Como foi o ingresso no corpo de bombeiros?
Minha família era muito humilde e a gente passou bastante trabalho, colhia fumo, me virava, capinava pátio com meu pai, trabalhava em obra e tudo mais. Fui para o Exército com 18 anos. Então, fiquei um ano e meio, dois anos no Exército e já comecei a estudar para concurso, fiz a prova de sair do Exército em 2011 e fiz a prova dos Bombeiros em 2012. No primeiro momento fui reprovado, mas segui estudando, pois queria entrar na profissão e, em 2014, passei no concurso. Fiz o curso para soldado em 2017 e ingressei na corporação.
Como chegou ao Vale do Taquari?
Em 2020, tinha o desejo de retornar para a região dos vales para ficar próximo à família. Inicialmente, fiquei em Encantado e depois fui lotado em Lajeado, onde trabalho atualmente.
Como foi esse salvamento em Santa Catarina?
Esse salvamento que aconteceu em 2019 foi um divisor de águas para mim em relação à profissão, porque a gente acaba atuando e trabalhando muitas vezes em incidentes e nem sempre se salva pessoas. Às vezes, acaba perdendo pessoas. E como eu estava iniciando na profissão, eu estava de folga em Santa Catarina, na Praia do Ovidor, com minha família, e era uma praia imprópria para banho e um senhor entrou no mar e começou a ser levado pela correnteza.
E os filhos?
Nisso, os filhos dele observaram, e a esposa também. O filho mais velho, de 21 anos, tentou entrar para tirar o pai, e depois o outro irmão, de 16 anos, também entrou no mar, e vendo os dois irmãos, o mais novo, de 9 anos, também entrou no mar para tentar tirar o pai. Acabou que os quatro estavam se afogando e eu estava na praia, de folga. Não tenho curso de guarda-vidas, mas sabia nadar, sabia me virar bem.
Por que salvar essas pessoas?
Eu tinha conhecimento de natação. E quando se trata de vida, não podemos pensar duas vezes. Eu conhecia aquela área e sabia que não havia salvamento. A praia era imprópria para o banho. Eu pensei comigo que conseguiria e entrei na água para salvar um por um. Todos foram levados para a beira da praia.
O que você pensou na hora do salvamento?
Tive que retirar um senhor da água e ele estava muito afastado já. Nadei uns 200 metros mar adentro. Deus me deu forças porque consegui colocar o senhor em cima de uma prancha. Saímos do mar e fomos até a areia. Chegou uma equipe de policiais e iniciaram o procedimento de salvamento. Fiz manobras para tentar desobstruir as vias aéreas e retirar a água que já tinha entrado bastante nos pulmões. E aí, a gente faz algumas manobras, procedimentos, e devido aos graus de afogamento, eu, sem conhecimento prático, consegui reverter o quadro, que estava muito grave.
Como foi essa promoção do governador?
Foi aberta uma sindicância no corpo de bombeiros. Como eu era recruta ainda na corporação, era soldado. Essa sindicância também é para apontar indícios de salvamento ou atos de bravura, como se chama dentro da nossa profissão, alguma situação atípica, alguém que fez algo fora do local de trabalho, sem equipamentos, como foi o meu caso.