“Logo não teremos mais mão de obra para as nossas indústrias. Precisamos qualificar as pessoas. Seja os jovens ou mesmo quem já está no mercado de trabalho”. A afirmação do presidente da Federação das Indústrias do RS (Fiergs), Cláudio Bier, na semana passada durante a inauguração do complexo educacional do Sesi, em Lajeado, apresenta de maneira empírica uma realidade das empresas gaúchas.
Essa avaliação do dirigente se confirma a partir dos resultados do Mapa do Trabalho na Indústria. Conforme o estudo, só para atender o setor produtivo gaúcho, é necessário qualificar mais de 950 mil pessoas. Neste universo, estão tanto a necessidade de formação inicial (147 mil) quanto a requalificação de quem já está no mercado de trabalho (810,7 mil trabalhadores).
A pesquisa, feita pelo Observatório Nacional da Indústria, organização ligada ao sistema S, busca identificar a demanda futura por formação profissional. O cálculo é baseado em modelos socioeconômicos a partir das expectativas de crescimento da produção, mercado e trabalho. Também considera a difusão de novas tecnologias e a mudança organizacional das cadeias produtivas, bem como a trajetória ocupacional da população.
Conforme o Mapa do Trabalho Industrial, o RS é o quarto estado com mais necessidade de formação profissional. Está atrás de São Paulo (mais de 4,2 milhões), Minas Gerais (cerca de 1,6 milhão), e do Paraná (1,090 milhão). Santa Catarina (953.403) e Rio de Janeiro (909.661) seguem de perto. Esse conjunto mostra a concentração de demanda na região Sul e Sudeste. Em todo o país, o diagnóstico alerta para um déficit acima dos 14 milhões de profissionais até 2024, incluindo formação inicial e requalificação.
Movimento regional
“Sobram vagas e faltam pessoas. Essa é uma realidade nas empresas. Nosso desafio é atrair tanto os jovens às formações técnicas e superiores da indústria quanto das famílias de outras regiões para virem ao Vale”, destaca o presidente da Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), Angelo Fontana.
De acordo com ele, o cenário de carência de profissionais se acelerou a partir da enchente de setembro do ano passado. Como estratégia para conhecer as dificuldades das empresas locais e buscar formas de mitigar essas dificuldades, a CIC-VT formou um canal para ouvir empresários e buscar apoio das instituições de ensino.
As duas primeiras reuniões ocorreram em Lajeado e Encantado. “Queremos formar um documento sobre empregabilidade e quais setores têm mais demanda. Observamos o perfil de cada cidade, de cada microrregião, para pensarmos em projetos específicos de formação nestes locais”, destaca Fontana.
Em cima disso, o gerente de operações do Senai Vale do Taquari, Jerry Hibner, realça a importância de aproximar escolas técnicas e setores produtivos. “Essa é uma exigência do mundo do trabalho. Conhecer as necessidades de cada segmento industrial serve de base à elaboração dos planos de cursos e formações.”
Oportunidades e carências
Dez setores se destacam tanto em termos de vagas disponíveis nos próximos anos quanto em necessidade de formação. A primeira posição é a Logística e Transporte. Empresário do setor, vice-presidente do Sindicato das Transportadoras do RS, Diego Tomasi, resume o sentimento dos empresários do setor: “teremos períodos muito desafiadores”.
Essa observação se sustenta em números. São mais de 262,6 mil empregos projetados até 2027. Destes, será preciso formar 213,1 mil. Um percentual de 81,2% de necessidade de formação em relação ao emprego.
Junto com isso, há um alto nível de envelhecimento das funções dentro do transporte. De acordo com a Confederação Nacional dos Transportes, a média de idade do motorista de caminhão se aproxima dos 45 anos.
Fecha a lista dos setores com mais oportunidades o Metalmecânico (153,4 mil), Operação Industrial (134,5 mil), Construção (115,5 mil), por fim, Alimentos e Bebidas (84,414 mil). Nestes cinco segmentos com mais vagas até 2027 no RS, serão abertos um total de 750.161 postos de trabalho.
Resposta na educação
Frente à demanda por qualificação, o superintendente do Sesi no RS, Juliano Colombo, enfatiza a necessidade de avançar nas metodologias de ensino, com um modelo que possa criar significado aos aprendizados, para que o aluno tenha capacidade de decidir o próprio rumo profissional. “Temos de fazer entregas. O problema está aí, não tem mais o que discutir. É hora de agir.”
Impacto na economia gaúcha
- A alta demanda por formação profissional indica uma necessidade urgente de investimentos em educação e treinamento.
- A formação adequada pode impulsionar a produtividade e competitividade das indústrias locais, contribuindo para o crescimento econômico sustentável.
Metodologia do estudo
- Objetivo
– O Mapa do Trabalho Industrial busca identificar a demanda futura por formação profissional no Brasil, observando as necessidades da indústria entre 2025 e 2027. - Modelagem
– O estudo usa modelagens econométricas para calcular a demanda por formação profissional. Os dados consideram expectativas de crescimento da economia e do mercado de trabalho, a difusão de tecnologias e as mudanças organizacionais nas cadeias produtivas.
Etapas
- Projeção do Emprego Formal
– Foram feitas análises sobre o futuro do mercado de trabalho, estimando o número de empregos formais esperados em diferentes áreas até 2027. Essas projeções estão alinhadas com as perspectivas de crescimento econômico do país. - Delimitação do emprego industrial
– A seleção do volume de empregos formais projetados para toda a indústria, incluindo setores como extrativa, transformação, construção, energia e saneamento, além de ocupações estratégicas em outros setores, como tecnologia e logística. - Cálculo da demanda por formação
– Com base na estrutura do emprego formal projetado, estimou-se a demanda por formação, abrangendo tanto a formação inicial para novas vagas e reposição de trabalhadores, quanto o treinamento e desenvolvimento para profissionais já empregados.
– Foram usados dados do Ministério do Trabalho e Emprego para avaliar a trajetória profissional dos trabalhadores, enquanto a necessidade de treinamento e desenvolvimento foi estimada a partir de pesquisa primária com empresários da indústria.