Garantir o pagamento para parte dos credores com garantias e aplicar 50% do resultado da venda do frigorífico de Poço das Antas na operação que começa a dar lucro na cadeia de aves. Esse é o resumo da estratégia da direção da cooperativa Languiru para os primeiros meses de 2025.
No entendimento da gestão liquidante, a venda direta da unidade de suínos é desaconselhada devido à possibilidade de alienação. A forma mais indicada é por meio do leilão. Para proceder, é necessário autorização judicial.
O recesso do judiciário vai até a próxima semana. “O leilão garante segurança para quem compra, pois adquire o bem livre de pendências”, ressalta o presidente liquidante, Paulo Birck.
Há dois credores que têm como garantia o complexo. São dois agentes bancários. Juntos, precisam receber cerca de R$ 50 milhões. “Nosso intuito é vender o ativo, depositar em um fundo judicial esse débito. O restante vamos dividir: parte para quitar outras dívidas e outra parte para investir na produção de aves”, destaca.
Caso consiga a autorização, o desejo da direção é lançar o leilão entre março e abril. “Com isso, poderíamos encerrar todo o processo até metade do ano. Temos pressa, pois faz mais de ano que o frigorífico está parado”, diz Birck.
O complexo industrial está avaliado em R$ 169 milhões. Pelo formato de leilão, serão duas chamadas. A primeira pelo valor total da unidade. Em seguida, por 50% do valor, partindo de aproximadamente R$ 84 milhões.
Resultado positivo
A direção da Languiru pretende apresentar os detalhes sobre as atividades de 2024. A data ainda não está definida, mas espera-se que ocorra ainda em janeiro. Balanço financeiro prévio mostra que o retorno do abate em três turnos no frigorífico de Westfália, combinado com o corte de despesas e a parceria na produção de leite, foi capaz de estancar os prejuízos acumulados.
“Ainda não tenho os dados todos apurados. Mas podemos antecipar que vamos fechar o ano no azul”. O principal motivo está na cadeia do frango. O complexo industrial atingiu 98% de uso da capacidade graças à parceria com a JBS. São 153 mil aves abatidas por dia. Deste total, 27 mil são com a marca da Languiru. A cooperativa é a administradora do frigorífico e presta serviço para a JBS.
ENTREVISTA
Paulo Birck,
• presidente liquidante da cooperativa Languiru
“Houve uma gestão irresponsável e o erro foi não proteger o associado”
A Hora – Qual é o status atual do processo judicial para a venda do frigorífico da Languiru?
Paulo Birck – Estamos preparando o leilão judicial para garantir segurança ao comprador, para comprar o bem livre de pendências. Existem dois credores principais com garantia sobre o frigorífico: o Badesul e o Fundopem. Recebemos do Badesul o valor atualizado da dívida em dezembro. No entanto, ainda aguardamos o mesmo do Fundopem. Para não perder tempo, vamos usar o valor mais recente disponível e depois discutir ajustes. Nossa meta é entrar com o processo até a próxima semana, quem sabe até o dia 10 de janeiro, assim que o Judiciário retomar as atividades.
Nos próximos dias vamos detalhar o processo e garantir transparência. O leilão depende de uma série de etapas. É preciso divulgar no Diário Oficial da União, estabelecer as regras para que as empresas possam se habilitar. Também contratamos um leiloeiro para acelerar o andamento, já que o frigorífico está parado há muito tempo e é essencial movimentar esse ativo. Planejamos concluir os trâmites do leilão entre março e abril, com a transferência completa até junho.
– Qual o valor estimado para o frigorífico?
Birck – O frigorífico foi avaliado em R$ 169 milhões, um aumento em relação à última estimativa de R$ 162 milhões, em especial pela valorização da área, que está em uma região livre de enchentes. O leilão será em duas chamadas. Na primeira, o lance inicial será o valor total da avaliação. Se não houver arrematadores, uma segunda chamada partirá de 50% do valor, ou seja, cerca de R$ 84 milhões.
– Como será usado o dinheiro da venda?
Birck – Dos valores arrecadados, vamos depositar em juízo cerca de R$ 50 milhões para o Badesul e ao Fundopem. Com as sobras, 50% será destinado ao fundo para pagamento de dívidas. O restante será para ampliar a capacidade de alojamento de aves, atendendo à demanda existente.
– Sobre o plano de renegociação, como está a adesão dos credores?
Birck – Temos uma adesão muito positiva, com quase R$ 20 milhões já negociados. Neste ano, vamos contatar aqueles que ainda não se manifestaram. Vamos buscar os credores, explicar o nosso plano. Entendemos que o processo é longo, mas estamos estruturando cada etapa para cumprir nossos compromissos. Estamos mostrando isso ao mercado.
– O que a Languiru projeta para os próximos anos?
Birck – Fechamos 2023 com um prejuízo de R$ 449 milhões, mas já temos indicativos de resultado positivo em 2024. Isso é fundamental para a economia local e para a confiança dos credores. Estimamos que levará de 10 a 11 anos para quitar todas as dívidas, mas estamos comprometidos com o pagamento. A Languiru precisa de tempo, e nosso foco é sensibilizar os credores para que possamos trabalhar juntos na recuperação.
– E sobre as investigações sobre possíveis irregularidades na cooperativa?
Birck – O conselho fiscal está conduzindo uma apuração interna para entender possíveis irregularidades envolvendo associados e funcionários. Além disso, entregamos ao Ministério Público informações sobre isso. Temos alguns indicativos de que houve fraude em balanços e com a supervalorização de ativos biológicos. Cabe a promotoria investigar, eles podem ter acesso a sigilos bancários e telefônicos e determinar as responsabilidades. Houve uma gestão irresponsável e o erro foi não proteger o associado.
Plano de renegociação
Contexto geral
Dívida total: passa de R$ 1 bilhão
Prazo de pagamento: 30 anos
Dívida com garantias: R$ 944,9 milhões
Maiores credores
Bancos: R$ 595 milhões
Fornecedores e terceirizados: R$ 349,9 milhões
Como pagar?
• Renegociação de juros com bancos.
• Aumento na produção de aves e de leite para gerar caixa e reduzir prazos de pagamento.
Distribuição dos pagamentos:
• Credores sem garantias
• Perdão de 75% da dívida (pagamento de 25% restantes)
• Débitos com garantia
• Pagamento de 50% do débito
Leilão reverso
Para os 20% restantes: credores oferecem descontos para receberem pagamento mais rapidamente.