Recicladores relatam melhores condições de moradia, mas cobram demandas locais

LAJEADO

Recicladores relatam melhores condições de moradia, mas cobram demandas locais

Seis anos depois de saírem das margens da ERS-130 e se mudarem para o bairro Santo Antônio, famílias da Vila dos Papeleiros descrevem rotina e principais necessidades

Recicladores relatam melhores condições de moradia, mas cobram demandas locais
Paulo Luís Vogt é um dos poucos que ainda trabalha com o serviço de reciclagem na Vila dos Papeleiros. (Fotos: Bibiana Faleiro)
Lajeado

Em casas de madeira em um dos pontos mais altos da cidade é onde os chamados papeleiros de Lajeado vivem nos últimos seis anos. Na época, eles deixaram as margens da ERS-130, onde residiam desde 1990, para terem seus espaços próprios entre os bairros Santo Antônio e Jardim do Cedro. As residências não possuem luxos, mas, desde 2019, eles têm água e luz em qualquer momento do dia.

Desde a mudança, o município acompanha essas famílias, que se encontram em situação de vulnerabilidade. Eles recebem assistência social e fazem parte de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

Paulo Marcos da Silva, 45, foi um dos moradores transferidos dos barracões da rodovia. Naquele período, a pequena vila que havia se formado foi retirada para viabilizar a construção de vias marginais na ERS-130. Há seis anos, Silva, que veio de Tenente Portela para Lajeado ainda criança, trabalhava recolhendo recicláveis. Hoje, tem um emprego na área da construção civil.

O morador conta ir de bicicleta até o bairro Hidráulica, onde trabalha, todos os dias. A filha pequena frequenta uma creche nas proximidades da vila. Ali perto, também há posto de saúde e acesso à assistência social.

Por outro lado, comenta sobre a demora na resolução de demandas urgentes. Ele cita a troca de lâmpadas queimadas nos postes da rua. “Arrumaram essa semana, depois de dois anos. Quando chovia, dava faísca, já pegou fogo no transformador e todo mundo ficou sem luz por dois meses”, relata. Hoje, outro problema é um vazamento de água. Segundo ele, o pedido já foi encaminhado à prefeitura.

Hoje, um dos problemas do local é um vazamento de água, que abastece todas as 12 casas

Ainda no ofício

No local, também vivem familiares de Silva e da esposa. A maioria dos moradores é da mesma família. Um dos cunhados, Paulo Luís Vogt, 52, natural de Lajeado, é um dos poucos que ainda trabalha com o recolhimento de recicláveis.

“Faço isso desde piá. Era eu e meus dois irmãos”, recorda. Vogt conta que, no início, todo o material era puxado com uma bicicleta conectada a uma carreta. Há alguns anos, no entanto, comprou um cavalo – que ainda está pagando – e o serviço ficou menos pesado.

Ele conta acordar todos os dias às 6h para tomar chimarrão com a companheira antes de ir para às ruas. Passa, em especial, pelos bairros Moinhos d’Água, Conventos, Moinhos e Florestal. Quando volta para casa, separa os resíduos e vende a uma empresa do bairro. Hoje, apesar do baixo número de catadores, o local ainda é conhecido como a Vila dos Papeleiros.

Próximo das famílias

Segundo a secretária de Desenvolvimento Social de Lajeado, Eliana Ahlert Heberle, a construção do local destinado às famílias de recicladores, por parte da administração municipal, ocorreu para regularizar a situação desses moradores, que ocupavam terreno pertencente ao Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). No local, residiam cerca de 40 pessoas.

As equipes da pasta viram a necessidade de desenvolver um trabalho social com as famílias, e iniciaram um projeto de intervenção, com escuta, aproximação e vinculação dos recicladores e suas famílias com a equipe técnica, para que fosse possível entender a realidade e os fatores culturais e sociais envolvidos.

Segundo a coordenadora do Cras Espaço da Cidadania, Fátima Luciane Machado, o trabalho social desenvolvido busca promover aquisições sociais e materiais às famílias de recicladores, potencializando o protagonismo e a autonomia, por meio do desenvolvimento de ações de inclusão produtiva, emancipação e sustentabilidade.

“Fazemos visitas a cada 15 dias. Atualmente, as casas já necessitam de reformas e adequações elétricas”. Segundo Fátima, o Cras estuda essas adequações.

Sobre a Vila

No fim da década de 1990 começou a surgir uma pequena vila às margens da RS-130, onde a comunidade passou a crescer com a coleta e reciclagem de lixo. Algumas moradias irregulares foram montadas no local, além de pontos de separação improvisados.

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