Dos quase 20 alunos que iniciaram na turma 91 da Escola Estadual Fernandes Vieira neste ano, restaram oito. Neles, a saudade e a memória da antiga escola, impactada pelas cheias de 2023 e, principalmente, de 2024.
Foi no intuito de contar suas histórias e de toda a comunidade escolar que os estudantes desenvolveram um documentário, que retrata um pouco da tragédia vivida por eles e sentida em todo o Vale do Taquari. O lançamento do projeto ocorreu nesta segunda-feira, 16, no Labilá, em Lajeado.
A ideia do trabalho, intitulado “Doc 91”, surgiu em sala de aula, a partir da vontade da turma em compartilhar suas experiências. “Desde março, os estudantes trabalhavam o tema ‘saudade’ nas aulas de artes, por ser o último ano na escola”, conta o professor de artes, Alexandre Magalhães e Silva, e um dos coordenadores do projeto.
“Depois de tudo o que aconteceu, o tema ficou ainda mais relevante e desenvolvemos o documentário”, explica. Nos relatos na obra, a saudade da escola que, desde maio, está interditada. Hoje, o 9º ano tem aula na EEEF Moisés Cândido Veloso, no bairro Hidráulica, assim como o 6º, 7º e 8º ano.
Desde as enchentes, a EEEF Fernandes Vieira está dividida em três escolas diferentes pela cidade e, dos mais de 300 alunos do início do ano letivo, pouco mais de 180 continuam matriculados. As séries iniciais foram para a Escola Irmã Branca, no Centro, e a Educação para Jovens Adultos para a EEEM Érico Veríssimo, no São Cristóvão.
A previsão para o retorno à escola, na rua Francisco Oscar Karnal, no Centro de Lajeado, é somente em 2026. Entre os relatos da turma 91, está a saudade dos antigos colegas, do prédio próprio e das lembranças do tempo vivido ali.
Thiago Kauã de Borba Ames, de 15 anos, é um dos estudantes responsáveis pelo projeto. “O que fica, depois desse ano difícil, é a nossa história. Queríamos transmitir os momentos bons, as lembranças e, principalmente, a superação que tivemos”, destaca. O colega Lucas Alan Vieira Moesch, também de 15 anos, concorda. “Contamos nossa história e ficamos todos felizes com o resultado.”
O documentário
Com 41 minutos, o projeto apresenta de maneira sensível e verdadeira as histórias dos alunos, que mostram não só a escola, como suas próprias casas. O documentário traz um olhar para a comunidade onde a Escola Fernandes Vieira está inserida há 97 anos, no chamado “Cantão do Sapo”, e provoca também uma reflexão sobre o espaço.
“Todos têm um amor e carinho pela Fernandes, é uma escola de quase cem anos; é um pilar da nossa sociedade”, comenta a diretora Rosângela Petter Mello, que trabalha na EEEF há 18 anos. “O documentário serve para manter a escola ativa na lembrança de todos, porque perdemos toda a nossa referência na enchente, não só os documentos, mas o convívio, estamos divididos em outras três instituições”, cita.
Professora de história e também coordenadora do Doc 91, Caroline Franco da Cruz reforça que o trabalho serve como uma conclusão para os alunos, que agora seguem para o ensino médio. “O documentário ajuda a manter viva a história da escola, da comunidade onde ela está e, principalmente, dos alunos”, destaca.
Para ilustrar o impacto e a destruição das enxurradas, o trabalho se valeu de imagens da prefeitura de Lajeado e de veículos de comunicação, todos devidamente identificados. Para falar sobre o fenômeno climático que atingiu o Vale, foram entrevistados a engenheira ambiental Sofia Moraes e o engenheiro florestal Masat Kobiyama.
O projeto também teve colaboração da Univates, na parte audiovisual, com o professor de jornalismo e publicidade, Flávio Roberto Meurer. O documentário está disponível no YouTube, no canal EEEF Fernandes Vieira.
Quase um século
Para reforçar a importância da Fernandes Vieira, os alunos também resgataram a história do educandário, que completou 97 anos no dia 15 de novembro. Fundada em 1927 como Grupo Escolar, funcionava no prédio da Rodoviária Velha de Lajeado, na rua Borges de Medeiros, e foi a primeira escola leiga da cidade.
O prédio atual, na rua Francisco Oscar Karnal, começou a ser construído em 1939 e foi inaugurado em dezembro de 1940, alguns meses antes da enchente de 1941, que destruiu Lajeado e o Vale do Taquari em maio daquele ano. Mesmo com poucos meses de funcionamento, a Fernandes Vieira sobreviveu e continuou. Dentro da escola, surgiram outros educandários de Lajeado, como o Castelinho e o Colégio Cenecista João Batista de Mello.
Alunos da turma 91
Andriws Gomes Ataide
Dafne Morais de Andrade
Evelyn Graziele Moura
Kauã Dresch
Lucas Alan Vieira Moesch
Milena Dresch
Saulo Santos Nascimento
Thiago Kauã de Borba Ames