A sanção presidencial, no fim dezembro, da lei que trata da produção, exportação, registro, pesquisa, comercialização, uso, e fiscalização dos bioinsumos traz segurança jurídica a práticas que estão em ascensão, tanto em nível nacional quanto regional. “São considerados bioinsumos todos os produtos, processos ou tecnologias de origem vegetal, animal ou microbiana, que interfiram positivamente no crescimento, no desenvolvimento e no mecanismo de resposta de animais e de plantas”, conceitua o engenheiro agrônomo Lauro Bernardi.
Assistente Técnico Regional em Sistema de Produção Vegetal na Emater-RS/Ascar, Bernardi destaca que o Brasil passou a ser considerado, nos últimos anos, uma estrela em ascensão no uso de bioinsumos na produção agropecuária. “O que lhe rende pontos na diferenciação de seus produtos, sejam orgânicos ou convencionais, tanto para consumo interno como na pauta de exportação.” A substituição de insumos químicos associada a adoção de práticas de manejo adequadas permitem a produção cada vez maior, de alimentos e mesmo de commodities, sem resíduos de agrotóxicos. “Esta é considerada a primeira fase de uma agricultura de transição para níveis mais satisfatórios de sustentabilidade e autonomia das famílias.”
Por muito tempo, observa o engenheiro agrônomo, a pesquisa neste campo do desenvolvimento tecnológico ficou marginalizada a partir do interesse de grandes corporações que se beneficiaram de um modelo produtivo centrado em tecnologia química.
“A lei aprovada teve a sabedoria ao compatibilizar interesses que oferece segurança jurídica à indústria, ao mesmo tempo em que manteve a autorização para a produção na propriedade para uso próprio de forma individual ou na forma associativa, vedando a comercialização desta produção.”
Na prática
Um exemplo prático desta potencialidade de redesenho de sistema produtivo é a unidade didática implementada no Centro Regional de Treinamento de Agricultores (Certa) que fica na Granja do Colégio Teutônia. O propósito é zerar o uso de agrotóxicos no cultivo de minitomate grappe.
O engenheiro Lauro Bernardi conta que a principal praga que ataca o tomate é a traça (Tuta absoluta). Na Certa, ela é controlada com monitoramento, armadilha luminosa e vespinhas Trichogramma que predam ovos desta mariposa antes de virarem lagartas. “Doenças igualmente são monitoradas, se prevenindo com biofungicidas à base de fungos e bactérias. Como resultado, temos um produto de elevada qualidade com resíduo zero de agrotóxicos.”
Armadilhas e receitas caseiras garantem produtividade
Há cerca de 8 anos, o casal de agricultores José Roberto e Betris Franz deixaram a produção de suíno para terminação e de gado de leite. “Já estávamos cansados do trabalho pesado”, lembra Betris. Parte da terra, no bairro São Bento, em Lajeado, foi arrendada. Entretanto, a vocação de cultivar e produzir alimentos não deu espaço à aposentadoria. A convite da engenheira agrônoma da Emater-RS/Ascar, Andréia Binz Tonin, Betris participou de um treinamento e voltou para casa com a certeza de que poderia realizar um sonho antigo, produzir morangos.
O casal começou com uma estufa. Hoje, são seis. Desde o início, o propósito era trabalhar com produção de base ecológica, sem o uso de agroquímicos. Basta circular pelas estufas e observar garrafas coloridas penduradas, flores plantadas abaixo das bancadas, vasilhas com água, lâmpadas. Cada apetrecho têm uma função, atrair ou espantar insetos, por exemplo.
A colheita é variável. De agosto a janeiro é o período de maior safra, entretanto a produção da fruta ocorre o ano todo. A venda dos moranguinhos é direta ao consumidor. Embora dê trabalho, cultivar é uma tarefa carregada de satisfação.
Impacto positivo na venda, distribuição e aplicação
Para a engenheira de alimentos Vanessa Johann Smaniotto, a nova lei terá um impacto muito forte, e positivo, na segurança, na qualidade e na padronização de processos e produtos. Vanessa e o marido Gustavo Smaniotto são proprietários da empresa Rizosfera, com escritórios em Lajeado, Dom Pedrito e Não-Me-Toque. Há seis anos, desenvolvem e vendem bioinsumos e instalam biofábricas em propriedades rurais de todos os portes.
Segundo Vanessa, os bioinsumos têm relevância econômica, causam menos impacto ambiental e são aplicáveis em todos os tipos e tamanhos de propriedades.