Com “bateria nota 10”, Cascata segue rumo aos 50 anos

CULTURA

Com “bateria nota 10”, Cascata segue rumo aos 50 anos

O bloco carnavalesco foi criado em 5 de fevereiro de 1976 e se tornou uma escola de samba. Por anos, desfilou nas ruas de Lajeado e reuniu centenas de pessoas para festejar a alegria e o samba no pé. Rumo ao cinquentenário, o Cascata ainda preserva a paixão pelo batuque e reúne foliões todos os anos, um dos únicos grupos que se manteve mesmo entre os altos e baixos do Carnaval local

Com “bateria nota 10”, Cascata segue rumo aos 50 anos
Nos anos 1980, vinha gente de toda a região acompanhar os desfiles na Júlio de Castilhos. O Cascata foi campeão cinco vezes. (FOTOS: DIVULGAÇÃO)
Lajeado

A tradição do Carnaval lajeadense é antiga, passou por muitas fases, blocos, escolas e por várias gerações. Um dos únicos ainda em atividade, o hoje chamado bloco Cascata acompanhou muitos desses altos e baixos. Criado em 1976, vivenciou o auge do Carnaval da cidade nos 1980, quando desfilava como escola de samba na rua Júlio de Castilhos.

Desde então, se adaptou às diferentes épocas e maneiras de celebrar a data e, hoje, ainda mantém viva a folia, sempre com a característica “bateria nota 10”.

O batuque do Cascata

Para Marco Aurélio Rozas Munhoz, 62, o Keko, um dos fundadores do bloco, a bateria sempre foi o coração do Cascata. “O Carnaval de Lajeado se inspirava no modelo do Rio de Janeiro, era bem completo. Nos desfiles, o Cascata sempre sempre se destacou na bateria, todo ano era nota 10”, lembra.

O apreço pelo Carnaval está no sangue da família Munhoz. O avô de Keko fundou um dos blocos mais antigos ainda em funcionamento no RS, na cidade de Lavras do Sul.

Lajeadense, Munhoz ainda lembra dos bailes da antiga escola de samba Maracangalha. Em 1975, o Carnaval de Lajeado parou de acontecer. Então, no verão de 1976, no dia 5 de fevereiro, um grupo de jovens de 13 e 14 anos se reuniu na esquina das ruas Tiradentes e João Abott para fundar uma nova escola de samba: o Cascata. “O nome veio de uma gíria da época, que mudava de conotação conforme o contexto. Dali surgiu a cor azul e o símbolo do peixe”.

Keko foi o primeiro presidente do bloco. Algum tempo depois, nasceu o principal rival do Cascata, a Sociedade Recreativa Batutas (Soreba). “Mas o Cascata sempre foi muito popular, tínhamos umas 400 pessoas”.

Da escola saíram outras, como a Explode Coração, Alegria de Viver e Deixa Sambar. A última, nos anos 1980, se tornou uma grande concorrente do Cascata. Conforme Keko, o bloco conquistou cinco títulos, os Carnavais de 1978, 80, 81, 85 e 86.

O Carnaval naquela época movimentava a cidade o ano inteiro. Em julho, ocorriam as olimpíadas entre as escolas de samba, no Parque do Imigrante. “A gente competia em vários esportes e depois tinha baile no Caixeiral”, lembra.

A folia sempre foi muito ligada ao Clube Tiro e Caça. Na época, a sede ainda era na rua João Batista de Mello e a festa acontecia dentro do salão, onde era anunciado o vencedor do Carnaval. Naquele tempo, além de Lajeado, Estrela, Roca Sales e Taquari tinham desfiles.

Vinha muita gente de Porto Alegre acompanhar o desfile. Cada escola de Lajeado tinha um parceiro na capital, o do Cascata era a escola da Restinga. “Vinha passista da capital. Lajeado era um dos carnavais mais importantes do Estado, só ficava atrás de Porto Alegre e Uruguaiana. Isso acabou por inflacionar e os custos ficaram muito altos”, conta. O último desfile ocorreu em 1986. “Eu acredito que o Carnaval de Lajeado é cíclico, aquele foi o momento de encerrar”.

Nos anos 1990, um grupo de amigos reorganizou o Cascata e transformou a antiga escola de samba em um bloco. Em 2001, no entanto, o Cascata voltou a desfilar e ganhou a disputa daquele ano, assim como em 2003.

Nos anos 1980, vinha gente de toda a região acompanhar os desfiles na Júlio de Castilhos. O Cascata foi campeão cinco vezes. (FOTOS: DIVULGAÇÃO)

Tempos áureos

Entre os fundadores do Cascata também está Marcos Antônio Bald, o Markinhos. Pouco mais velho que Munhoz, Markinhos foi estudar em Pelotas logo depois da fundação do bloco. “O samba de lá teve influência em mim e quando eu voltava para cá, trazia algumas referências. Aos poucos, fomos criando juntos o ritmo do Cascata, com novas batidas para a região”, lembra.

