Poluição veicular: inimiga invisível ao meio ambiente e à saúde

IMPACTO AMBIENTAL

Poluição veicular: inimiga invisível ao meio ambiente e à saúde

Falta de dados prejudica tomada de decisão para reduzir as emissões e interfere nas medidas de prevenção à saúde

Poluição veicular: inimiga invisível ao meio ambiente e à saúde
A quantidade de emissões veiculares e seus impactos é uma incógnita. (Crédito da imagem: Luciane E. Ferreira)

De Norte a Sul do Brasil, a população urbana convive com uma inimiga invisível: a poluição veicular. Não existem informações exatas sobre a quantidade de emissões, porque não há medição. A exceção é a capital paulista. Os altos índices levaram a metrópole a implementar, em 1997, o rodízio de placas. O sistema foi criado para reduzir o tráfego e a poluição, melhorar a mobilidade urbana e estimular o uso do transporte coletivo. O sistema de rodízio já dura 28 anos. Entretanto, as emissões ainda são um problema em São Paulo, assim como nas cidades brasileiras mais populosas.

Resguardadas as proporções, Lajeado, o município mais populoso do Vale do Taquari, não é diferente. Segundo dados do Detran, a cidade tem 42,8 mil carros de passeio, o que representa um para cada 2,2 habitantes. Se somar a estes as motocicletas, as camionetas e os utilitários, são 70,8 mil veículos – um para cada 1,3 habitante. No total – com caminhões, ônibus e outros – são 79,8 mil veículos.

Na conta das emissões é preciso incluir o fluxo de carros, caminhões e ônibus que passam pelas duas rodovias – a BR-386 e a ERS-130 – que cortam o município. E tantos outros que vêm à cidade polo por conta do comércio e da gama de serviços e entretenimento que oferece.

Se considerar as principais cidades da região (veja quadro) – Lajeado, Arroio do Meio, Encantado, Estrela, Taquari, Teutônia e Venâncio Aires – são 250,2 mil veículos. “São 250 mil veículos rodando, que causam poluição, porque emitem CO2 por conta da queima da gasolina e do diesel, já que pouco se usa o etanol”, destaca o professor doutor em Engenharia Ambiental e Sanitária, Odorico Konrad. A quantidade de emissões e seus impactos é uma incógnita. “Temos pouca ou quase nada de informações sobre emissões”, completa. De um modo geral, o olhar ao meio ambiente sempre esteve mais focado nos resíduos, na água e nos efluentes. Entretanto, as questões ligadas às emissões atmosféricas nunca tiveram tão forte quanto estão agora. E aí entra o sistema de transporte por conta da dependência dos combustíveis fósseis.

Os ônibus e caminhões são os vilões da poluição atmosférica. “Senão focarmos nos veículos pesados, não conseguiremos fazer a transição da matriz energética que tanto se fala”, alerta o professor. Ele completa: “O biocombustível vai, sim, ser uma resposta para as mudanças climáticas. E vai ser, sim, um grande ganho de saúde pública. As emissões vão parar? Não, mas vão diminuir radicalmente”, aposta.

Transição energética

A transição da matriz energética brasileira passa pelos combustíveis fósseis. Algumas melhorias já ocorreram. O diesel, por exemplo, já tem em sua composição 14% de biodiesel, produzido a partir da soja e do milho. A mistura começou com 2%. A gasolina pode ter em sua composição de 18% a 27,5% de etanol, com origem da cana-de-açúcar – iniciando também com o milho. Assim como os automóveis podem rodar apenas com o etanol, o professor doutor Odorico Konrad destaca que já existe tecnologia, por exemplo, para usar somente o biodiesel, sem mistura com diesel fóssil. Para tanto, o avançar da migração depende de políticas públicas de fomento e compra da produção, a fim de garantir o ciclo produtivo. “Tem que ter uma cadeia estruturada.” A própria produção agrícola, de cana-de-açúcar, por exemplo, contribui para neutralizar as emissões.

Idade da frota interfere nas emissões

Se por um lado a tecnologia aplicada na fabricação de veículos tem avançado, por outro, há de se considerar a idade da frota em circulação. Há, por exemplo, carros que mantêm o motor desligado quando está parado em sinaleiras ou em engarrafamento. Porém, no RS, ainda circulam 643 mil automóveis fabricados entre 1990 e 1997, período de transição, quando saíam das montadoras modelos carburados e com injeção eletrônica.

Atualmente, conforme dados do Detra-RS trafegam 1 milhão de carros com até 10 anos de uso e 1,6 milhão com idade entre 11 e 20 anos de fabricação. Em relação aos caminhões, são 74,4 mil com até 10 anos e 92,8 de 11 a 20 anos. Os ônibus e micro-ônibus somam 10,6 mil e 24 mil, respectivamente.

Saúde pública e mobilidade

Na opinião do professor doutor Odorico Konrad (foto), considerando a quantidade de veículos per capita, Lajeado poderia monitorar as emissões em quatro ou cinco pontos em horários estratégicos a fim de identificar o comportamento em termos de poluição atmosférica. “Seria um levantamento para saúde pública. Poderia cruzar os dados do monitoramento com os da saúde e ver períodos do ano para adotar medidas.” Além disso, embasaria projetos de mobilidade urbana. No entanto, observa: “Não temos como banir os veículos dos centros urbanos se não dermos condições das pessoas chegarem no ambiente urbano”, pontua.

Konrad percebe que Lajeado vem fazendo e vai fazer mais obras para melhorar a mobilidade, mas alerta que vai chegar ao ponto de esgotamento. “A saída é retomar as ciclovias, repensar o transporte coletivo, porque como está não é convidativo, só usa quem não tem outro meio.”

Ele destaca que são fases de transição para evitar as emissões: trocar o combustível, mudar o estilo de transporte. A compensação por meio do plantio de árvores não dará conta se não reduzir as emissões. “Ninguém fica liberado das suas emissões somente plantando árvores.”

Acompanhe
nossas
redes sociais