No mesmo mês em que Lajeado chega aos 134 anos, o Arquivo Histórico Municipal completa suas três décadas de existência. Inaugurado em 12 de janeiro de 1995, preserva uma série de materiais e documentos, alguns que datam do século XIX, antes mesmo da emancipação do município. No acervo, estão quase 80 mil peças, entre livros códices manuscritos, ofícios, cartas, leis e decretos, além de fotografias, mapas, plantas e croquis, que ilustram o passado em imagens.
A historiadora Adriana Jachetti é a responsável pelo espaço, onde trabalha desde 1996. “Quando comecei no Arquivo, ele funcionava no porão da Casa de Cultura, em uma pequena sala cheia de estantes”, lembra. Na época, uma equipe conduzia os primeiros movimentos do acervo.
“Já existiam fotos e os livros códices, e trabalhamos para identificar o conteúdo e catalogar cada um, em uma tabela manual”, conta Adriana. “Todas as identificações precisavam ser feitas a lápis, já que os arquivos não podiam ser danificados.”
Em 1996, o atual prédio da biblioteca pública municipal foi inaugurado, na rua Júlio de Castilhos, e o Arquivo passou a ocupar uma sala no segundo andar, onde continua até hoje. “Na época, além do Arquivo, eu também trabalhava na biblioteca e participei da inauguração em outubro de 1996, tem até uma foto oficial que apareço bem no canto”, recorda.
Hoje, o Arquivo recebe visitantes, em maioria, estudantes que estão aprendendo sobre a história do município. O espaço também está aberto para consultas históricas nos documentos para interessados.
Cartas em língua alemã
Entre os destaques do acervo, Adriana cita um conjunto de cartas escritas em língua alemã, entre 1946 e 1947. As correspondências eram entre moradores de Conventos e seus familiares na Alemanha, que, na época, enfrentava as consequências do fim da Segunda Guerra Mundial. “Esses documentos trazem uma perspectiva muito interessante sobre a história num geral. Retrata a falta de habitação no pós-guerra, a miséria, a destruição”, destaca.
O professor e historiador Wolfgang Collischonn foi responsável por traduzir as cartas, escritas, em parte, em alemão gótico ainda. Filho de imigrantes alemães e natural de Marques de Souza, ele foi alfabetizado em alemão gótico pela própria mãe.
“As cartas são bem dramáticas, por assim dizer. Os familiares da Alemanha contavam os desafios e, de modo sutil, pediam ajuda dos parentes brasileiros”, conta Collischonn. Na época, explica, havia um serviço norte-americano que levava comida e itens básicos para os europeus no pós-guerra. “Eles tinham os nomes das pessoas e isso permitia que famílias do mundo todo fizessem doações específicas.”
A tradução das cartas foi feita ainda nos anos 1990. Collischonn ajudou com outros materiais do Arquivo, títulos de obras alemãs e livros. Aos 90 anos, trabalha em outra tradução, dessa vez, sobre a imigração da região de Hunsrück, na Alemanha. “Quero levar uma cópia para o Arquivo quando eu terminar.”
Para o historiador, a preservação de documentos antigos é importante, principalmente, por causa das novas gerações. “Eu vivi muito dessa história, assim como meus pais, mas os jovens não têm como conhecer senão por meio dos registros. Por isso, gosto da frase: ‘Quem não tem história, não tem memória’”, destaca Collischonn.
Para Adriana, o Arquivo preserva um patrimônio único. “Ele representa a memória de Lajeado e toda a região, já que muitas cidades, hoje emancipadas, pertenciam ao município. Todos os materiais que temos aqui contam sobre a história das localidades.”
A partir desses registros, salienta Adriana, é possível resgatar a memória da comunidade. “Permite criar um panorama de outras épocas, outros costumes. É possível se situar na história”, reforça.
Fotografias históricas
Entre os documentos iconográficos, estão quatro álbuns de fotografias. O chamado Álbum do Jubileu de Diamante, concentra fotos das comemorações dos 75 anos de Lajeado e tem 46 fotos. Outros álbuns mostram a inauguração da Ponte de Ferro, entre Lajeado e Arroio do Meio.
“Nesse dia, houve a visita do Interventor Cordeiro de Farias que, além da inauguração da ponte, participou de jantares, bailes e da 3ª Exposição do Milho em Lajeado”, conta Adriana. Tudo está registrado em 37 fotografias. Entre os itens curiosos, ela cita um antigo cartão postal da Alemanha, que também apresenta saliências de um disco, e toca uma canção germânica.
Digitalização dos arquivos
Parte dos códices e impressos do Arquivo foi digitalizada, quase 500 deles, por meio do projeto “Salvaguarda do Patrimônio Documental Histórico de Lajeado”. O trabalho foi feito pelo Centro de Memória, Documentação e Pesquisa do Museu de Ciências da Univates (CMDPU) e encerrou em 2021.
Desde então, o próprio Arquivo tem continuado com as digitalizações. Os documentos podem ser consultados de forma online no site da prefeitura, pela página da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, clicando na aba “Acervo Histórico Municipal Digital”.
O documento mais antigo
O material mais antigo do acervo é de 1877, um livro códice de um caderno de matrícula escolar de uma pequena escola de Conventos. O caderno era do professor Adão Aloísio Rockenbach, e conta com o nome e registro dos alunos, filhos de imigrantes alemães, na maioria.
Na época, o educandário funcionava junto à casa enxaimel de Rockenbach, construção de 1860 que existe ainda hoje. Entre os alunos matriculados no ano de 1877, pode-se encontrar os sobrenomes Süptitz, Richter, Schuster, Kappes, Pfluck, Schmidt, Krummenauer, Mann, Bender, Weizenmann, Sieben, entre outros. A pequena escola deu origem à atual Escola Municipal São José de Conventos, que fica ao lado da igreja da comunidade.