Para cada 100 mil habitantes, o número de contágios por sífilis chega a 204,3 pessoas. Esse resultado indica que a Infecção Sexualmente Transmissível (IST) alcança patamares de epidemia regional. É o que afirma a 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS).
Para se ter uma ideia, no RS, são 158,6 casos confirmados. No Brasil, a incidência é de 113,8 positivos para cada 100 mil habitantes.
Em 2023 até setembro deste ano, foram 2.303 diagnósticos positivos para a doença na região. Os números foram apresentados durante seminário no Hospital Bruno Born para profissionais de saúde da região, promovido a partir da parceria entre Secretaria Municipal de Saúde de Lajeado e 16ª CRS, o intuito é qualificar o atendimento à população.
“O assunto das ISTs ainda é um tabu na nossa sociedade. Por mais que hoje tenhamos um avanço nos tratamentos, existem preconceitos. Nós, como profissionais de saúde, precisamos entender isso e fazer uma acolhida humanizada desses pacientes. Entender o sofrimento que estão passando e orientar”, diz a coordenadora Regional de ISTs/AIDS, Aline Abichequer.
De acordo com ela, aumentar as testagens dos pacientes que vão aos postos, também incluir isso no pré-natal, tanto para a mulher quanto para o companheiro, são medidas essenciais para o diagnóstico precoce.
A sífilis tem cura. Em média, são três semanas de tratamento. Porém, isso não garante imunidade. “Caso se cure, é possível pegar de novo. O problema é que essa doença é silenciosa. Quando o paciente se dá conta, já está avançado e com lesões nos órgãos, como no cérebro e no coração”, diz a coordenadora da Vigilância Sanitária de Lajeado, Juliana Demarchi.
O diagnóstico da sífilis é feito por meio de testes rápidos disponíveis nos serviços de saúde do SUS. Esses testes são práticos e fornecem resultados em até 30 minutos, sem a necessidade de estrutura laboratorial. “É fundamental que pessoas sexualmente ativas realizem testes regularmente, especialmente se tiverem múltiplos parceiros ou não usarem preservativos”, diz Juliana.
RISCOS
A sífilis não tratada pode causar complicações graves, incluindo danos ao coração, cérebro e outros órgãos. A infecção também pode ser transmitida de mãe para filho durante a gravidez, resultando em sífilis congênita, que pode causar deformidades, problemas neurológicos e até a morte do bebê. Além disso, a presença de sífilis aumenta o risco de transmissão e aquisição do HIV.
A prevenção inclui o uso de preservativos em todas as relações sexuais e a realização de testes regulares. O tratamento é simples e eficaz, geralmente feito com antibióticos, mas é crucial que seja iniciado o mais cedo possível para evitar complicações.
Entrevista
Juliana Demarchi • coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Lajeado
“A sífilis tem cura, mas precisamos de prevenção e diagnóstico precoce”
A Hora – Como os serviços de saúde acompanham a alta dos contágios e como preparar as equipes?
Juliana Demarchi – Reunimos todos os profissionais de saúde de Lajeado e da região para reforçar a sensibilização e qualificação no atendimento em relação à sífilis e ao HIV. Nosso foco é alertar os profissionais, revisar protocolos e capacitar para a identificação precoce dos casos, junto com o acompanhamento adequado dos pacientes.
– Qual o cenário atual?
Juliana – O Rio Grande do Sul é o segundo estado com maior número de casos de sífilis no Brasil, e Lajeado apresenta uma incidência elevada, tanto na população geral quanto em crianças. Estamos acompanhando 19 casos de sífilis congênita, transmitida da mãe para o feto, além de cerca de 70 gestantes com diagnóstico ativo em 2024. Tivemos 300 novos casos neste ano. São dados preocupantes e precisamos agir de maneira conjunta para atender essa demanda crescente e tentar reduzir as infecções.
– E quanto ao HIV/AIDS?
Juliana – Acompanhamos mais de mil pacientes com HIV/AIDS no serviço especializado. Infelizmente, podemos afirmar que estamos enfrentando uma verdadeira epidemia de sífilis e de HIV. É um momento crítico que exige esforços conjuntos para desenvolver estratégias mais eficazes.
– Como funciona o tratamento da sífilis? Tem cura?
Juliana – Sim, a sífilis tem cura e o tratamento é simples, com penicilina benzatina, a conhecida Benzetacil. Dependendo da fase da doença, são necessárias no máximo três doses, administradas em três semanas. No entanto, é importante reforçar que a sífilis não confere imunidade. Mesmo que a pessoa se trate e se cure, ela pode se infectar de nov caso tenha uma nova exposição à doença.
– Como a população pode acessar o diagnóstico e o tratamento?
Juliana – Disponibilizamos testes rápidos em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Qualquer pessoa pode buscar atendimento, independentemente de apresentar sintomas. Muitas vezes, a sífilis não apresenta sinais na fase inicial, e o diagnóstico só ocorre em estágios tardios, quando já há lesões graves no cérebro ou em outros órgãos. Por isso, insistimos na importância de procurar as unidades e fazer o teste. É rápido, o resultado sai em meia hora, e o tratamento também é acessível pelo SUS. É preciso reforçar que tanto a sífilis quanto o HIV podem ser controlados com medidas adequadas, mas para isso, precisamos de engajamento de todos.