A discussão sobre as concessões rodoviárias traz como ponto central a pergunta: estamos prontos para planejar o futuro? O Vale do Taquari, tantas vezes deixado à margem dos grandes debates, agora se vê no epicentro de um modelo que pode transformar o desenvolvimento regional.
O modelo proposto pelo governo, com o free flow e a promessa de R$ 6 bilhões em investimentos parece, a priori, robusto e sedutor. No entanto, na prática abre mais perguntas do que respostas.
Tarifas de pedágio baseadas em quilômetros rodados podem ser justas no papel, mas como ficam para quem depende dessas estradas no dia a dia? As comunidades do Vale, já tão impactadas por enchentes e desafios logísticos, conseguem arcar com mais esse custo?
A duplicação da ERS-453, entre Lajeado e Cruzeiro do Sul, é uma obra esperada há décadas. É daquelas que ninguém discorda: essencial, estratégica. Só que duplicações isoladas não resolvem o problema. O anel viário, as pontes sobre o Taquari, as melhorias nos acessos urbanos — tudo isso precisa andar junto, de forma coordenada. Concessões podem ser uma ferramenta importante, mas elas precisam ser mais que contratos: devem atender às demandas verdadeiras da região, e não apenas a projeções econômicas distantes da vida da comunidade.
Por trás disso tudo está a participação popular. Até que ponto as audiências públicas e consultas acolhem a voz das pessoas, de verdade? No Vale, é comum ouvir que os grandes projetos chegam prontos, desenhados de cima para baixo. Esse distanciamento precisa acabar. Desenvolvimento regional só funciona se for construído com a sociedade.
O governo tem sua parte, claro. Mas quem vive aqui sabe das prioridades. É o acesso a mercados, o transporte de safra, o turismo que depende de boas estradas. Tudo isso tem que estar na mesa, porque quem vive na região é quem paga o preço de decisões mal feitas.
As concessões podem, sim, abrir um novo ciclo de desenvolvimento. Mas só se forem feitas com transparência, responsabilidade e, acima de tudo, com a participação de quem entende a realidade local.