Lei não altera rotina em escolas da região

CELULAR EM SALA DE AULA

Lei não altera rotina em escolas da região

Regras para restrição do uso de smartphones já existem em boa parte dos educandários da região. Atividades alternativas têm se mostrado eficazes para fortalecer a interação entre os alunos e melhorar o foco

Lei não altera rotina em escolas da região
Escolas promovem discussões com a comunidade escolar para compreender os fenômenos da evolução tecnológica (Foto: Envato / divulgação)
Vale do Taquari

Caixas para guardar celulares, novos espaços de recreação, uso de diferentes tecnologias em sala de aula… essas são algumas das alternativas que escolas da região já adotaram para que os alunos não se distraiam nas salas de aula com os smartphones. Apesar de parecer um cenário desafiador, a restrição dos aparelhos já é realidade em muitos educandários e pode, inclusive, trazer benefícios à rotina escolar, como destacam diretores e professores.

Desde o dia 18 de dezembro, a pauta sobre o uso do celular em sala de aula ganhou ainda mais ênfase. Isso ocorreu porque o Senado aprovou a lei que proíbe o uso destes aparelhos em todas as escolas públicas e privadas do Brasil. A medida ainda precisa ser sancionada pelo presidente Lula, mas já gera debates na comunidade escolar.

Sirlei Lohmann, diretora do EEEM Estrela (Foto: Jéssica R. Mallmann)

Apesar de alguns estados e municípios já presenciarem esta realidade em diversas escolas, o país busca uma norma nacional para regular o uso de smartphones. “Retirar o celular não é sinônimo de que não se utilizará as tecnologias na sala de aula, muito pelo contrário, a escola já está preparada com o uso dos Chromebook”, afirma a diretora da Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Estrela, Sirlei Lohmann. Há três anos, a EEEM implementou o uso de caixas para que os alunos deixem os celulares guardados antes de entrar na sala.

A medida foi tomada em conjunto com a comunidade escolar, a fim de melhorar a concentração dos estudantes. “Quando os alunos conhecem as regras da escola e respeitam elas, a proibição do uso do celular (a nível nacional) não é algo tão radical”.

Sirlei sabe que a realidade da EEEM pode ser diferente de muitas outras escolas do estado, mas acredita que, quando a família e os educadores têm a mesma linha de pensamento, a proibição do uso do aparelho é aceita de maneira mais tranquila e gradativa. “O celular é de acesso às redes sociais e isto, poderão fazer nas suas horas vagas, não durante a escola”, afirma.

 

 

Conscientização e outras tecnologias

Edson Wiethölter, diretor do Centro de Educação Básica Gustavo Adolfo

Para o diretor do Centro de Educação Básica Gustavo Adolfo (GA), Edson Wiethölter, o uso da tecnologia é uma prática indiscutível e básica. Hoje a escola utiliza um sistema de ensino digitalizado que auxilia no processo de aprendizagem por meio da gamificação e do uso da cultura de dados. “Continuaremos a integrar a tecnologia de maneira pedagógica e eficaz, sem comprometer a qualidade do aprendizado”.

A direção acompanha a tramitação da lei que, para eles, apenas reforça os princípios já adotados  no educandário, desde 2012. No GA, o celular só pode ser utilizado com a autorização do professor e para fins pedagógicos. Com a nova lei, “a única mudança que precisaremos implementar será a proibição do uso do aparelho durante o recreio, o que não consideramos um problema”.

O objetivo é atualizar o discurso com base na nova lei, para dar continuidade ao trabalho de conscientização de forma profissional e contextualizada.

 

Espaços alternativos

Essa mesma visão é compartilhada com a diretora do Colégio Madre Bárbara (CMB), Maria Elena Jacques. A escola adota um estatuto disciplinar que estabelece as normas de convivência, o qual é compartilhado com pais e alunos. Nele, a restrição do uso de celulares já é prevista há alguns anos e tem sido bem aceita pela comunidade escolar.

“A preocupação da escola é para que os alunos consigam focar mais nas áreas do conhecimento e sejam protagonistas. Dentro da sala o professor é o mediador para construírem juntos”, afirma.

Maria Elena explica que o uso do celular não é totalmente abolido. Hoje, os alunos deixam o aparelho com o professor no começo da aula, em um armário chaveado. No recreio, os jovens podem ter acesso, mas ao retornar à sala de aula eles devem guardá-lo novamente. Para questões pedagógicas, o uso também é liberado, mediante autorização do professor. Mas a prioridade é o uso dos Chromebooks.

Ainda assim, o CMB busca alternativas para tornar o recreio mais atraente e incentivar a interação entre as crianças e adolescentes. Para 2025, o quarto pavimento da escola terá um terraço com jogos e sala multiuso. “A restrição do celular também evita situações de bullying na escola. E esses novos espaços vão incentivar a convivência e fortalecer relações”.

 

Uma lei necessária

diretor do Centro de Educação Básica Gustavo Adolfo (GA), Edson Wiethölter

O movimento pelas instâncias do legislativo demonstram “quão equivocadamente a sociedade geriu e gere com dificuldade as novidades, aspectos da própria evolução”, destaca o diretor do Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat), Rodrigo Ulrich. Para ele, a necessidade de uma lei para regulamentar o uso de celulares evidencia a dificuldade da sociedade em administrar essa ferramenta. Mas se faz necessária.

No colégio, “sempre mantivemos o equilíbrio: proibindo em contextos que não fazia sentido o uso do celular e promovendo o uso em momentos que o professor concebe a relevância para o aprendizado do estudante”. Em sala de aula, também são usados tablets e Chromebooks.

Assim como as demais escolas, o Ceat promove discussões com a comunidade escolar para compreender os fenômenos da evolução tecnológica. E pondera sobre uma proibição total do uso dos smartphones ou outras tecnologias.

“Esta atitude, precisa estar muito clara, ter um sentido bem elaborado para o professor e ser assimilado pelo estudante. Desta maneira vamos nos desenvolvendo como sociedade”, ressalta. “Como geração adulta vamos ensinado os estudantes para uma perspectiva futura”.

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