A 47ª edição da Romaria da Terra, realizada nesta terça-feira, 3, em Arroio do Meio, reuniu mais de 10 mil fiéis de diversas regiões do estado, com o tema “Reconstruir e Cuidar da Casa Comum com Fé, Esperança e Solidariedade”. O evento, tradicionalmente realizado em áreas rurais, teve um significado especial neste ano, homenageando as vítimas das enchentes que devastaram o Vale do Taquari e outras regiões do estado em 2023 e 2024.
A escolha de Arroio do Meio como sede foi simbólica, conectando os participantes com os bairros destruídos pelas catástrofes, proporcionando uma reflexão sobre a importância da solidariedade e da reconstrução. “A romaria quer ser essa grande celebração de solidariedade, que se formou com tanta ajuda vinda de todos os cantos”, destacou o pároco local, Padre Afonso Antoni.
Em meio ao calor intenso, a temática das mudanças climáticas ganhou destaque, com discussões sobre como cuidar da terra e do meio ambiente, abordando também a urgência de práticas ecológicas para preservar a “casa comum”. A cruz, montada com madeira proveniente dos deslizamentos no Rio Forqueta e de destroços das enchentes, foi um dos momentos emocionantes da cerimônia. Na cruz, foram colocados os nomes das vítimas e desaparecidos.
Na comunidade Navegantes, um marco simbólico foi instalado em memória das vítimas das enchentes. Uma grande pedra, trazida de Roca Sales, foi colocada em frente à igreja local, em lembrança às seis vítimas fatais do deslizamento que atingiu a comunidade de Três Pinheiros.
A programação da romaria, que teve início às 8h30min e se estendeu até à tarde, foi marcada pela presença de famílias e jovens, muitos deles envolvidos com a preservação da biodiversidade e com a produção ecológica. A participação da juventude, com destaque para a Semente Crioula, foi enfatizada como um sinal de esperança para um futuro mais sustentável.
“Para mim, esse dia é para celebrar a vida e a esperança de que ainda podemos salvar a terra”, afirmou Oldi Helena Jantsch, de 74 anos, natural de Cruzeiro do Sul. Ela destacou o papel fundamental da juventude e das famílias na luta por um planeta mais saudável e justo.
O evento também destacou a recuperação das empresas afetadas pelas enchentes, como a Aloha Espaço Natural, que perdeu grande parte de sua estrutura devido às águas. “A essência da loja são as plantas medicinais, e, com a ajuda de todos, estamos reconstruindo, oferecendo produtos naturais e alternativos que ajudam na saúde e bem-estar”, comentou a proprietária, ressaltando o simbolismo da moringa, conhecida como a “árvore da vida”.
Os casais Silvio e Elaci Leites, de Sapucaia do Sul, marcaram sua primeira participação na Romaria da Terra, motivados por amigos e pelo desejo de prestar homenagens às vítimas da tragédia. “É um momento de renovar a fé e a esperança”, disse Elaci, emocionada com a energia positiva do evento, apesar das dificuldades físicas que enfrentou durante a caminhada. “Achei que não iria conseguir concluir o percurso por ter uma prótese no quadril, mas graças a Deus, estou finalizando esse momento de fé junto aos amigos”.
Elida Braga dos Santos, que participou de 37 edições da Romaria da Terra, afirmou que a caminhada é um compromisso com a luta por um mundo melhor. “A força do Deus da vida nos ajuda a superar a crise e lutar por uma ecologia integral”, completou Elida, que, mesmo morando em Esteio, sempre se manteve conectada com o movimento.
A Romaria da Terra 2025 se consolidou, assim, não apenas como um ato de fé, mas também como um forte grito de solidariedade, resistência e esperança diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas e pelas tragédias que atingiram a região.