A reconstrução do Vale do Taquari entra em uma fase decisiva em 2025. Após as inundações que devastaram a região nos últimos dois anos, é preciso que os investimentos prometidos se confirmem.
Com base nas maiores necessidades do Vale, o Grupo A Hora listou 25 assuntos estratégicos para o ano. Infraestrutura, habitação, saúde, turismo e segurança pública são os eixos centrais de uma pauta que promete dominar o debate público e político.
Este levantamento apresenta temáticas que estarão no centro das decisões estratégicas, com impactos diretos no cotidiano da população e no futuro econômico. A seleção considerou questões de ordem pública que dependem de ações políticas concretas. O ano exige que o planejamento feito de maio de 2024 até agora se torne em realizações. O cenário de rodovias precárias, déficit habitacional, falta de mão de obra, e reestruturação do futuro das cidades podem redefinir o ritmo de desenvolvimento regional na próxima década.
Infraestrutura rodoviária
1) Concessão das rodovias
Resumo: O governo estadual apresentou uma prévia dos novos pedágios. Em janeiro, está previsto o início da consulta pública. O ciclo de investimento previsto alcança R$ 6,7 bilhões. No bloco 2, estão trechos do Vale nas ERSs 128, 129, 130 e 453.
Análise local: Há aspectos que precisam de mais detalhamento. A tarifa média de R$ 0,23 por quilômetro rodado, o critério do leilão (maior desconto ao Estado e depois a menor tarifa) e o prazo para obras prioritárias, em especial a duplicação da ERS-130 a partir de Encantado.
Prazos: A ideia da Secretaria da Reconstrução Gaúcha é finalizar o edital em abril, para que possa ser levado a leilão ainda no primeiro semestre de 2025.
2) Reconstrução de pontes
Resumo: São diferentes linhas de trabalho, desde doações capitaneadas pela Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT) para dez pontes em estradas vicinais, reconstruções por meio da Defesa Civil regional e nas duas com mais fluxo de veículos (entre Lajeado e Arroio do Meio, pela ERS-130, e a reforma na ponte da BR-386, sobre o Rio Taquari).
Análise local: Hoje, o trânsito leve é pela Ponte de Ferro reconstruída pela iniciativa privada e de caminhões pela passagem provisória instalada pelo Exército, além de estiva ainda a ser liberada. Na BR-386, a limitação de tráfego interfere no transporte de 70% das regiões produtivas do Rio Grande do Sul. O que diminui a competitividade e eleva os custos logísticos.
Prazos: Pela ERS-130, a obra é custeada pela EGR e fiscalizada pelo governo do Estado. Conforme novo cronograma, a entrega ocorre no fim de março. Já o reforço nos pilares da ponte sobre o Rio Taquari (na BR-386), a concessionária CCR ViaSul pretende liberar o tráfego nos dois sentidos também no primeiro trimestre de 2025.
3) Estradas alternativas
Resumo: O governo do Estado colocou tanto o asfaltamento de sete quilômetros na ERS-129 quanto o trecho no alto do Vale como obras prioritárias com recursos do Funrigs (fundo com recursos derivados da suspensão da cobrança da dívida com a União).
Análise local: Os trechos se tornaram estratégicos após a tragédia de maio. Com a queda da ponte, a ligação de Roca Sales e Colinas se tornou uma rota fundamental a Arroio do Meio e a microrregião de Encantado. Já a ERS-332 (Arvorezinha) foi a rota de escape de todo o Norte gaúcho.
Prazos: As duas obras foram garantidas durante reunião em 29 de agosto com uma comitiva de representantes do Vale do Taquari. O asfaltamento (na 129) e o recapeamento da 332 irão começar após a liberação do trânsito sobre a ponte do Rio Forqueta (na 130).
4) Projeto de nova ponte sobre o Rio Taquari
Movimento regional reivindica a construção de mais uma ponte sobre o Rio Taquari. Mesmo com o reforço feito pela CCR ViaSul na passagem entre Lajeado e Estrela, a demanda por uma nova travessia é crescente devido aos problemas de fluxo e segurança na atual estrutura.
