A moça do avião

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

A moça do avião

“Não deverão gerar filhos quem não quer dar-se ao trabalho de criá-los e educá-los”. Platão

O mundo moderno trouxe novas e tristes figuras significativas da mudança dos tempos. De um lado pessoas que de posse de um celular tentam impor pela força seu ponto de vista e se não forem atendidas ameaçam com “exposição” e “cancelamento “, uma forma contemporânea de ostracismo.

Do outro lado surgiram figuras chamadas de “Karen”, uma expressão que ficou popular nos Estados Unidos, sendo usada como meme para se referir a mulheres brancas com comportamento bizarro.

O estereótipo das “Karen” é o de uma mulher branca de classe média com comportamentos que exageram situações ou são controversos. Elas costumam ser descritas como “a mulher que quer falar com a gerência”, mas também já foram caracterizadas pelo The New York Times como “a fiscal de todo comportamento humano”.

Pois bem, na última semana essas duas figuras características se fundiram na mesma pessoa e surgiram dentro de um avião no Brasil. Primeiro, a tal criatura tentou constranger uma mulher a ceder seu lugar na janela de um avião ao seu filho com palavras agressivas: “Até perguntei se ela tem alguma síndrome, alguma coisa, porque se a pessoa tem algum problema, uma deficiência, a gente entende. Mas a pessoa não tem nada e não quer trocar do nada”.

Pelo outro lado ganhou simpatia a reação da passageira agredida que manteve a calma e evitou revidar. Mesmo assim as agressões continuaram: “Tô gravando a sua cara, porque você não tem empatia com as pessoas. Isso é repugnante, no século XXI a pessoa não ter empatia com uma criança. Se fosse com um adulto, tudo bem, agora com uma criança é demais”.

Exposto o vídeo em redes sociais, o feitiço virou contra o feiticeiro. A jovem que permaneceu em silêncio foi vista como exemplo de resiliência e paciência enquanto a mulher enfurecida foi vista como um exemplo claro de “mãe tóxica” por não aceitar a contrariedade e tentar manipular a situação, dando um péssimo exemplo para o próprio filho.

O famoso psiquiatra Içami Tiba já dizia sobre educação dos filhos: “Criar uma criança é fácil, basta satisfazer-lhe as vontades. Educar é trabalhoso.” Pois é certo que mais do que palavras são os exemplos que realmente fazem diferença, algo que dessa vez foi claramente percebido pelas redes sociais. Educar pelo exemplo é algo tão antigo que até mesmos textos judaicos já citavam: “O bom exemplo constitui o melhor e mais eficaz sistema de educar os filhos.”

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