É compreensível a preocupação (ou a indignação) dos moradores de Encantado com o plano de concessão das rodovias proposto pelo governo do Estado. E os motivos são simples.
Desde 1998 (há 27 anos), no governo de Antonio Britto (MDB), os encantadenses, principalmente, foram “presenteados” com uma praça de pedágio dentro de seu território, no distrito de Palmas.
E os benefícios dessa “porteira” de longe foram satisfatórios, tanto no período da concessionária Sulvias, como depois com a administração da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) criada por Tarso Genro (PT).
O contrato estabelecido à época com a Sulvias era apenas de manutenção da rodovia (roçadas, tapa-buracos, recapeamentos), sem maiores investimentos, como bem me lembrou o advogado e ex-vereador Luciano Moresco. Tanto que era comum a realização de mobilizações, protestos e audiências públicas com a participação de lideranças e da população em tom de cobrança contra a empresa pela ineficiência do serviço.
Quem não lembra do tal engenheiro que raras vezes falava em nome da concessionária? Ou da novela que foi a busca por melhorias no Trevo do Peteba, no entrocamento entre as rodovias 129 e 332, em razão de inúmeros acidentes. Teve até atropelamento com morte de uma criança, que comoveu a todos. E a ação drástica da equipe da Prefeitura na derrubada das árvores dos canteiros a fim de melhorar a visibilidade de motoristas e pedestres? E a atuação do Ministério Público, na ação do promotor André Prediger contra a EGR, que resultou na liberação das cancelas do pedágio por um tempo? Só para citar alguns exemplos.
Obra, de fato, que recordo, só ocorreu com a EGR, a partir de 2015, na construção da rótula do Trevo do Peteba, após insistência do já extinto Conselho Comunitário de Regiões Pedagiadas (Corepe), que chegou a ter Moresco e o atual prefeito Jonas Calvi como presidentes. Mesmo assim, convenhamos, muito pouco ou nada de extraordinário para quem pagou cifras milionárias em pedágio por mais de duas décadas.
Nesse contexto, embora a atual proposta de concessão seja diferente, com argumentos da equipe de Eduardo Leite baseados em investimentos bilionários, cobrança de tarifa mais justa pelo sistema free-flow (será?) e obras que transformarão a realidade atual de nossa infraestrutura rodoviária nos próximos anos, não vou tirar o direito dos encantadenses de, pelo menos, ficarem ressabiados quando esse assunto vem à tona.
Nova rede de alta tensão preocupa moradores
Contrários à instalação de rede de alta tensão sobre suas casas, no traçado que abrange as ruas Gênova e Duque de Caxias, no Bairro Jardim da Fonte, moradores buscam apoio das autoridades para convencer a concessionária de energia elétrica a alterar o projeto.
Após protocolar denúncia ao Ministério Público, eles estiveram na sessão da Câmara de segunda-feira, 10, para conversar com os vereadores. E ontem, 12, reuniram-se com o prefeito Jonas Calvi e equipe. “Sabemos da demanda por aumento da oferta de rede de energia em nossa região, mas somos contra este traçado”, refere um trecho do documento.
Risco de acidentes, alta densidade populacional, infração às leis de acessibilidade e danos à saúde estão entre os principais argumentos dos 250 moradores. Aliás, segundo o grupo, há outros traçados mais seguros e de menor extensão para instalar a rede, sem residências próximas. O alerta foi dado!
Associações de prefeitos se posicionam sobre o plano de concessão
As duas maiores entidades que representam os municípios da região alta do Vale do Taquari e da serra se posicionaram sobre o plano de concessão das rodovias. Em nota oficial divulgada nesta semana, tanto a Associação dos Municípios do Alto Taquari (Amat), que reúne 18 associados, quanto a Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), com 37 filiados, demonstraram contrariedade ao atual modelo proposto pelo governo do Estado para o bloco 2.
Porém, os argumentos apresentam pontos distintos. Enquanto a Amat pede mais tempo para debater a proposta e um aporte maior de recursos do Estado, a fim de diminuir o valor da tarifa, a Amesne não concorda com o projeto de instalação do sistema de pedágio free-flow.
Deslizamentos na Santa Clara
O vereador Valdecir Gonzatti (PSDB) cobrou agilidade do governo de Encantado em ações de prevenção nas áreas do bairro Santa Clara afetadas por deslizamentos na catástrofe de maio. “Imaginem o desespero das 70 famílias. Como vão dormir tranquilas quando chover?”, disse o parlamentar.
Preocupação maior tem a Associação de Moradores Altos da Santa Clara. A entidade criada para tratar desse tema trabalha com base em um laudo técnico assinado por um geólogo, cujo parecer classifica a região mapeada, no trecho às margens da rodovia 129, como de “alto a muito alto” para risco de deslizamentos. Estudos mais detalhados tambémm precisam ser feitos, observa o presidente da associação, Rodrigo Artus. “É preciso devolver a segurança aos moradores desta área da cidade”, acrescenta. Com toda razão!
Eu pergunto:
Qual o futuro do plano de concessão das rodovias?
Perceberam-se nos últimos dias novos movimentos do setor político, de líderes de entidades e da própria população, atentos à proposta do governo do Estado. Na próxima sexta-feira, 21, encerra o prazo determinado pelo Piratini para a consulta pública do Bloco 2.
BASTIDORES
- “Será que vale a pena colocar asfalto nas ruas?”, foi a pergunta em tom de reflexão que fez o vereador Cris Costa (PSDB), ao tratar das altas temperaturas dos últimos dias. “Temos que pensar em plantar árvores”, emendou.
- Na próxima semana, está agendada uma reunião entre a equipe do governo de Encantado e diretores da empresa responsável pelo estacionamento rotativo pago. A ideia é reativar o sistema, suspenso desde a enchente de maio.
- Desejo do setor ervateiro da região alta do Vale, o reconhecimento da Indicação Geográfica (IG) foi concedido neste mês a municípios gaúchos que integram a Associação dos Produtores de Erva-Mate de Machadinho (Apromate). São eles Barracão, Cacique Doble, Machadinho, Maximiliano de Almeida, Paim Filho, Sananduva, Santo Expedito do Sul, São João da Urtiga, São José do Ouro e Tupanci do Sul.
- Promessa da secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, logo após a grande enchente de setembro de 2023, a construção de um novo hospital para Roca Sales segue no radar do prefeito Mazinho (PP). Conforme o gestor, o terreno sugerido nas proximidades da Praça da Matriz não foi aprovado pelos técnicos do Estado. Agora, uma área no bairro 21 de Abril surge como alternativa para receber a nova Casa de Saúde. O proprietário tem interesse em doar o terreno.
- Ainda em Roca Sales, Mazinho disse em entrevista à Rádio A Hora que é “um lutador para que o centro da cidade fique onde está”. Para isso, obras de proteção estão nos planos do governo.