“Atuar como bombeira é honrar a memória de familiares”

ABRE ASPAS

“Atuar como bombeira é honrar a memória de familiares”

Thais Tischer, de 26, passou quase quatro meses em Portugal, atuando como bombeiro florestal. A teutoniense é mãe de Martha, que tem quase três anos. Distante mais de 9 mil quilômetros, Thais contou com o apoio da mãe, que compreendeu a oportunidade e o desejo se honrar a memória de familiares

“Atuar como bombeira é honrar a memória de familiares”
Foto: divulgação

Há quanto tempo é Bombeira Civil e o que te motivou a buscar a profissão?

Me formei em abril de 2024. A motivação foi totalmente pessoal. Perdi meu pai em um acidente de altura, em 2006, devido a falta do uso de EPI. E minha irmã no incêndio da Boate Kiss. Atuar como bombeira é como se fosse uma forma de manter a memória deles viva em mim, além de poder prevenir situações semelhantes.

Quais as experiências mais marcantes que viveu até então?

Depois de formada, atuei auxiliando de forma voluntária nas enchentes que atingiram o Vale do Taquari em maio de 2024. Algo que me marcou foi a falta de preparo e estrutura das comunidades. Mesmo com os agentes públicos sabendo da possibilidade das cheias, dias antes.

Mas a experiência mais marcante que tive foi atuar como Bombeiro Florestal em Portugal, na temporada de verão. Recebi o convite ao final do curso de formação, através da própria escola. Trabalhar diretamente na linha de combate às chamas é exaustivo fisicamente, devido ao calor, ao esforço físico e as horas contínuas de trabalho. E psicologicamente, pois houve momentos em que tivemos de recuar diante das chamas. Ficou a sensação de impotência, a vontade de ajudar a todos e o desafio de lidar com as notícias de falecimento de bombeiros em combate.

Nos últimos 10 dias de campanha, a situação estava bem crítica no país. Haviam inúmeras frentes de combate, pois os incêndios eram enormes por todo o norte de Portugal. Não se via mais o céu azul, era apenas uma neblina cinza. As rodovias estavam interditadas, mal se podia localizar as colunas de fumo, devido à baixa visibilidade. Havia inúmeras projeções de chama, mal se conseguia apagar um incêndio, outro já estava começando. A situação só melhorou quando começou a chover.
Qual aprendizado essa experiência te proporcionou?
Que conhecer novos lugares é incrível, mas que nosso país é maravilhoso. As pessoas, a cultura, a natureza e as oportunidades são exuberantes aqui.

Como lidou com a saudade da filha?

Realizava chamadas de vídeo com ela a cada três dias e minha mãe sempre enviava fotos e vídeos, me deixava a par sobre a saúde e o desenvolvimento. Explicávamos para ela que eu havia voado de avião e que estava trabalhando como bombeira. Ela compreendia e até falava isso para médicos e outras pessoas, quando perguntavam sobre mim. Me recordo que a melhor sensação que tive foi de colocá-la para dormir, no dia que retornei ao Brasil. Tê-la em meus braços, deitada comigo novamente, foi indescritível.

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