Cuidado com as narrativas

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Cuidado com as narrativas

“O perigo de uma meia verdade é você dizer exatamente a metade que é mentira.”
Millôr Fernandes

Ontem à tarde Nicolas Maduro tomou posse como presidente da Venezuela. Numa eleição onde as denúncias de fraude foram a tônica, fica difícil acreditar que o que restou da Venezuela possa ser chamado de democracia.

Aliás, a deterioração da representatividade popular no país vizinho nesse momento em que tanto se discute a democracia no próprio Brasil, é um sinal de alerta de que nada é impossível de acontecer, inclusive o pior. Na Venezuela, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais de 7,7 milhões de venezuelanos emigraram na última década. É gente que largou tudo por desesperança quando não desespero.

Lula não foi convidado para a cerimônia, mas o Brasil de toda forma mandou um representante a Caracas para acompanhar a cerimônia e de certa forma chancelar o acontecido. Talvez um dia isso seja motivo de vergonha…

De toda forma convém lembrar que a percepção e as atitudes do governo brasileiro com relação a Venezuela mudaram nos últimos dois anos. Em maio de 2023 Maduro foi recebido em Brasília com honras de chefe de Estado. Naquela ocasião, a fala presidencial foi a seguinte: “Se eu quiser vencer uma batalha, eu preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo. Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, de antidemocracia e do autoritarismo.”

Em julho de 2024, com vários países denunciando fraude na reeleição de Maduro, a posição de Lula mudou bastante: “Eu não aceito nem a vitória dele e nem a da oposição. Eu acho que tem um negócio, a oposição fala que ganhou, ele fala que ganhou, mas você não tem prova. Então, nós estamos exigindo a prova. Obviamente que ele tem o direito de não gostar porque eu falei que era importante que convocassem novas eleições”

Quando analisamos o que mudou nesse intervalo tão curto de tempo nos deparamos com duas palavras importantes, História e Narrativa. São coisas bem diferentes e existe uma fórmula fácil de diferenciar uma da outra: A história é o que acontece, enquanto a narrativa é a forma como se conta o que aconteceu.

Por isso narrativas são a essência da política, seja para o bem ou para o mal. Elas são tanto o resultado visível das ideologias como o resultado invisível de estratégias nas guerras políticas. Pensando assim as narrativas políticas são na verdade estórias convincentes para atingir algum fim político (desde ganhar uma eleição ou promover a aprovação de uma política pública específica). Se prestarmos atenção veremos que as narrativas têm uma definição, um enredo e personagens (herói, vilão e vítima). Depois da sua criação, a narrativa é disseminada por grupos que normalmente se importam mais com o poder do que com o bem comum.

Por isso é bom prestar muita atenção nas narrativas até porque algumas delas , para usar outra palavra da moda, podem ser fake news.

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