Estudo alerta para apagão de profissionais técnicos e superiores

FUTURO DA MÃO DE OBRA

Estudo alerta para apagão de profissionais técnicos e superiores

Mapa do Trabalho Industrial mostra que o setor de Logística e Transporte tem a maior projeção de vagas, com 262 mil postos. Ao mesmo tempo, precisa qualificar 81,2% deste total

Estudo alerta para apagão de profissionais técnicos e superiores
Logística, metalmecânica, operações industriais, construção, alimentos e bebidas são segmentos de relevância econômica no Vale do Taquari e com maior perspectiva de empregabilidade até 2027. (Foto: Filipe Faleiro)
Vale do Taquari

“Logo não teremos mais mão de obra para as nossas indústrias. Precisamos qualificar as pessoas. Seja os jovens ou mesmo quem já está no mercado de trabalho”. A afirmação do presidente da Federação das Indústrias do RS (Fiergs), Cláudio Bier, na semana passada durante a inauguração do complexo educacional do Sesi, em Lajeado, apresenta de maneira empírica uma realidade das empresas gaúchas.

Essa avaliação do dirigente se confirma a partir dos resultados do Mapa do Trabalho na Indústria. Conforme o estudo, só para atender o setor produtivo gaúcho, é necessário qualificar mais de 950 mil pessoas. Neste universo, estão tanto a necessidade de formação inicial (147 mil) quanto a requalificação de quem já está no mercado de trabalho (810,7 mil trabalhadores).

A pesquisa, feita pelo Observatório Nacional da Indústria, organização ligada ao sistema S, busca identificar a demanda futura por formação profissional. O cálculo é baseado em modelos socioeconômicos a partir das expectativas de crescimento da produção, mercado e trabalho. Também considera a difusão de novas tecnologias e a mudança organizacional das cadeias produtivas, bem como a trajetória ocupacional da população.

Conforme o Mapa do Trabalho Industrial, o RS é o quarto estado com mais necessidade de formação profissional. Está atrás de São Paulo (mais de 4,2 milhões), Minas Gerais (cerca de 1,6 milhão), e do Paraná (1,090 milhão). Santa Catarina (953.403) e Rio de Janeiro (909.661) seguem de perto. Esse conjunto mostra a concentração de demanda na região Sul e Sudeste. Em todo o país, o diagnóstico alerta para um déficit acima dos 14 milhões de profissionais até 2024, incluindo formação inicial e requalificação.

Senai da região forma cerca de 1,5 mil jo. (Foto: Filipe Faleiro)

Movimento regional

“Sobram vagas e faltam pessoas. Essa é uma realidade nas empresas. Nosso desafio é atrair tanto os jovens às formações técnicas e superiores da indústria quanto das famílias de outras regiões para virem ao Vale”, destaca o presidente da Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), Angelo Fontana.

De acordo com ele, o cenário de carência de profissionais se acelerou a partir da enchente de setembro do ano passado. Como estratégia para conhecer as dificuldades das empresas locais e buscar formas de mitigar essas dificuldades, a CIC-VT formou um canal para ouvir empresários e buscar apoio das instituições de ensino.

As duas primeiras reuniões ocorreram em Lajeado e Encantado. “Queremos formar um documento sobre empregabilidade e quais setores têm mais demanda. Observamos o perfil de cada cidade, de cada microrregião, para pensarmos em projetos específicos de formação nestes locais”, destaca Fontana.

Em cima disso, o gerente de operações do Senai Vale do Taquari, Jerry Hibner, realça a importância de aproximar escolas técnicas e setores produtivos. “Essa é uma exigência do mundo do trabalho. Conhecer as necessidades de cada segmento industrial serve de base à elaboração dos planos de cursos e formações.”

Oportunidades e carências

Dez setores se destacam tanto em termos de vagas disponíveis nos próximos anos quanto em necessidade de formação. A primeira posição é a Logística e Transporte. Empresário do setor, vice-presidente do Sindicato das Transportadoras do RS, Diego Tomasi, resume o sentimento dos empresários do setor: “teremos períodos muito desafiadores”.

Essa observação se sustenta em números. São mais de 262,6 mil empregos projetados até 2027. Destes, será preciso formar 213,1 mil. Um percentual de 81,2% de necessidade de formação em relação ao emprego.

Junto com isso, há um alto nível de envelhecimento das funções dentro do transporte. De acordo com a Confederação Nacional dos Transportes, a média de idade do motorista de caminhão se aproxima dos 45 anos.

Fecha a lista dos setores com mais oportunidades o Metalmecânico (153,4 mil), Operação Industrial (134,5 mil), Construção (115,5 mil), por fim, Alimentos e Bebidas (84,414 mil). Nestes cinco segmentos com mais vagas até 2027 no RS, serão abertos um total de 750.161 postos de trabalho.

Resposta na educação

Frente à demanda por qualificação, o superintendente do Sesi no RS, Juliano Colombo, enfatiza a necessidade de avançar nas metodologias de ensino, com um modelo que possa criar significado aos aprendizados, para que o aluno tenha capacidade de decidir o próprio rumo profissional. “Temos de fazer entregas. O problema está aí, não tem mais o que discutir. É hora de agir.”

Impacto na economia gaúcha

  • A alta demanda por formação profissional indica uma necessidade urgente de investimentos em educação e treinamento.
  • A formação adequada pode impulsionar a produtividade e competitividade das indústrias locais, contribuindo para o crescimento econômico sustentável.

Metodologia do estudo

  • Objetivo
    – O Mapa do Trabalho Industrial busca identificar a demanda futura por formação profissional no Brasil, observando as necessidades da indústria entre 2025 e 2027.
  • Modelagem
    – O estudo usa modelagens econométricas para calcular a demanda por formação profissional. Os dados consideram expectativas de crescimento da economia e do mercado de trabalho, a difusão de tecnologias e as mudanças organizacionais nas cadeias produtivas.

Etapas

  • Projeção do Emprego Formal
    – Foram feitas análises sobre o futuro do mercado de trabalho, estimando o número de empregos formais esperados em diferentes áreas até 2027. Essas projeções estão alinhadas com as perspectivas de crescimento econômico do país.
  • Delimitação do emprego industrial
    – A seleção do volume de empregos formais projetados para toda a indústria, incluindo setores como extrativa, transformação, construção, energia e saneamento, além de ocupações estratégicas em outros setores, como tecnologia e logística.
  • Cálculo da demanda por formação
    – Com base na estrutura do emprego formal projetado, estimou-se a demanda por formação, abrangendo tanto a formação inicial para novas vagas e reposição de trabalhadores, quanto o treinamento e desenvolvimento para profissionais já empregados.
    – Foram usados dados do Ministério do Trabalho e Emprego para avaliar a trajetória profissional dos trabalhadores, enquanto a necessidade de treinamento e desenvolvimento foi estimada a partir de pesquisa primária com empresários da indústria.

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