Produzidos em madeira, sapatos de pau mantêm viva a cultura alemã

Westfália

Produzidos em madeira, sapatos de pau mantêm viva a cultura alemã

Com troncos de árvores e máquinas adaptadas, Hugo Pott, mantém a produção dos itens culturais em Westfália. O artesão é o último guardião de uma tradição centenária, marcada pela influência dos imigrantes alemães na região

Produzidos em madeira, sapatos de pau mantêm viva a cultura alemã
Hugo trabalha em um pequeno espaço em casa, alternando a produção dos sapatos de pau com as tarefas domésticas e o cuidado dos animais. (Foto: DANIÉLY SCHWAMBACH)
Westfália

Em Westfália, município marcado por fortes tradições germânicas, o sapato de pau é um símbolo de identidade cultural. Produzido a partir de troncos de árvores, o calçado foi introduzido na região por imigrantes alemães, que utilizavam tanto no trabalho rural quanto em dias frios. Hoje, a confecção artesanal sobrevive apenas ao esforço de Hugo Pott, 68, único artesão a preservar essa prática na região.

A prática começou a desaparecer após o falecimento de Arnoldo Brune, um dos últimos fabricantes do município. Para preservar o legado, a prefeitura incentivou moradores a aprenderem o ofício por meio de um concurso. Hugo, natural de Linha Berlim, se inscreveu no último dia e venceu a competição.

“Havia cinco máquinas para seis participantes. Preferi observar e deixar os outros usarem. Antes do concurso, consegui uma máquina emprestada, fiz um sapato e acabei vencendo”, relembra. Essa vitória marcou o início de uma dedicação que persiste até hoje.

A evolução do ofício

Embora grande parte do trabalho ainda seja manual, algumas inovações foram incorporadas ao longo do tempo. “Montei ferramentas específicas e adquiri brocas diferentes pela internet”, explica Hugo. Para ele, criar equipamentos sob medida garante melhores resultados do que buscar soluções prontas. Apesar do cuidado e da dedicação, afirma que a atividade não é lucrativa.

“Faço isso pelo amor à cultura e pelo compromisso com a comunidade”. Apesar de o esforço para manter a tradição, Hugo acredita que será difícil encontrar alguém disposto a continuar esse trabalho. “Torço para que apareça, mas acho pouco provável”, lamenta.

A origem dos sapatos

A confecção dos sapatos de pau foi introduzida no Brasil por imigrantes alemães, reconhecidos pela habilidade em trabalhos manuais. Além de proteger os pés em tarefas pesadas, o calçado também se tornou um símbolo do dialeto local. A expressão “sapato de pau” passou a identificar tanto o objeto quanto uma variante linguística falada por descendentes germânicos na região.

Para preservar essa herança, Westfália promove uma vez por ano, durante as comemorações de aniversário do município, eventos como o campeonato de futebol com chuteiras de madeira.

Grupo Amigos do Sapato de Pau

Além da produção dos sapatos, Hugo participa do grupo “Amigos do Sapato de Pau”, que promove o estudo do dialeto local. A iniciativa inclui aulas de gramática e o desenvolvimento de um dicionário da língua.

Outro ponto em que o sapato de pau se destaca é no Westfälische Tanzgruppe, grupo de danças folclóricas da cidade. As apresentações são marcadas pelo uso do calçado de madeira.

Taila Sofia Hollmann, coordenadora do grupo, ressalta a identificação que o objeto ocasiona. “O que nos diferencia é o uso do sapato. Desde a criação do grupo, essa característica já era vista como essencial”, ressalta.

Em Westfália, o sapato de pau não é apenas um calçado, mas parte da história e da cultura local. Graças ao trabalho de Hugo Pott, essa tradição ainda persiste, mesmo com as incertezas sobre o futuro.

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