Durante a tua atuação como bombeiro, Joel, teve algum episódio específico que tenha marcado a tua vida?
Entre tantos, eu recordo de maneira de muito clara de dois. Um acidente com cinco óbitos em um único veículo. Porque entre as vítimas tinham crianças. É a hora que o lado profissional fica de lado. Nos tornamos apenas um humano tentando salvar a vida de outro. E o segundo, uma tragédia ambiental, em 4 de janeiro de 2010. Uma enxurrada terrível que assolou a parte mais alta do Vale. Foram situações que marcaram a minha vida. Por me sentir impotente muitas vezes.
Depois de alguns anos aposentado. Hoje atuando como conselheiro tutelar. O que te leva ao voluntariado, Joel?
Eu dediquei quase trinta anos da minha vida ao Corpo de Bombeiros. Hoje depois de todo esse tempo eu acredito que ainda posso contribuir muito à comunidade. Por isso me sinto preparado e fico à disposição da comunidade sempre que algo põe em risco a segurança das pessoas. A enchente de maio de 2024 foi um exemplo triste disso, tínhamos poucos recursos, pouca gente, mas estávamos ali fazendo o que precisava ser feito. Eu lembro de um episódio muito triste – de quando um companheiro de salvamento, que junto de nós tinha conseguido salvar muitas vidas, soube da morte de familiares também em decorrência da cheia. Acredito que doar-se ao outro é mais forte do que gente. Nem a razão explica.
Entre a profissão, o voluntariado e a vida pessoal. O que te inspira como ser humano?
O me inspira certamente é a minha família. O desejo de ser exemplo aos meus filhos. O meu legado de vida é fazer deles pessoas melhores do que eu sou.
Tenho uma convicção muito definida dentro de mim: ao mesmo tempo que eles me inspiram a ser uma pessoa melhor, eu devo ao mundo o dever de fazer dos meus filhos pessoas do bem. Como pai, eu deixo uma semente para que as minhas ações hoje continuem dando frutos.
O que diria para alguém que deseja ingressar no Corpo de Bombeiros?
Que é mais do que uma profissão. É uma missão de vida. É um exercício constante de doação ao outro. De solução aos problemas, interpéries e perigos que decorrem a vida das pessoas. Nem todo mundo está preparado para viver isso. É um trabalho que lida com o risco da própria integridade física ao mesmo tempo que abala o emocional. Mas em contrapartida, é gratificante. Cada vida salva faz tudo valer a pena. Ser ferramenta para trazer segurança física à vida das pessoas é uma missão.