Justiça ambiental para quem?

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Justiça ambiental para quem?

A responsabilidade é sua. Então, dê um jeito. Separe o seu lixo. Tome banho em menos de 5 minutos, de preferência com água fria, vá aos pés dia sim e dia não, evite o ar-condicionado, mesmo com os 45° lá fora. Use mais a bicicleta e deixe o carro, comprado em 240 parcelas, guardado na garagem. Afinal, a queima de combustíveis fósseis é a grande vilã do aquecimento global. E, claro, a tragédia no Vale do Taquari também é culpa sua.

Será que essa narrativa faz sentido? Enquanto você se vira para economizar água e luz, os grandes poluidores do mundo — China e Estados Unidos — continuam de braços dados com as emissões de gases do efeito estufa. Para os poderosos do mundo, pouco importa a transição energética ou as metas climáticas. O que importa é a produção, a competição e ser o líder deste amontoado destruído.

Ainda assim, a responsabilidade é sua, cidadão comum, que mal consegue pagar as contas no fim do mês. Essa, talvez, seja uma das maiores injustiças ambientais: os países que menos contribuíram para as mudanças climáticas são os primeiros a sofrer as consequências dos episódios extremos.

Enquanto os grandes poluidores seguem impunes, nações como Cabo Verde, um paraíso entre a África e a Europa, estão sumindo do mapa. As ilhas estão sendo engolidas pelo aumento do nível do mar. E o que fazem os países desenvolvidos? Nada. Ou pior: planejam como lucrar com o caos.

Mensagem nos escombros do bairro Passo de Estrela, em Cruzeiro do Sul. (Foto: Filipe Faleiro)

Os Estados Unidos, por exemplo, já estão de olho na Groenlândia. Com o derretimento das geleiras, a região se tornará um canal navegável estratégico para o comércio no hemisfério norte. Enquanto isso, o governo norte-americano sai do Acordo de Paris e declara “emergência energética” para justificar o uso desenfreado de combustíveis fósseis. Não é que eles não acreditem no aquecimento global — a ciência já provou que é real. Os CEOs do mundo só não estão dispostos a abrir mão dos lucros.

E o que dizer dos bilionários que viajam em jatinhos luxuosos, como Neymar ou o Gusttavo Lima? Um único voo desses emite o equivalente a 50 anos de banhos quentes de alguém como eu ou você. Mas, claro, a responsabilidade é sua, que mal pode pagar o gás de cozinha.
A

justiça ambiental deveria ser global, mas virou um jogo de “cada um por si”. Os grandes poluidores continuam poluindo, os bilionários continuam vivendo como reis, e o resto de nós? Bem, o resto que se afogue ou derreta no calor infernal — literalmente.

E aqui a gente fala mal do Lula também

Aquele que prometeu transformar o Brasil em um líder mundial da transição energética, mas que, na prática, parece mais preocupado em manter as velhas práticas do que em abraçar o futuro. Sim, aqui também tem espaço para criticar o presidente Lula 3.0.

Desde 2002, Lula adota um discurso ambientalista que, na teoria, soa lindo. Mas, na prática, pouco se vê de concreto. O Brasil não tem uma política nacional robusta para abandonar os combustíveis fósseis. Não existe um plano claro de transição energética que incentive de verdade as fontes renováveis.

Em vez disso, o que se vê são subsídios para velhos modelos poluentes de produção e de geração de energia. E, enquanto isso, as repartições públicas ligadas ao meio ambiente continuam com recursos escassos, sempre em segundo plano.

E não venham me dizer que o Brasil é um “país verde” enquanto a Amazônia continua bate recordes de desmatamento. As queimadas seguem um problema grave, com poucos avanços reais em monitoramento.

Se o governo federal quer mesmo ser um expoente mundial da transição energética, precisa fazer mais do que discursos. Precisa investir em políticas públicas consistentes, em incentivos reais para energias renováveis e em um plano nacional que abandone de vez os modelos poluentes.

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