Em Westfália, município marcado por fortes tradições germânicas, o sapato de pau é um símbolo de identidade cultural. Produzido a partir de troncos de árvores, o calçado foi introduzido na região por imigrantes alemães, que utilizavam tanto no trabalho rural quanto em dias frios. Hoje, a confecção artesanal sobrevive apenas ao esforço de Hugo Pott, 68, único artesão a preservar essa prática na região.
A prática começou a desaparecer após o falecimento de Arnoldo Brune, um dos últimos fabricantes do município. Para preservar o legado, a prefeitura incentivou moradores a aprenderem o ofício por meio de um concurso. Hugo, natural de Linha Berlim, se inscreveu no último dia e venceu a competição.
“Havia cinco máquinas para seis participantes. Preferi observar e deixar os outros usarem. Antes do concurso, consegui uma máquina emprestada, fiz um sapato e acabei vencendo”, relembra. Essa vitória marcou o início de uma dedicação que persiste até hoje.
A evolução do ofício
Embora grande parte do trabalho ainda seja manual, algumas inovações foram incorporadas ao longo do tempo. “Montei ferramentas específicas e adquiri brocas diferentes pela internet”, explica Hugo. Para ele, criar equipamentos sob medida garante melhores resultados do que buscar soluções prontas. Apesar do cuidado e da dedicação, afirma que a atividade não é lucrativa.
“Faço isso pelo amor à cultura e pelo compromisso com a comunidade”. Apesar de o esforço para manter a tradição, Hugo acredita que será difícil encontrar alguém disposto a continuar esse trabalho. “Torço para que apareça, mas acho pouco provável”, lamenta.
A origem dos sapatos
A confecção dos sapatos de pau foi introduzida no Brasil por imigrantes alemães, reconhecidos pela habilidade em trabalhos manuais. Além de proteger os pés em tarefas pesadas, o calçado também se tornou um símbolo do dialeto local. A expressão “sapato de pau” passou a identificar tanto o objeto quanto uma variante linguística falada por descendentes germânicos na região.
Para preservar essa herança, Westfália promove uma vez por ano, durante as comemorações de aniversário do município, eventos como o campeonato de futebol com chuteiras de madeira.
Grupo Amigos do Sapato de Pau
Além da produção dos sapatos, Hugo participa do grupo “Amigos do Sapato de Pau”, que promove o estudo do dialeto local. A iniciativa inclui aulas de gramática e o desenvolvimento de um dicionário da língua.
Outro ponto em que o sapato de pau se destaca é no Westfälische Tanzgruppe, grupo de danças folclóricas da cidade. As apresentações são marcadas pelo uso do calçado de madeira.
Taila Sofia Hollmann, coordenadora do grupo, ressalta a identificação que o objeto ocasiona. “O que nos diferencia é o uso do sapato. Desde a criação do grupo, essa característica já era vista como essencial”, ressalta.
Em Westfália, o sapato de pau não é apenas um calçado, mas parte da história e da cultura local. Graças ao trabalho de Hugo Pott, essa tradição ainda persiste, mesmo com as incertezas sobre o futuro.