Conexão e saúde mental em harmonia

ATENÇÃO ÀS REDES SOCIAIS

Conexão e saúde mental em harmonia

Do detox digital à inspiração para hábitos saudáveis, usuários e especialistas discutem os desafios de usar as redes sociais de forma consciente e sem comprometer o bem-estar

Conexão e saúde mental em harmonia
Kailani busca compartilhar nas redes conteúdos sobre saúde e bem estar, a fim de incentivar suas seguidoras. (Fotos: arquivos pessoais)

Em uma era de hiperconectividade, as redes sociais exigem atenção. De um lado, a comparação, a desinformação e o cuidado com a saúde mental. De outro, a utilização da ferramenta para incentivar hábitos saudáveis, autoestima e autocuidado.

A linha entre um e outro é tênue e, muitas vezes, não é percebida pelos usuários. A utilização das redes pode se tornar prejudicial e não é raro perceber pessoas que desativam perfis para se afastarem desse meio.

Para quem trabalha com a internet, esse desafio é constante. A psicóloga e influenciadora Jéssica Cristine Dick, 31, diz ser importante olhar para a relação com as redes sociais e entender os limites saudáveis.

“Entendi que a rede social é uma ferramenta que eu preciso usar ela, e não ela me usar e com isso comecei a observar o que eu consumia lá, e como eu me sentia com os conteúdos”. A psicóloga ressalta que os conteúdos nas redes ajudam a modelar a visão de mundo, por isso é essencial escolher de forma consciente.

Mais do que interferir no comportamento, o uso excessivo ou indevido das redes pode causar outros problemas e é nesse sentido que a expressão “brain rot”, ou “podridão cerebral”, vem crescendo. A expressão descreve a deterioração mental ou intelectual causada pelo consumo excessivo de conteúdos digitais. Estudiosos percebem esse declínio cognitivo também afetando o foco em tarefas cotidianas.

Na rotina de Jéssica, ela procurou parar de seguir perfis que não faziam sentido com o que buscava para a vida e, por outro lado, começou a seguir páginas que a inspirassem. “Esse detox digital foi importante para reavaliar minha forma de consumo. Separei períodos em que me permito fazer a checagem, verifico o que importa, interajo com as pessoas e acompanho conteúdos que sinto que me agregam de alguma forma”.

A psicóloga e influenciadora Jéssica diz ser importante olhar para a relação com as redes sociais e entender os limites saudáveis

Para a psicóloga, as redes sociais são potentes de várias formas, mas cabe a cada um saber usá-las de forma benéfica. Além do consumo, Jéssica também se preocupa com o que compartilha no perfil do Instagram @psicojeh.

Ao final de cada dia, a psicóloga compartilha o que chama de “insights terapêuticos”, para que ajude as pessoas a refletirem sobre si e suas vidas. Ela também cuida da saúde mental com terapia toda semana, atividade física, leituras e momento em contato com a natureza. “Aprendi a valorizar muito mais o momento presente quando percebi o quanto ficar conectada já tinha me tirado”.

O real atrás das telas

Para a influenciadora, modelo e atual princesa da Expovale, Kailani Barbieri, 22, esse processo de mudança ocorreu quando ela percebeu o vazio que sentia com a vida que levava. A virada de chave veio com os treinos na academia e a busca por uma alimentação saudável, priorizando cada vez mais a saúde, a família e os propósitos pessoais.

No caso dela, as redes sociais tiveram um papel importante. A cada publicação, um incentivo próprio para continuar. “Comecei a ver que podia inspirar outras pessoas a começarem a se movimentar. Pra mim também serviu como motivação para melhorar cada vez mais como pessoa”.

Com o aumento de seguidores no perfil do Instagram, também veio a responsabilidade e o cuidado em postar conteúdos relevantes e que agreguem valor. Ao compartilhar a rotina de exercícios físicos, alimentação e trabalho, ela espalha bons hábitos, mas também reforça o cuidado com a jornada de cada um, sem comparações.

“As pessoas têm que se colocar como prioridade na vida, pensar mais nelas e não no próximo. Levar as pessoas que divulgam conteúdos na internet como fonte de inspiração, mas nunca como comparação, porque se não a evolução vai ficar estagnada sempre”.

Pensar em desistir das redes já passou pela cabeça dela. Nesses momentos, Kailani lembra o motivo de ter iniciado. Nas postagens, também procura ser real, mostrar seu rosto e corpo sem filtros e, muitas vezes, sem maquiagem. “Quando mostramos quem a gente é, criamos uma conexão muito maior com quem nos acompanha”.

