“O chá é muito mais que uma bebida”

ABRE ASPAS

“O chá é muito mais que uma bebida”

Juliana Montagner, 43, natural de Ilópolis, filha de um dos fundadores da Ximango, cresceu entre as plantações de erva-mate e a fábrica, absorvendo desde cedo o trabalho familiar

“O chá é muito mais que uma bebida”
Foto: Bryan Bicca

Formada em Administração de Empresas pela PUC-RS e é Mestre em Administração de Negócios (MBA) em Gestão Empresarial pela Università Carlo Cattaneo, na Itália, e sua atuação vai além da tradição familiar do chimarrão.

Ao longo de sua trajetória, Juliana encontrou nos chás uma maneira de expandir o legado da erva-mate para além da cuia, atingindo públicos que não possuem o hábito do chimarrão. Seus estudos e experiências internacionais resultaram em produtos premiados em Paris em 2022 e 2023. A empresária conta sobre sua trajetória, o papel do chá na saúde e os desafios de levar um produto enraizado na cultura gaúcha ao cenário internacional.


Como surgiu essa vontade de se especializar em chás?
Tudo começou quando fui estudar na Itália, em 2006, para fazer um MBA em gestão empresarial focado em empresas familiares. Durante esse percurso, me inscrevi em um curso na Associação Italiana de Chás, que formava “caméliers”. Isso abriu meus horizontes sobre o mundo do chá e me fez enxergar uma conexão entre a camellia sinensis e a erva-mate, minha origem. Essa curiosidade me levou a explorar novas formas de levar a planta para além da cuia.

Como tu vê a importância do chá na vida das pessoas?
O chá é muito mais que uma bebida. Ele conecta histórias, culturas e oferece benefícios à saúde. O chimarrão, por exemplo, sempre foi um símbolo de saúde e comunidade no Sul. Meu objetivo é que os chás de erva-mate levem esses benefícios a pessoas que não têm o hábito da cuia. Estudos mostram que os brotos da erva-mate têm capacidade antioxidante e concentração de polifenóis ainda maior que o chimarrão tradicional.

Em que momento você percebeu que queria aprofundar seus conhecimentos sobre a erva-mate aplicada em chás?
Enquanto dava workshops sobre a cultura da erva-mate na Itália, percebi que as pessoas se encantavam com o chimarrão, mas não aderiam ao hábito. Como levar os benefícios da erva-mate para quem não toma chimarrão? Foi assim que surgiu a ideia de criar chás a partir dos brotos da planta, mantendo os benefícios e tornando o consumo acessível a novos públicos.

Como a participação nas colheitas de chá na China influenciou sua visão sobre a produção?
Na China, aprendi sobre a seleção precisa dos brotos da camellia sinensis. Eles colhem apenas as primeiras folhas da planta, com 15 a 30 dias de vida, enquanto no chimarrão, a colheita ocorre após dois anos. Isso me inspirou a testar o uso de brotos de erva-mate. Em 2017, com ajuda de um especialista indiano, realizei a primeira colheita em Ilópolis, produzindo chá-verde e preto a partir desses brotos.

Qual é a principal diferença no consumo de chás que você observou em diferentes países, comparando com o Brasil?
O Oriente tem uma história milenar com chás, especialmente os de camellia sinensis. Na Inglaterra, o chá ganhou nobreza com a monarquia. Já no Brasil, fora a cultura do chimarrão, o mercado de chás está em ascensão, mas ainda falta compreensão sobre qualidade, desde a matéria-prima até as embalagens. Vejo um grande potencial de crescimento aqui.

 

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