Um Vale onde o cinema sempre esteve em cena

Luz, câmera e ação

Um Vale onde o cinema sempre esteve em cena

Enquanto o Brasil comemora o recorde de salas de cinema no país, o Vale do Taquari se destaca pela tradição de apreciar a sétima arte desde a década de 50

Um Vale onde o cinema sempre esteve em cena
Desde 2013 a Arcoplex é a responsável pelas salas de cinema do Lajeado Shopping. (Foto: JÉSSICA R. MALLMANN)
Vale do Taquari

O Brasil iniciou 2025 com a marca de mais de 3,5 mil salas de cinema espalhadas por todo o país, fato que reforça o compromisso com a democratização do acesso ao audiovisual e a inclusão cultural. Esse avanço levou a sétima arte a cidades que antes não contavam com espaços dedicados à exibição de filmes. Cenário diferente do Vale do Taquari, região que desfruta de salas de cinema desde a década de 1950, e consolida-se como um polo cultural no estado.

“O cinema, de forma geral, contribui muito para o desenvolvimento cultural global, atingindo todas as classes com programas de acesso à cultura”, enfatiza o gerente administrativo da Arcoplex Lajeado, Paulo Ricardo de Souza.

A exemplo, ele destaca o Projeto Escola o qual permite que todos os educandários tenham acesso a preços diferenciados para aproximar o público à cultura e expandir as discussões de assuntos diversos dentro das salas de aula.

Desde 2013, a Arcoplex é a responsável pelas salas de cinema do Lajeado Shopping, espaço que já exibiu inúmeros sucessos e clássicos da sétima arte. Paulo revela que, apesar de estarmos na chamada “era dos streamings”, o cinema ainda tem um espaço cativo no coração dos amantes de filmes. O movimento reduziu, mas ainda é possível encontrar sessões lotadas.

Cine Teatro Real era um dos principais pontos de encontro de Arroio do Meio, na década de 50

“Sempre achei que o streaming iria acabar com as salas de cinema. Hoje percebo que não há concorrência, pois são experiências completamente diferentes”, destaca. Para ele, apesar das novas tecnologias permitirem que as pessoas assistam qualquer filme em casa, nada se compara a vivência de frequentar o cinema, degustar a pipoca e presenciar a magia dos telões.

A escolha dos filmes

O período de férias e a exibição de grandes títulos influenciam no movimento das salas. Seja um sucesso internacional ou uma produção brasileira, a escolha dos filmes é fundamental para manter ativo o cinema.

“Os títulos são escolhidos nas apostas das produtoras e a reação do público a campanhas publicitárias”, explica Paulo. Ele revela que os longas nacionais têm baixa procura, pois o cinema nacional é pouco valorizado. Ainda assim, o filme “Ainda Estou Aqui” atraiu um número expressivo de espectadores, dispostos a conhecer a história ou mesmo reviver a época da ditadura.

O cinema pelo Vale

Cine Teatro Marabá foi construído em 1949

O Cine Teatro Marabá, em Encantado, foi uma das primeiras salas de cinema, construída em 1949. O espaço com 600 poltronas costumava lotar nas sessões noturnas de domingo, realizadas após a missa, e era um dos motivadores da aglomeração de jovens na rua Júlio de Castilhos, que aguardavam a abertura do cinema. As atividades encerraram em julho de 1984.

Outra casa muito conhecida na região, era o Cine Teatro Real, de Arroio do Meio, inaugurado em fevereiro de 1954. Instalado na Rua General Daltro Filho, o cinema possuía 700 poltronas com tela de projeção panorâmica, além de um toca-discos que animava o público antes das sessões. Por mais de quatro décadas, foi palco de manifestações artísticas e culturais, e funcionou como cinema até meados de 1986. Após, o prédio foi utilizado como espaço cultural.

O último “cinema de calçada”

Cine Alvorada lotava as sessões durante a exibição dos sucessos de bilheteria. (Foto: arquivo)

Em Lajeado, o Cine Alvorada foi inaugurado em 1966, no número 151 da avenida Alberto Pasqualini, para suprir a demanda do então Cinema Avenida. As mil poltronas nem sempre eram suficientes para comportar o público, que lotava as sessões durante a exibição dos sucessos de bilheteria.

O espaço foi um dos últimos no modelo “cinema de calçada”, quando salões eram utilizados para instalar os telões e acomodar o público para assistir os sucessos da sétima arte. O Cine Alvorada encerrou as atividades após três décadas.

Dos salões ao shopping

Cine Alvorada lotava as sessões durante a exibição dos sucessos de bilheteria

Em 1994, inaugurava o antigo Unishopping, e junto com ele, duas salas de cinema do Grupo Arcoíris.

Na época, as sessões costumavam ter cerca de 40 espectadores, porém nas férias, passava dos 100 visitantes por dia.

Hoje, o modelo de cinema em shoppings é o predominante no país, sendo, inclusive, uma âncora para atrair clientes às lojas e movimentar as praças de alimentação.

Lajeado é o único município que ostenta um cinema neste modelo, na região.

 

 

Bilheteria recorde

Produção nacional, o longa “Ainda Estou Aqui” foi sucesso de público, uma vez que ultrapassou 3 milhões de ingressos vendidos nos cinemas de todo país. Segundo a Agência Nacional do Cinema (Ancine), a bilheteria foi a maior da história das produções nacionais pós-pandemia.

Em Lajeado, mais de 20 mil pessoas assistiram ao filme, que rendeu um Globo de Ouro para a atriz Fernanda Torres. Ela se tornou a primeira atriz brasileira a ganhar o prêmio, considerado um dos mais importantes do cinema mundial.

Para o diretor de cinema, Maciel Fischer, a recepção do público para a narrativa de “Ainda Estou Aqui” chama a atenção, uma vez que, historicamente, as maiores bilheterias de filmes nacionais são associadas ao gênero comédia. A qualidade técnica, assim como a crítica e os prêmios, são apenas alguns dos motivos que instigaram os brasileiros. O fato de retratar uma história real também pode ter despertado o interesse.

“O filme vai muito além da performance espetacular da atriz Fernanda Torres, pois nos faz refletir sobre um passado, nem tão recente, e perceber que o cinema é muito mais que um entretenimento, o qual é capaz de nos transportar para uma outra época, nos proporcionando enriquecimento cultural e histórico”.

Sobre o filme

“Ainda Estou Aqui” é inspirado no livro de Marcelo Rubens Paiva sobre a história da própria família. A obra se passa em 1971, durante a ditadura no Brasil, e narra o momento em que militares prenderam o pai de Marcelo, o ex-deputado Rubens Paiva, interpretado por Selton Mello.

Acompanhe
nossas
redes sociais