5) Duplicação da BR-386
A duplicação entre Lajeado e Marques de Souza deveria ter sido entregue em fevereiro deste ano. A obra, orçada em R$ 120 milhões, foi iniciada em julho de 2021 e enfrentou atrasos devido a licenciamento ambiental, enchentes e problemas contratuais entre a concessionária CCR ViaSul e a empreiteira contratada. A expectativa é pela conclusão no segundo semestre de 2025.
6) Projetos de anel viário
Os benefícios de investir em mais rotas de ligação, com um anel viário para desviar o trânsito leve dos caminhões, traria resultados para além dos limites da região. Por isso, a representação local cobra dos poderes públicos o início dos projetos sobre locais para construção destas alternativas.
Comitiva regional busca apoio de mais entidades estaduais para que o projeto seja custeado pelo Ministério dos Transportes. A ideia é mostrar que se trata de uma reivindicação de todo o RS.
Moradias e planos das cidades
7) Habitação
Governo do RS
O Executivo gaúcho lidera dois programas. A instalação de moradias temporárias. Essa que atingiu a marca de 80 entregas no fim de 2024. O outro é o programa “A Casa é Sua”, com 292 projetos inscritos no Vale do Taquari. Desde a inundação de setembro, estima-se que foram destruídas ou condenadas cerca de três mil moradias em nove cidades do Vale.
Governo federal
Há três programas em andamento pelo Minha Casa Minha Vida (compra assistida, habitação rural e calamidades). Ao todo, são estimadas 2,8 mil moradias de graça para famílias que recebem até quatro salários mínimos. Na compra assistida, em torno de 80 famílias já ganharam as chaves da nova casa.
8) Planos diretores
O governo do Estado contratou a Univates para elaborar os novos planos diretores. Os municípios contemplados são Muçum, Encantado, Roca Sales, Arroio do Meio, Colinas, Estrela e Cruzeiro do Sul, localidades atingidas pelas enchentes de setembro e novembro de 2023 e maio deste ano. Dois estudos, de Zoneamento de risco e regras de ocupação, foram finalizados.
9) Saneamento básico em Lajeado
Resumo: O município de Lajeado está em negociações com a Corsan/Aegea para prorrogar a concessão dos serviços de água e esgoto. A proposta inclui uma outorga de R$ 30 milhões, a suspensão da cobrança de esgoto até 2029 e o abastecimento de água de poços artesianos em bairros ligados a associações.
Análise local: A principal carência está no tratamento de esgoto, com apenas 1,5% a 2% das moradias atendidas pela Corsan ligadas às redes coletoras para tratamento de efluentes. A proposta em discussão visa atingir 90% de coleta e tratamento de esgoto até 2033, conforme o marco regulatório nacional.
Turismo
10) Trem dos Vales
Entidades representativas dos setores produtivos do agro (Farsul), comércio (Fecomércio) e das indústrias (Fiergs) são contra a continuidade da concessão da malha sul com a Rumo Logística. O contrato de concessão termina em 2027.
Dos 3,15 mil km ativos em 1997, restam hoje apenas 1,65 mil, uma perda de quase metade da extensão. A falta de melhorias fez com que o Rio Grande do Sul se tornasse o estado mais dependente do país em relação ao uso de rodovias, com 88% do transporte de cargas sendo realizado por estradas, enquanto a média nacional é de 65%.
11) Inauguração do Cristo
A inauguração do Cristo Protetor está prevista para a Semana Santa de 2025 (no dia 6 de abril), coincidindo simbolicamente com o dia em que a cabeça e os braços da estátua foram içados.
O monumento tem 43,5 metros de altura. A construção começou em 2019. A estátua foi idealizada pelo prefeito Adroaldo Conzatti (in memorian) e financiada por doações da comunidade e empresários locais, sem uso de recursos públicos.
Cultura e ensino
12) Educação Ambiental
O projeto Educame (Educação Ambiental na Escola) chega às redes municipais de ensino do Vale do Taquari. Por meio de um livro aos professores e de uma cartilha aos alunos, procura ensinar noções básicas de contingência familiar em casos extremos.
