Os escritores Deolí Gräff e Lucildo Ahlert lançaram o livro Unsere Heimat – O nosso lugar , recontando a história da colonização em Lajeado. A obra faz parte do ano do bicentenário e foi lançada em dezembro, no Parque Histórico de Lajeado.
Estivemos presente no lançamento e conversamos com os autores para entender como eles chegaram as análises que reabrem o debate sobre a chegada de imigrantes alemães à região, colocando o comerciante de terras, Antônio Fialho de Vargas, como personagem principal.
“Levamos pelo menos quatro anos para pesquisar e escrever o conteúdo do livro. Depois de confrontar as informações e interpretá-las, concluímos que Fialho de Vargas não pode ser considerado fundador de Lajeado. Pelo nosso entendimento, ele foi comerciante de terras e nada mais”, assegura o jornalista e escritor Deolí Gräff
As pesquisas revelaram que, antes da chegada de Fialho, outras etnias já haviam sido implementadas na região, mudando a perspectiva sobre a história oficial da fundação de Lajeado. O mentor do livro foi o empresário Paulo Pohl que os desafiou os autores a escreverem a obra.
Aqui está uma entrevista com o escritor Lucildo Ahlert, que explica que Fialho de Vargas não foi o fundador de Lajeado.
Segundo o livro, quem foi realmente Fialho de Vargas?
Fialho de Vargas foi um exímio e visionário empreendedor imobiliário. Foi o primeiro a investir nesse ramo no atual município de Lajeado, instalando-se aqui, através de uma empresa, que se adequou às exigências da Lei das Terras de 1850, que foi promulgada em 1854. Antes de a lei entrar em vigor, ele estava com o seu projeto de colonização organizado, tendo adquirido a massa falida das Fazendas de Conventos e Carneiros, que eram de propriedade dos irmãos Teixeira, na sesmaria a eles concedida pelo rei de Portugal em 1800. Quando a Lei das Terras entrou em vigor, ele estava residindo no local, com suas instalações prontas, terras medidas e loteadas, recebendo os primeiros imigrantes alemães que adquiriram os lotes, assumindo financiamentos a serem saldados através de parcelas anuais com juros, com a venda de produtos gerados nos lotes. Como descendente de uma família lusa que veio ao Brasil como sendo de posse, hoje chamado de investidora, tinha informações privilegiadas junto ao governo da Província, pois aproveitou a recomendação das fazendas falidas para um projeto de colonização público, sugerido pela Câmara de Vereadores à Província, em 1852, que resultou em um projeto de colonização privado, autorizado pela autoridade governamental.
O que está equivocado na história da colonização que precisamos modificar?
O objetivo do livro não foi refutar o que já foi pesquisado ao longo do tempo, mas fazer uma interpretação de todos os fatos já conhecidos, principalmente, levando em consideração que todos os envolvidos tinham interesses econômicos, tanto os mentores da colonização, quanto os imigrantes que deixaram a sua pátria.
Assim, mesmo considerando que o projeto de colonização desenvolvido em Lajeado, a partir de 1854, pela empresa de Fialho de Vargas, tenha uma importância econômica muito grande, como, também, em outros projetos similares na região, Lajeado teve vida econômica já a partir de 1794.
Na sesmaria concedida, em 1800, aos irmãos Teixeira, foi instalada uma empresa, com um contingente de 300 escravos, além de lusos, que produziu madeira, erva-mate, cereais, frutas e produtos da pecuária, vendidos em Porto Alegre. Para viabilizar essa comercialização, havia um porto primitivo em Carneiros. Apesar de a empresa ter sido dissolvida em 1824, as pessoas que viviam em Lajeado continuaram morando aqui, mantendo atividades.
Dessa forma, considerar Fialho de Vargas o Fundador de Lajeado, não leva em conta que Lajeado já existia naquele momento e tinha um contingente de moradores vivendo há mais de 50 anos.