Naquela época, conta, em pleno verão, o grupo abria mão de ir para praia para ajustar instrumentos, ajudar nas preparações e conseguir patrocínio para o Carnaval. “Tínhamos figurinistas para fazer os desenhos das alegorias e fantasias, mas foram muitos dias em que, depois dos ensaios, o pessoal ficava e ajudava a construir os carros alegóricos e preparativos”, recorda.

O desfile era por volta das 20h e a pontuação se dava entre a quadra do Banco do Brasil e do Banrisul. “Lembro de estarmos trabalhando nos últimos ajustes, por volta das 16h, e víamos as pessoas chegando com as cadeiras, já esperando o desfile e querendo guardar os melhores lugares”, cita.

Entre as principais memórias da época, está a competição entre as escolas. “Meu irmão era de outra escola, a gente escondia as fantasias e os planos do Carnaval um do outro. O Cascata sempre foi bom de bateria e isso que ficou no fim, o samba no pé”, destaca.

Para Markinhos, nunca se deixa de gostar de Carnaval. “Acredito que, dentro de uma escola de samba ou de um bloco, a gente cresce e evolui. No Cascata, aprendi sobre liderança, amizade, administração de recursos, pessoas. É preciso lidar com frustrações e tomar decisões. Acho que isso trouxe influência para muita gente. É um orgulho muito grande fazer parte da família Cascata.”

De pai para filho

Markinhos foi um dos fundadores do Cascata e, hoje, o filho Pedro segue no bloco. (Foto: Raica Franz Weiss)

Markinhos toca tarol na bateria do Cascata até hoje e não é o único da família envolvido com o Carnaval. Os filhos seguiram a tradição. Pedro Henrique Bald, 30, hoje integra a diretoria do Cascata e já foi presidente do bloco.

“Desde que eu nasci estou no meio disso. Já não tinha mais os desfiles de antigamente, mas em 2001 houve o retorno do Cascata. Eu era criança, mas lembro que participei da bateria, tocando chocalho”, conta Pedro.

Conforme ele, o Cascata sempre andou muito pelo bairro Florestal, então se criou uma proximidade com o Clube Lajeadense. Nos anos 2000, os instrumentos musicais do Cascata foram incorporados pela torcida do time de futebol. “Foi uma forma de manter o batuque vivo para além do Carnaval. O ritmo sobreviveu fora do bloco e manteve as pessoas unidas de alguma forma”, destaca.

O baile de Enterro de Ossos, realizado há cerca de 10 anos, retomou um pouco da tradição carnavalesca. “O baile sempre junta muita gente e acaba por ser um lugar de encontro de gerações. A essência do Cascata sempre foi reunir família e amigos através do samba”, destaca Pedro.

Todo ano, no Enterro de Ossos, o Cascata apresenta dois enredos, os mesmo dos carnavais de 2001 e 2003, e ainda toca músicas atuais com samba enredo para animar. “O primeiro ensaio foi nessa semana agora. Antes do baile, tem uma galera da bateria que toca em bares. É muito legal. São cerca de 40 pessoas na bateria e todo mundo é voluntário”, comenta. Em 2024, em torno de 1,3 mil pessoas participaram do baile.

O Enterro de Ossos 2024 reuniu cerca de 1,3 mil pessoas no CTC, a próxima festa está agendada para o dia 8 de março

“Nosso grande objetivo é que o Cascata continue em atividade até os 50 anos, em 2026. Temos a ideia de descer a Júlio de Castilhos com a bateria, para movimentar o Carnaval como era uma vez. O Cascata é o único daquelas antigas escolas que continua ativo e queremos chegar aos 50 anos.”

Presidente do Cascata atualmente, Rodrigo Compagnoni Villa, 41, participou do bloco pela primeira vez em 1998. “Apesar de ser um movimento cultural com viés de festa e diversão, é uma grande responsabilidade representar a história de uma entidade que consegue se manter em evidência por 50 anos”, destaca.

“Sinto-me grato por fazer parte do time que está à frente da organização. Em Lajeado, o Cascata talvez seja a única oportunidade que as pessoas têm para ver de perto uma bateria e sentir a emoção do que isso representa”, conclui.

Participe do Enterro de Ossos

  • Quando – Sábado 8 de março, a partir das 22h
  • Onde – Salão Social do Clube Tiro e Caça de Lajeado
  • Ingressos – Somente na secretaria do CTC, a partir do dia 04/02
  • Camisetas – Limitadas e podem ser adquiridas na secretaria do CTC

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