A retomada econômica dos empreendimentos afetados pelas enchentes de 2023 e maio deste ano permanece uma pauta importante para as entidades, associações e líderes regionais que trabalham para reestabelecer a normalidade. Não surpreende que muitos dos estabelecimentos e comércios que já voltaram a atuar ainda permaneçam em áreas de risco e que a insegurança com o futuro agora façam parte de sua rotina.
Em entrevista a Rádio A Hora, o presidente da CIC Roca Sales, Cleber dos Santos, reforçou que o comércio no município vive um momento de renovação e esperança, com destaque para o entusiasmo dos empreendedores, empenhados em reconquistar e superar os patamares anteriores. “Percebemos a motivação, o brilho no olho do nosso comerciante, com esperança e ânimo de reconstruir”, afirmou Santos, que também destacou a chegada de novos empreendedores à cidade.
A maioria das empresas está recomeçando suas atividades, com alguns comerciantes até se mudando para áreas não afetadas pelas enchentes, buscando reerguer seus negócios. Mas para muitos essa realidade ainda não é possível.
Roca Sales
Aberta recentemente, a Cafeteria Doce Sabor é administrada pelos empresários Paulo César Rodrigues e Angélica Wunsch. O estabelecimento é situado próximo da Avenida General Daltro Filho, um dos pontos mais destruídos de Roca Sales. Anteriormente o local era a casa das Lojas Novo Mundo, empreendimento esse que não retornou para o mesmo endereço.
Angélica conta que decidiu encarar o desafio de abrir a cafeteria para dar vida ao seu sonho. “Já trabalhava no ramo, mas saí para buscar o meu objetivo, ter um espaço onde me sinto bem e consigo expor e realizar as minhas ideias. E o município precisa ter um ambiente aconchegante e inovador depois de tanta tristeza”, conta.
Rodrigues aponta que a estrutura estava destruída quando iniciaram os trabalhos para erguer a Doce Sabor. “Toda vidraçaria quebrada, nenhuma mercadoria sobrou no local, foi assim que encontramos, mas assim começou as conversas sobre a nossa sociedade, esse sonho antigo dela e que agora já é uma realidade”, relata.
“Por vivermos tantos anos aqui, continuamos a acreditar no nosso povo que é batalhador e trabalhador. Por eles, por nós e por Roca, seguimos acreditando”, afirma Angélica. A empresária admite que os investimentos feitos ali geraram dúvidas por parte das pessoas já que ainda é uma área de risco. “Mas até 2020 a água nunca se aproximou desse local, e só a partir do ano passado gerou estragos. Claro, ainda é arriscado, mas preferimos encarar o desafio do que passar todo dia por aqui e pensar, esse lugar poderia ser nosso”, reforça a sócio proprietária.
Os empresários salientam que o estabelecimento foi construído pensado para que se uma enchente de grandes proporções ocorrer novamente, seja possível realizar todo manejo e retirada de materiais de forma simples e ágil. Os balcões são de alvenaria, não utilizaram madeira ou MDF no ambiente para diminuir os danos se a água entrar. “Então se esse dia chegar, e tomara que nunca mais aconteça, nós temos a facilidade de retirada de toda mercadoria e bens que aqui estão”, reitera Rodrigues.
Muçum
A Casa Brandão iniciou como um café colonial e se tornou um restaurante que já chegou a atender mais de cinco mil pessoas durante uma temporada do Trem dos Vales. Em fevereiro o empreendimento reabriu as portas e estavam em fase de teste de novo cardápio quando a água voltou a atingir o local. A reabertura agora em dezembro voltou com os serviços que a empresa familiar é conhecida por proporcionar aos seus visitantes nos seus seis anos de criação.
O estabelecimento reabriu aos domingos, das 11h às 15h e por agendamento nos demais dias. O local comporta eventos como batizados, festas de formatura, aniversário e casamento. Para a reabertura foi preciso readequar o espaço devido aos variados estragos que o lodo deixou ao baixar a água. “Cozinha, banheiros, portas, tudo danificado. Foi preciso limpar a estrutura oito vezes para conseguir deixar a situação adequada aos clientes”, conta o proprietário Marciano Brandão.
A reabertura foi incentivada diante da demanda que começou a surgir diante das festas de fim de ano. Em 9 de novembro ocorreu uma eucaristia de duas famílias e um casamento que reuniu mais de 120 pessoas nos espaços da Casa Brandão. Isso fez com que Marciano decidisse apressar os planos de retomada, a princípio estavam exitantes em retornar no mesmo local que foi duramente atingido pelas cheias.
“Existe esse incômodo devido a possibilidades de tragédias futuras. Sabemos que tudo pode voltar a ocorrer e até agora apenas conseguimos nos adaptar para conseguir reabrir, mas ainda falta muito por fazer.
Queremos colocar uma casa num lugar seguro, precisamos disso, e no futuro realocar a Casa Brandão, não queremos ter que viver com incertezas”, afirma o proprietário.
Encantado
O Moinho 332 retornou essa semana após sete meses fechado diante da tragédia de maio. O local não teve nenhum dano nas cheias do ano passado e foi quase destruído pela tragédia de 2024. Com seus serviços de quarta a domingo, o estabelecimento possuí área de lazer, bar, restaurante e espaço para eventos. Fora alguns aspectos menores da parte do restaurante, toda estrutura já está como era e proporcionando os mesmos serviços de antes da enchente.
Administrado por uma empresa familiar que também gerencia outros empreendimentos em diversos setores, o Moinho 332 tem cerca de 15 funcionários. Um dos proprietários, Guilherme Delazeri, conta que foi preciso refazer boa parte da estrutura do local, com nova arquitetura, tudo que havia dentro foi perdido. “Foi uns 60% do espaço feito de novo. Não ficamos contabilizando tudo que gastamos, mas foi tranquilo mais de R$ 1 milhão”, revela.
A possibilidade de não reabrir o Moinho não foi cogitada. “As pessoas vinham até nós e perguntavam quando voltaríamos, que Encantado precisa do 332, todo mundo nos incentivava. E nosso movimento era muito bom, não havia motivo para desistirmos. Essa semana reabrimos e com casa cheia”, relata Delazeri. Parte das reformas utilizou mais metal para amenizar estragos caso outra enchente chegar a estrutura. Por enquanto a família vai se concentrar nesse estabelecimento e não pensa em abrir em outro local ou aumentar a marca.
Necessidade e responsabilidade
A presidente da Aci-E, Raquel Cadore, reconhece que a retomada de empreendimentos em áreas de risco é uma medida necessária que requer cuidado e responsabilidade, pela urgência em reerguer os negócios, que são o sustento de muitas famílias e a própria economia que depende desse movimento. “Ainda estamos vivendo momentos de incertezas, onde segurança e desenvolvimento precisam caminhar juntos e mesmo sendo desafiador, com medidas preventivas e união de esforços, encontraremos o caminho de um futuro mais seguro e sustentável” reitera.