Disputado retorno às aulas

Opinião

Aline Ferreira

Aline Ferreira

Disputado retorno às aulas

Com as temperaturas nas alturas no Rio Grande do Sul, o retorno às aulas foi adiado, disputado, devolvido, comemorado, contestado, negociado…

Nossa reflexão de hoje recai sobre a seguinte pergunta: ‘Mediante a todas as discussões, em que momento os professores foram ouvidos? Em que momento a escola foi escutada sobre suas condições’?

Uma discussão polarizada dentro de gabinetes e departamentos, onde não faltam argumentos de defesa para ambos os lados. Uma queda de braços. Sobram justificativas entre setores, falta diálogo com o magistério.

Eu acho o debate legítimo, as razões expostas são nobres. O que eu questiono (como reflexão), é sobre a fidedignidade de um acordo que não ouve os professores. Um discurso argumentativo construído independente ao que as comunidades escolares pensem sobre.

Me parece uma inversão de papeis. Ora, se estamos falando de voltar para as escolas (ou não), quem volta (ou não) são os agentes das comunidades escolares. Sendo assim, não seriam estes os protagonistas? De que forma, ou em que parte do processo entendeu-se que virariam coadjuvantes? Meros coadjuvantes a espera de um veredito.

Gosto e acho pertinente contar, que quando entrei no magistério, na década de 1990, (e eu era uma jovem cheia de sonhos para a Educação), uma das coisas mais lindas que eu aprendi, e que naquele momento fez muito sentido, foi sobre uma aprendizagem contextualizada à realidade do aluno. Do contrário, a ineficiência presente no uso de métodos ou ferramentas que não sejam condizentes. Uma jovem vinda do interior, mas especialmente de uma infância muito carente cheia de limitações, senti na pele ausência de políticas públicas mais acolhedoras, como também experimentei o cotidiano de uma escola pública desnutrida, incapaz de oferecer além do básico.

O tempo passa e eu vivo a renovar meus votos feitos dentro do magistério, este compromisso que aprendi a respeitar. Continuo acreditando em uma Educação que precisa ouvir pessoas. Valer-se de gráficos e números, mas não às portas fechadas, sem incluir as vozes daqueles que constroem a rede de Ensino, e que inclusive estão permeados nestes gráficos e números.

A Educação comporta processos computáveis, mas supremamente construída em caráter intangível.

É preciso ter a sensibilidade de compreender que a base se faz no sensorial, sinestésico, compreende o uso íntimo e intenso de todos os sentidos, sendo percebido in loco, e por isso não cabe em medidas, e não é sempre computável.

Não penso que ouvir a comunidade escolar irá promover uma ação imediata que solucione a todos os problemas, (desafios são inerentes e incessantes a qualquer ecossistema em evolução). Entretanto, negligenciar ou surrupiar o protagonismo do espaço de fala, maquia problemas e impulsiona agravantes.

A escuta ativa por parte das governanças deve ser uma prática intrínseca aos processos, deve haver constância neste diálogo. Deve ser ininterrupto, independente de programas ou ciclos governamentais. Guiado por parâmetros inter-relacionados aos interesses sociais, econômicos e de desenvolvimento humanos.

Uma organização que respeita a horizontalidade nas relações, entende que para edificar grandes empreendimentos, é preciso a união dos diferentes atores da sociedade civil, e que desde a construção de um “simples” Calendário Escolar, e que a contribuição de todos pode implicar em resultados exitosos, ou catastróficos.

Importante lembramos sempre que nos detalhes, moram as respostas. Então “se liga ou não o ar condicionado”, quem sabe é quem “está lá!

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