Diminuir o custo da tarifa, elevar o aporte do Estado, rever parâmetros do estudo sobre o volume de veículos, também sobre a inadimplência do free flow, e estender o prazo de discussão antes de levar o projeto dos novos pedágios para o leilão.
Nestes cinco pontos está a estratégia regional para a reunião de segunda-feira, 17 de fevereiro, com o secretário da Reconstrução Gaúcha, Pedro Capeluppi. O coordenador do processo do plano de concessão do Bloco 2 estará na Univates, a partir das 9h, para debater com líderes locais os encaminhamentos e possíveis revisões na proposta.
“Sabemos que unanimidade não existe. O assunto pedágios mexe com as pessoas. Sempre vão ser os totalmente contra. Mas também precisamos entender que nossa infraestrutura está muito atrasada. Com recurso público, não teremos melhorias. O que precisamos defender é um modelo que não sobrecarregue a população”, argumenta o vice-presidente da Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), coordenador do grupo de debates sobre a concessão, Adelar Steffler.
“Os estudos sobre circulação de veículos e o risco de inadimplência entre 20 e 30% interferem na tarifa. É preciso rever isso, pois interfere no que vamos pagar”, acrescenta o diretor de Infraestrutura da CIC-VT, Leandro Eckert.
Entre os prefeitos, há pontos de divergência, em especial dentro da Associação dos Municípios do Alto Taquari (Amat). Em reunião nessa quarta-feira, os gestores públicos declararam oposição ao modelo proposto pelo Estado.
Como ponto central da discórdia, está o prazo de dois meses para avaliar os estudos, que somam mais de mil páginas de conteúdo. “Temos uma concessão de 30 anos. Precisamos de mais tempo”, reforça o presidente da Amat, o prefeito de Muçum, Mateus Trojan.
Por parte da associação dos municípios da parte baixa (Amvat), o prefeito de Sério, Moisés de Freitas, reforça a importância de cada município fazer a análise própria, em termos de conhecer quais obras estão previstas dentro do perímetro urbano, e se elas atendem a necessidade local.
Pela proposta do Piratini, a concessão do Bloco 2, onde estão as rodovias ERSs 128, 129, 130 e 453 com trechos no Vale, prevê investimentos na ordem de R$ 6,7 bilhões. O modelo de cobrança seria por pórticos automáticos, com o fim das praças físicas, o chamado free flow.
A ideia é concluir o edital neste primeiro semestre e levar para o leilão do trecho entre julho, agosto e setembro. Deste modo, seria possível assinar o contrato neste ano e substituir a Empresa Gaúcha de Rodovias nos primeiros meses de 2026.
Posição do Estado
O governador Eduardo Leite realça que o Estado está aberto ao diálogo com a região, mas ressalta a necessidade de investimentos privados para melhorar a infraestrutura rodoviária. “Temos o compromisso de buscar o melhor para o Vale. É uma região importante, com uma defasagem histórica. O tema pedágios sempre gera polêmica e temos a convicção de que as melhorias só serão possíveis por meio de uma concessão.”
Para ele, é preciso ficar claro que o Estado está fazendo um aporte de R$ 1,3 bilhão, um montante de recurso nunca investido ao longo de décadas por parte da gestão pública. Aumentar, diz, interfere em melhorias previstas tanto para o Vale quanto para outras localidades gaúchas.
“A tarifa de R$ 0,23 é um teto que será disputado em leilão, onde vencerá quem oferecer o maior desconto. O objetivo é garantir o maior volume de obras possível, com um valor adequado”, disse.
De acordo com o chefe do Executivo, os investimentos previstos no plano incluem a duplicação de 244 quilômetros de rodovias, a construção de 103 quilômetros de terceiras faixas e a reconstrução de 16 pontes. “Nos primeiros dez anos, teremos R$ 4,5 bilhões investidos na região, o que equivale a R$ 500 milhões por ano. Isso é mais do que o Estado conseguia investir em todo o território gaúcho antes das concessões.”
A região definiu cinco eixos prioritários para a discussão com o Estado:
- Redução da tarifa
O valor teto proposto de R$ 0,23 por quilômetro rodado é considerado elevado, especialmente diante do perfil socioeconômico da região. Líderes locais defendem uma tarifa mais acessível, entre R$ 0,14 e R$ 0,18 por quilômetro. - Aumento do aporte do Estado
O investimento de R$ 1,3 bilhão do Fundo de Reconstrução do RS (Funrigs) é visto como importante, mas precisa ser maior frente aos prejuízos das tragédias climáticas e aos mais de 25 anos de pagamento de pedágio não convertido em melhorias estruturais. - Revisão dos estudos de tráfego
O VDM (Volume Diário Médio) abaixo de 15 mil veículos em rodovias como a 130 e 453 interfere na capacidade de arrecadação. Com a interrupção do tráfego devido a queda da ponte de Lajeado e Arroio do Meio, junto com a precariedade em trechos pedagiados, interferem na logística, tanto que motoristas têm preferido buscar rotas que não passem pelo Vale. - Risco de inadimplência
O Estado calcula uma evasão entre 20% e 30% do pedágio no modelo automático (free flow). Experiências no país apontam que esse percentual tem ficado em no máximo 10%. Para a região, é preciso rever esse raciocínio. - Mais prazo de discussão
Os líderes locais consideram insuficiente o prazo de dois meses para analisar os estudos, que somam mais de mil páginas. Eles pedem mais tempo para uma avaliação detalhada.