Uma era sem filtros

Desde o dia 14 de janeiro, alguns dos efeitos e filtros de realidade aumentada, criados por usuários do Instagram para aprimorar fotos e vídeos, foram retirados da plataforma. Apesar da decisão da Meta – empresa que administra a rede social – estar mais envolvida com questões econômicas, a mudança levantou o debate sobre a autoestima e a rejeição da autoimagem.

A psicóloga Carine Bernhard Duarte explica que a remoção dos filtros realmente impactou na vida de muitos usuários, visto que eles utilizavam a ferramenta para modificar a própria imagem. Por meio das tecnologias, removiam manchas da pele e linhas de expressão, alteravam o tamanho de nariz e boca, ou mesmo mudavam a cor dos olhos. Tudo isso para evidenciar características irreais e serem aceitos pela sociedade.
“É preocupante pois temos uma geração de crianças que não se permitem estar sem batom e rímel. Isso acende um alerta”, destaca Carine. A psicóloga ressalta que o Brasil é campeão em cirurgias plásticas no mundo. “O que estamos deixando para essa geração quanto necessidade de imagem? Que imagem é preciso ter para ser aceito e existir identificação?”, questiona.

O ambiente virtual também tem alta influência sobre as expectativas em relação à vida real. Quanto mais as pessoas consomem o Instagram e TikTok, mais elas criam a necessidade social de se adequarem aos padrões publicados. “Ali é um recorte da vida das pessoas. Cada um recorta o que quer divulgar da sua vida, não o que ela é de fato”, ressalta a psicóloga.

“Detox” das redes

As redes sociais foram criadas com o propósito de conectar amigos e aproximá-los de conteúdos relevantes e de interesse comum. No entanto, para o médico e advogado, Bruno Carriço de Oliveira, 39, esse objetivo se perdeu ao longo do tempo. As redes tornaram-se um espaço de veiculação de notícias e opiniões que nem sempre são analisadas com profundidade, tanto por quem publica quanto por quem visualiza as postagens. Fato que o levou a abandonar o Instagram há cerca de um ano.

“O compartilhamento em escala exponencial e instantânea de uma fala ou fato por qualquer pessoa, sem o aprofundamento necessário, levou a um ambiente de divisão e emburrecimento”, afirma Bruno. “Se nem todos os envolvidos em um acontecimento tem a oportunidade de se expressar, não há como cumprir a máxima do jornalismo de ouvir a todos os lados antes da divulgação dos fatos”.

Outro ponto analisado pelo advogado é a segurança da informação. A incerteza sobre o armazenamento de fotos e dados, bem como o modo que esse material pode ser utilizado para fins da inteligência artificial, sem o real consentimento do usuário, o preocupam. “Nas circunstâncias atuais, não pretendo voltar para a rede. Porém, a comunicação e a troca de informações seguirão existindo, mesmo que por outros meios”.

Viver o presente

A psicóloga Carine revela que, assim como Bruno, muitas pessoas estão fazendo o chamado “detox digital”. Para ela, esse movimento pode ser benéfico, visto que a sociedade ainda não compreendeu a real necessidade de ter a rede social. É preciso entender “qual o propósito dela na minha vida e como eu quero me relacionar com essa ferramenta, pensando na forma como ela vai existir no meu dia a dia”.

Segundo a especialista, quando uma pessoa sente a necessidade de se afastar das redes sociais para viver mais o “aqui e agora”, pode obter benefícios para a saúde mental e emocional.

Para manter o equilíbrio

  • Estabelecer limites
  • Limitar o tempo que passa nas redes sociais
  • Desativar notificações não essenciais
  • Criar zonas sem tecnologia, como horários ou locais específicos
  • Fazer pausas intencionais do uso das redes sociais

Praticar autoconhecimento

  • Trabalhar o autoconhecimento para evitar sentimentos de inferioridade
  • Refletir sobre o impacto das redes sociais nas emoções
  • Manter um diário para identificar padrões e motivar a redução do uso
  • Buscar apoio profissional
  • Considerar apoio psicológico em casos mais graves
  • Buscar orientação e suporte de um psicólogo ou terapeuta

Outras dicas

  • Seguir pessoas que inspiram e produzem conteúdos que condizem com a sua realidade
  • Evitar publicar sua rotina e intimidade na internet
  • Não comparar sua vida com a das outras pessoas
  • Praticar atividades físicas ao ar livre

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