Após a inundação de setembro de 2023, foi formado um comitê intersetorial. O grupo elaborou a Carta do Vale do Taquari. Em um dos apontamentos, a necessidade de implantar noções de educação ambiental durante o Ensino Fundamental.
13) Reconstrução de escolas estaduais
A inundação de maio foi responsável por interditar 11 escolas no Vale do Taquari. Destas, cinco tiveram perda total e seis com danos parciais. O caso mais rumoroso é a situação do Colégio Presidente Castelo Branco, em Lajeado, maior instituição de Ensino Médio da região. Neste grupo de escolas mais danificadas ainda estão a Fernandes Vieira (Lajeado), a Antônio do Conto (Encantado), Moinhos (Estrela) e Padre Fernando (Roca Sales).
Algumas escolas já têm previsão de retorno, enquanto outras aguardam definição de cronogramas. No Castelinho, a previsão é que as aulas sejam retomadas na escola no segundo semestre de 2025. A escola Fernandes Vieira tem retorno previsto para 2026.
14) Formação e requalificação dos trabalhadores
Resumo: A falta de profissionais qualificados é uma realidade urgente para o setor produtivo gaúcho e, em especial, para o Vale do Taquari. Até 2027, é necessário qualificar mais de 950 mil trabalhadores, conforme aponta o Mapa do Trabalho Industrial.
Análise Local: Após as enchentes de 2023 e do ano passado, as empresas locais enfrentaram dificuldades para preencher vagas e retomar as operações. Na Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), um grupo de trabalho elabora um diagnóstico para cada microrregião, conhecendo o perfil de cada cidade e se aliando às escolas técnicas e universidades para cursos exclusivos.
15) Imigração italiana no RS completa 150 anos
Neste ano que inicia, a imigração italiana no RS completa 150 anos. Para celebrar essa data histórica, há diversas atividades previstas. A primeira reunião da comissão oficial foi em setembro de 2024, com o objetivo de valorizar a herança cultural, a história e as tradições italianas, além de fortalecer os laços de amizade e cooperação entre o Brasil e a Itália.
16) Feiras regionais
Eventos municipais foram cancelados ao longo de 2023 e 2024. Tais como: Estrela Multifeira, ExpoCruzeiro, Fenachim, Festa de Maio e Suinofest.
Estrela Multifeira: A 8ª edição foi adiada e um novo local é previsto para o evento, tendo em vista que o Porto foi destruído pela inundação de maio.
ExpoCruzeiro e Festa do Aipim: A 8ª edição ainda não está confirmada para 2025.
Teutofrangofest: Retornará em 2025 após três anos sem atividades. O evento será realizado em agosto e intercalará com a Festa de Maio.
Fenachim: A 17ª edição volta em 2025. será de 1º a 4 e de 7 a 11 de maio, em Venâncio Aires.
Suinofest: A feira gastronomica de Encantado será nos dois primeiros fins de semana de junho, celebrando os 150 anos da imigração italiana.
Prevenção e contingência
17) Central da Defesa Civil
Resumo: O primeiro Centro Regional de Proteção e Defesa Civil do RS será em Lajeado. O complexo será construído em terreno público, às margens da ERS-130, na área onde está a sede do Daer.
Análise local: O Centro Regional de Defesa Civil faz parte do Plano Rio Grande, que visa adaptação e resiliência climática, coordenando medidas para mitigar consequências econômicas, sociais e ambientais durante catástrofes. As estratégias incluem descentralização dos serviços de proteção, mapeamento de áreas de risco e aumento da capacidade das forças de resposta. A previsão é que o complexo esteja pronto até o fim de 2025.
18) Projeto internacional no Vale
O projeto do Grupo A Hora é um dos 20 escolhidos pelo International Fund For Public Interest Media (FPIM) para monitorar a reconstrução do Vale do Taquari após as catástrofes climáticas de 2023 e 2024. A iniciativa multimídia receberá investimento norte-americano para instalação de tecnologias e contratação de profissionais. A proposta inclui a instalação de 30 câmeras em pontos estratégicos da região, com imagens mostradas em tempo real em uma plataforma digital.
