Instituído em 30 de junho de 1994 pela equipe do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (FHC), durante o governo Itamar Franco, o Plano Real tinha como objetivo controlar a inflação e estabilizar a moeda altamente volátil, que encarecia os produtos e limitava o poder de consumo da população. A medida inicialmente teve êxito, equiparou o real brasileiro ao dólar americano e controlou a inflação, auxiliando no desenvolvimento econômico que vimos principalmente no início da década de 2000.
Trinta anos após a implementação do Real, no dia 29 de novembro de 2024, a moeda brasileira atingiu sua maior desvalorização histórica, com o dólar atingindo R$6,1. Uma pesquisa realizada pela Austin Rating, apontou que entre janeiro e novembro de 2024, o real se depreciou em 20% em relação ao dólar e se tornou a 7ª moeda que mais perdeu valor no mundo. Conforme análise do consultor de dados financeiros Einar Rivero, o dólar precisaria estar próximo de R$7,50 para refletir um pico real.
A valorização ou depreciação de alguma moeda se deve ao quanto o mercado e os investidores externos confiam em aplicar investimentos em uma nação de acordo com a segurança e estabilidade fiscal que ela oferece. De acordo com os especialistas, as medidas que vêm sendo adotadas pelo Ministro da Fazenda são tidas como as principais responsáveis por disparar o nível de incerteza sobre as contas públicas brasileiras. Quanto maior a percepção de descontrole fiscal e de inflação fora da meta, os investidores tendem a buscar ativos mais seguros, como é o caso do dólar.
Como apontado em entrevista recente pelo economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, quando o dólar sobe, rapidamente o fornecedor ajusta o preço do seu produto e repassa ao comprador em uma cadeia que acaba sendo paga pelo consumidor final. Esse cenário se estende também para os combustíveis, que com o aumento da moeda americana, devem encarecer, impactar o preço do frete, e consequentemente deixar os produtos que chegam nos mercados, lojas, farmácias, por meio do transporte rodoviário de cargas, mais caros.
Além desse impacto que todos devem sentir, o meio corporativo também sofre. Devido a essas incertezas fiscais e políticas, principalmente causadas por essa alta histórica do dólar, os investimentos em ampliação de negócios, na criação de novos negócios e na manutenção dos que já existem podem, de alguma forma, ser prejudicados. E, no final das contas, essa situação pode acabar impactando a geração de empregos que, em algum momento, pode causar uma retração ainda maior para a nossa economia, aumentar a inflação e causar um colapso financeiro.
Enxergo todo esse momento e o futuro com preocupação. Como dito anteriormente, há produtos que são negociados em dólares, como a carne, a soja, o milho e os combustíveis, mas há produtos que são importados para a fabricação de outros artigos, como linhas para a confecção de roupas ou peças para a indústria automobilística. Ou seja, se algo encarece, quem compra paga a conta e esse impacto já começaremos a sentir.
O que podemos fazer, enquanto cidadãos, é acompanhar propostas políticas e pressioná-los para adotarem medidas que estabilizem o mercado e consequentemente resultem no recuo do dólar. Acredito que o país deve encontrar o equilíbrio para poder prosperar e, nesse momento, vejo que ainda não alcançamos esse cenário.