“Nossa vida toda foi levada. Morávamos fazia 35 anos naquela casa. Não sobrou nada”, conta Clair Gabriel Pretto. De Arroio do Meio, ela e o marido, Leonir Antônio Pretto, terão de se adaptar a uma realidade. Deixaram o bairro Navegantes e agora vão para São Caetano. “Vamos começar de novo. Agora, em plena aposentadoria”, resume Pretto.
O casal foi um dos 16 contemplados pelo Programa Compra Assistida, do governo federal. A cerimônia na manhã de sexta-feira marcou a assinatura de 16 contratos. “Nosso plano é fazer entregas todas as semanas. Já confirmamos a compra de 50 moradias na região e queremos fechar o ano com 100”, diz o secretário Nacional da Reconstrução, Maneco Hassen.
Programa inédito dentro do Minha Casa Minha Vida, o Compra Assistida garante a aquisição e doação de imóveis prontos com valor de até R$ 200 mil para famílias que perderam a moradia na enchente de maio.
Pelo funcionamento, a família que tinha residência em área alagável escolhe o imóvel, comunica a Caixa e o governo compra. Depois disso, a propriedade é doada aos beneficiários. Eles terão de permanecer por cinco anos na moradia, para depois receber a escritura.
Lembranças e esperança
“A minha casa estava linda, toda arrumada. Tinha pintado tudo. Meu sonho estava sendo realizado de novo depois das enchentes de setembro e novembro. Em maio, a água levou tudo embora”, emociona-se a moradora de Cruzeiro do Sul, Santina Jandrey.
A casa dela no Passo de Estrela sumiu. “Meu sonho, meus móveis, só um pedaço de grade ficou onde estava a casa. Não sobrou nada”. Agora, terá um apartamento no bairro Jardim do Cedro, em Lajeado. “É respirar fundo e começar uma vida nova. Já conheci meu novo lar, é lindo, um sonho. Pretendo me mudar logo depois que receber a chave”.
O casal Valmor de Oliveira e Lisiane Amanda de Oliveira, moravam no bairro Morro 25, em Lajeado. “No dia da inundação, a gente ficou em casa achando que não ia chegar. Quando a água começou a chegar, levei minha esposa e o meu filho para casa da minha irmã. Eu voltei, para tentar salvar algumas coisas.”
Essa volta quase custou a vida de Valmor. “Eu ia morrer. Quando saí de casa, a água estava no peito. A correnteza ia me levar. Me segurei na cerca do finado Orlando. Fiquei mais de uma hora ali, até que vieram de caíque e me salvaram.”
A memória traumática serve de força. “Estou vivo. E agora vamos reconstruir a nossa vida”. O casal foi contemplado com uma moradia no bairro Jardim do Cedro. “Estávamos no aluguel social da prefeitura. Ficamos muito atentos aos prazos, insistimos muito. Não ficamos parados, e agora conseguimos”, diz Valmor. “Esse é um dia que ficará na nossa memória”, resume Lisiane.
Símbolo para mais famílias
Para o prefeito Marcelo Caumo, a Compra Assistida é o processo mais rápido de entrega efetiva, pois porque aproveita um imóvel pronto. “O detalhe é que o número de imóveis em Lajeado, de casas, de apartamentos, é restrito. Mas, esse momento é muito importante para repassar a esperança, para demonstrar para o outro contingente todo de famílias de que sim, o processo, infelizmente, é demorado, mas vai chegar a vez de todo mundo”, destaca o prefeito.
O cadastramento dos imóveis aptos para compra do governo federal começou em 8 de junho. Todas as etapas serão feitas pelo caixa.gov.br/reconstrucao, desde a análise de documentos e disponibilização do imóvel para os beneficiários, até o processo de doação.
Os imóveis serão destinados para famílias das faixas 1 e 2 do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), com renda mensal de até R$ 4,4 mil. Essas unidades habitacionais serão compradas pela linha de atendimento de provisão subsidiada em áreas urbanas com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR).
Minha Casa, Minha Vida
O Governo Federal autorizou o início da construção de quase de 436 imóveis. São 80 em Encantado, 256 em Lajeado e 100 em Estrela. “Vamos acelerar as análises para outros municípios e 2025 será o ano da habitação”, diz Maneco Hassen.
Em Lajeado, o prefeito Marcelo Caumo estima um déficit de 700 moradias. “Eu costumo dividir por enchente. A de setembro, temos 256 residências que estão com os contratos assinados”. Em maio, foram em torno de 300 casas.