Segurança pública
19) Comando dos bombeiros
A frequência de episódios climáticos extremos, pouco efetivo para atendimento em emergências e demora para análises sobre PPCIs sustentam o pedido do Vale do Taquari para que o governo do Estado crie uma regional dos bombeiros no quartel de Lajeado.
20) Atuação da BM e da PC
Resumo: Com a instalação do Centro Integrado de Comando e Controle, localizado junto ao 22º Batalhão da Brigada Militar, tem-se a possibilidade de fazer o cercamento eletrônico regional. Na investigação, o Estado confirmou a instalação da Central de Polícia em área comprada pelo governo de Lajeado no bairro São Cristóvão.
Prazos: No patrulhamento ostensivo, em 2025 o intuito é ampliar o cercamento eletrônico para mais municípios. Para tanto, é necessário atualizar o sistema de câmeras para o mesmo software usado no Centro. Já as delegacias da PC, as obras começam em 2025, com previsão de término em 18 meses.
21) Complexo do IGP
Resumo: A sede regional do Instituto-Geral de Perícias (IGP) é uma aposta para melhorar a qualidade e a agilidade dos serviços forenses. Atualmente, os deslocamentos para outras regiões comprometem investigações e o atendimento a vítimas. Com a nova sede, espera-se centralizar perícias, necropsias e emissão de laudos, além das emissões de carteiras de identidade.
Análise local: Foi sugerido construir o prédio em área ao lado da futura Central de Polícia. Outra alternativa apresentada é uma parceria entre o IGP e o curso de Medicina da Univates para que estudantes contribuam no atendimento.
Prazos: Houve parecer favorável pela gestão do IGP, mas ainda não há posição do governo do Estado ou previsão de investimentos. Qualquer projeto ou obra depende da aprovação do governo do Estado.
22) Contingência para cheias
A Defesa Civil Nacional iniciou os testes do novo sistema de alerta. Junto com isso, o governo federal destina mais de R$ 16 milhões para estudos na bacia hidrográfica do Rio Taquari e seus afluentes. A ideia é verificar os locais que precisam de desassoreamento.
Saúde
23) HBB como referência
O Hospital Bruno Born (HBB) investe em tecnologia e ampliações. Um contrato foi firmado para implementar sistemas de IA que transcrevem prontuários por voz e capturam informações do paciente durante a consulta. O hospital constrói uma UTI Cardiológica e Centro Cardiológico, o Centro Obstétrico. Também projeta a nova unidade oncológica no oitavo andar e criação de consultórios no sexto andar para locação a profissionais de saúde.
Prazos: A previsão é que o sistema de IA esteja funcional em até seis meses. A construção da UTI Cardiológica e Centro Cardiológico tem previsão de entrega em fevereiro de 2025.
Porto de Estrela
24) Complexo municipalizado e destruído
Resumo: As inundações destruíram máquinas, galpões, depósitos e a sede da E-Log no Porto de Estrela. A nova gestão municipal defende a integração entre setores produtivos, agentes públicos locais e especialistas para formar um projeto sobre o complexo portuário.
Prazos: A recuperação do porto enfrenta desafios e depende de investimentos substanciais para restaurar a capacidade operacional. A municipalização do terreno foi concedida integralmente em abril de 2024, mas não há prazos definidos para a conclusão das reformas e retomada das operações.
Representatividade
25) Eleições de 2026 e o desafio de eleger deputados locais
Resumo: Desde 2010 a região não elege parlamentares exclusivos. Os votos são pulverizados devido a interesses políticos e eleitorais. O ano de 2025 serve para conhecer quem serão os nomes de políticos regionais na corrida por uma cadeira na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal.
A mobilização e o engajamento da população são essenciais para eleger deputados locais que possam representar o Vale do Taquari e trabalhar pelo desenvolvimento regional.