilates, faz musculação e afirma que a atividade a fortalece para outras coisas que ela gosta, como a corrida e o vôlei. “Melhora minha vida em tudo, impacta também no sono e no bem-estar”.

O cuidado da mulher inclui ações de prevenção, tratamento e recuperação da saúde como um todo
Para se manter saudável
Check-ups regulares – consultas periódicas com ginecologista, cardiologista e clínico geral para rastreamento de doenças.
Autoconhecimento e autoexame – práticas como o autoexame das mamas e atenção a sinais do corpo para identificar problemas de forma precoce.
Saúde mental – acompanhamento psicológico ou psiquiátrico quando necessário, além de práticas como meditação e atividades relaxantes.
Alimentação equilibrada – dieta rica em frutas, verduras, proteínas magras e grãos integrais, evitando ultraprocessados e excesso de açúcar.
Atividade física – exercícios regulares para fortalecimento muscular, saúde cardiovascular e equilíbrio hormonal.
Sono de qualidade – manutenção de um ciclo regular de sono, evitando telas antes de dormir e criando um ambiente propício ao descanso.
Saúde hormonal – acompanhamento de alterações hormonais ao longo da vida, incluindo a menopausa, com suporte médico adequado.
Saúde sexual e reprodutiva – uso de métodos contraceptivos seguros e planejamento familiar com orientação profissional.
Hidratação adequada – consumo de pelo menos 2 litros de água por dia para bom funcionamento do organismo.
ENTREVISTA | Dra. Maria Goretti, médica ginecologista
“As mulheres sempre cuidam de tudo e não têm tempo para cuidar de si”
Qual o perfil da mulher atual?
As mulheres estão, cada vez mais, buscando uma identificação, um autoconhecimento. Pessoas saindo daquela situação de deixar a vida acontecer, de que tudo é normal, por exemplo a menopausa, para se cuidar, buscar qualidade de vida, longevidade saudável, buscar ter uma vida prazerosa. Vejo uma mudança de ter mais saúde, qualidade de vida e autoconhecimento.
Quais as maiores queixas que percebe nesse público, hoje?
São sobre as mudanças. Além delas se compararem muito nas redes sociais. As mulheres depois dos 40 anos, elas tem que “deixar morrer” aquela mulher que eram antes, para viver uma nova fase, porque a vida realmente começa a mudar em vários aspectos, e a mudança é muito mais rápida. Precisam se preparar para a menopausa. As mulheres sempre cuidam de tudo e não têm tempo para cuidar de si. Mas isso é essencial.
Como você percebe a reposição hormonal para as mulheres?
É natural a perda de hormônios com a idade. A reposição hormonal é o tratamento para a menopausa no sentido hormonal. Existe uma diferença entre usar antes e depois da menopausa. Antes é para disfunções hormonais, mas na menopausa, é a reposição daquilo que o corpo para de produzir. E, dentro disso, cada pessoa tem um perfil e vai estar apta a usar ou não. Há mulheres que podem, mas não querem, e outras que querem, mas não podem, existem contraindicações. Deve haver uma avaliação médica mas, no geral, traz bastante qualidade de vida. Antes, as pessoas morriam mais cedo. Então a mulher chegava na menopausa e já se preparava para a velhice. Hoje em dia, uma mulher com 40, 50 anos, está iniciando uma jornada nova. Temos que dar qualidade de vida, e a reposição hormonal está cada vez com menos restrições, já temos bastante estudos que apoiam essa ação.
Quais hábitos de vida podem garantir saúde à mulher?
Alimentação saudável, exercício físico, saúde mental. Isso vai dar qualidade de vida e deve continuar depois dos 50 anos. Mude um hábito de cada vez, comece devagarinho, a constância é o mais importante.
Como definir as fases da mulher dentro de um mês?
Tudo começa com a menstruação, começa um novo ciclo. Ela tem a fase pós-menstrual imediata, periovulatória, e pré-menstrual, que vão produzir quantidades diferentes de hormônios e, dependendo do caso, o humor vai mudar, assim como a produtividade. Na fase proliferativa, o corpo está se preparando para a fecundação, e a mulher fica mais receptiva. Quando passa essa fase e a mulher não engravidou, ela menstrua e passa por uma espécie de luto. Nessa fase, ela fica mais quietinha, mais mal-humorada. É importante que o parceiro entenda esse ciclo também.