Acelera e Freia

Opinião

Rogério Wink

Rogério Wink

Acelera e Freia

Gosto de utilizar metáforas que ajudam a entender cenários complexos. Quanto mais simples melhor. A economia brasileira, atualmente, mais parece uma viagem de ônibus em que o governo e o Banco Central são os motoristas e ambos compartilham a direção. De um lado, o motorista principal – o governo federal – acelera o veículo, buscando chegar rápido ao destino: a reeleição em 2026. Para isso, ele decide ampliar os gastos e promover o crescimento, mesmo que isso signifique desconsiderar boas práticas de equilíbrio de política fiscal e gestão econômica. O aumento dos gastos é visto como uma forma de gerar aceleração, mas essa pressa pode fazer o ônibus desviar da estrada e encontrar grandes buracos pelo caminho.

Do outro lado, temos o motorista auxiliar – o Banco Central. Ele vê a estrada cheia de buracos e, mais preocupado com a inflação, tenta frear a viagem usando a política monetária. Sua tentativa é desacelerar, subindo os juros para reduzir a velocidade do ônibus e evitar que a viagem se torne mais perigosa. Seu foco está em controlar a inflação, uma ameaça que afeta diretamente os passageiros da viagem: a população. Com a inflação, os custos aumentam, o poder de compra diminui, a confiança dos empreendedores cai e os buracos na estrada se tornam mais profundos e podem fazer com que o ônibus não suporte.

Neste cenário, a viagem parece um jogo de “acelera e freia”. De um lado, o governo quer que o ônibus chegue rapidamente e bem ao destino (2026), ignorando os riscos da estrada (mercado). Do outro, o Banco Central tenta manter a viagem mais controlada, ainda que mais lenta, para proteger os passageiros e as condições do ônibus. Mas o que acontece quando os motoristas têm visões tão diferentes? Um acelera e o outro freia. Isso é como uma receita para o caos.

Se este ônibus fosse de fato uma viagem física, em uma estrada real, é fácil imaginar que ele sairia de controle na primeira curva, gerando um acidente grave. Mas e a economia brasileira? A situação é diferente, mas igualmente arriscada. O modelo atual de aceleração e desaceleração simultânea pode gerar grandes incertezas. Com o governo tentando acelerar, a inflação pode disparar, prejudicando toda a população, enquanto o Banco Central tenta frear, o que pode reduzir o crescimento da economia.

A verdade é que, em qualquer viagem, a harmonia entre os motoristas é essencial. Se o governo e o Banco Central (os dois motoristas) continuarem a tomar direções opostas, o ônibus – ou, nesse caso, a economia – vai encontrar dificuldades pela frente. É preciso um equilíbrio, onde ambos se entendam e alinhem suas estratégias. Afinal, em uma estrada cheia de buracos, é preciso cuidado para não acelerar demais e sair da pista, mas também não se pode frear tanto a ponto de travar o crescimento. O melhor seria que ambos os motoristas acertassem o pedal e conduzissem o país a um destino mais seguro e sustentável.

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