De uma lavoura no antigo bairro Moinhos D’Água, destinada a virar distrito industrial, a área se transformou no Jardim Botânico de Lajeado, inaugurado há quase 30 anos. Essas terras, no passado, pertenciam à família de Hugo Oscar Spohr, conforme relatos. Prefeito de Lajeado nos anos 1950, era filho de Carlos Spohr, que dá nome à rua que passa em frente ao parque.
A área que hoje engloba o Jardim Botânico foi adquirida pelo governo de Lajeado nos anos 1980, durante o mandato de Erni Petry. A ideia era instalar um distrito industrial no local. Mas a rica biodiversidade do terreno, com a presença de córregos e mata nativa, impediu o projeto.
Alguns anos mais tarde, em 1993, o engenheiro agrônomo Leopoldo Feldens assumiu o Executivo municipal e deu início ao projeto do Jardim Botânico. Quem lembra bem dessa história é a bióloga Diana Blum Kunzel, na época, concursada do antigo Departamento de Meio Ambiente. “O prefeito me ligou com a ideia do jardim, foi um susto. Eu estava no início da minha carreira, mas ele tinha contatos na capital e o projeto foi apadrinhado”, conta Diana.
Quando o projeto começou, a área era ocupada por lavouras, que serviam para alimentar os animais da Feira Agropecuária de Lajeado (antiga Expovale). “Tinham alguns plátanos, que existem ainda hoje. Tivemos que ir limpando o terreno para fazer o zoneamento”, lembra. Na época, a Avenida Benjamin Constant não existia e, quando foi aberta, cortou o terço final da área.
O Jardim Botânico de Lajeado foi oficialmente inaugurado em 18 de setembro de 1995. “Corremos muito naqueles dois anos para deixar tudo pronto. Esse projeto foi um grande presente para mim, é um orgulho enorme. Sempre digo que tenho quatro filhos: dois meninos, uma menina e um jardim botânico”, revela Diana.
“Fico muito feliz que a comunidade abraçou o projeto, vibrei muito com a criação bairro. O Leopoldo poderia ter criado qualquer outro tipo de unidade de conservação, mas ele escolheu um jardim botânico, e acho que foi muito assertivo. É um grande tesouro de Lajeado.”
Referência em todo o Brasil
Logo depois da sua criação, o Jardim Botânico de Lajeado, um dos pouco mais de 30 existentes no país, foi reconhecido em âmbito nacional por um projeto desenvolvido no espaço, o “Conhecer para Preservar”. A bióloga Kelen Battisti Giongo foi uma das idealizadoras da iniciativa, por volta de 2002.
“O prêmio era focado em projetos educacionais relacionados à conservação de plantas raras e nativas e foi lançado em uma parceria entre o banco britânico HSBC e organizações ambientalistas internacionais. Quando fomos premiados, em 2003, recebemos em torno de R$ 75 mil na época”, conta Kelen.
Ela foi a primeira secretária da pasta de Meio Ambiente de Lajeado, que foi criada em 2004. O dinheiro do prêmio foi investido no Jardim Botânico, em especial, no levantamento e pesquisa de toda a flora do espaço, no cercamento do terreno e no desenvolvimento de programas educacionais.
“O Jardim deu um grande salto com esse prêmio. Fomos convidados pela Rede Brasileira de Jardins Botânicos para apresentar o projeto em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e em Belém”, recorda Kelen. “Nesses quase 30 anos, vejo que o Jardim teve um trabalho continuado. Eu era estagiária quando ele foi criado, então acompanhei todo o processo e, para mim, o Jardim Botânico serve como uma sala de aula a céu aberto, que nos ensina sobre os cuidados com a natureza”.
Um trabalho que continua
Prestes a completar 30 anos, o Jardim Botânico segue com seu trabalho de preservação. Ao todo, são 194 espécies de plantas, divididas em quatro coleções. O Jardim também oferece um bromeliário, cactário e orquidário, com 665 espécies, das quais 471 são orquídeas.
Coordenadora do Jardim Botânico, a engenheira agrônoma Juçara Ferri destaca que, além da pesquisa e conservação das espécies, um dos focos também é a educação ambiental, em especial, por meio da iniciativa dos Guardiões Ambientais Mirins.
“Trabalhamos para desenvolver essa consciência ambiental da importância da preservação e de espaços como o Jardim Botânico”, salienta. Até novembro de 2024, o local recebeu em torno de 34,4 mil visitantes. “Percebo que, desde as enchentes, as pessoas têm procurado mais o jardim, porque foi uma área não afetada.”