O que te incentivou a vir a Lajeado?
Eu já tinha dois cunhados que moravam aqui e eles indicaram a cidade. Vim para trabalhar, para melhorar a vida econômica, porque no meu país de origem, o terremoto de 2010 destruiu muita coisa. Depois disso, todos os países amigos do Haiti tentaram ajudar. O Brasil, na época, deu oportunidade para os haitianos entrarem aqui. Em 2014 vim pra cá e moro em Lajeado desde então. Faz oito anos que trabalho na Stacione Rotativo, hoje como fiscal. Considero o Brasil o meu segundo país, fui muito bem acolhido.
O que motivou a criação da associação?
Em 2022 criamos a Associação dos Imigrantes Haitianos do Vale do Taquari, e eu fui um dos fundadores. Atualmente sou o presidente. A gente estava enfrentando muitas dificuldades como estrangeiros, para fazer um documento, para agendar na Polícia Federal, para o cartório, para abrir uma conta bancária, porque tem gente que não sabe onde ir. E também a questão da língua que é uma barreira pra nós, sempre tem que ter alguém junto para realizar algum serviço. Surgiu a ideia de criar uma associação e dentro dela conseguimos oferecer todos esses serviços de graça.
Vocês também estão à frente de diferentes movimentos no Vale, certo?
Estamos com uma campanha de integração e sensibilização social para os imigrantes e refugiados do Vale. Um projeto que tivemos apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). São quatro atividades. A primeira foi sobre saúde mental. A segunda foi sobre assistência social. A terceira vai ser no sábado, 14, em Encantado, sobre direitos trabalhistas. Todos os países têm leis, culturas diferentes. No nosso país de origem a gente sabe as leis trabalhistas, mas aqui não. A gente também enfrenta dificuldades no trabalho, nas empresas, porque a gente não sabe como recorrer. Estamos buscando essa formação para poder entender melhor e poder se comportar melhor nas empresas. Ainda terá um evento sobre primeiros socorros com o Corpo de Bombeiros de Lajeado.
Hoje, quais são as principais demandas de vocês?
A questão do aluguel é bem delicada. Estamos com muita dificuldade, principalmente depois da enchente. É muito difícil que um imigrante consiga um lugar legal para morar. Depois da enchente, a gente não pode mais voltar no local que pegou água. Dificilmente encontramos lugar e se encontramos, tem a questão de fiador, e não é qualquer um que vai aceitar ser fiador, por questão de confiança. A língua portuguesa aqui também é uma barreira para nós. Por causa disso, hoje, muitos de nós estamos trabalhando nas indústrias. Muita gente tem profissão, diploma, são advogados, professores, mas não conseguem trabalhar na área. Também pelo racismo.