Contágios por sífilis passa 2,3 mil em menos de dois anos

Epidemia regional

Contágios por sífilis passa 2,3 mil em menos de dois anos

Profissionais debatem estratégias para aumentar testagens e conscientizar a comunidade sobre a importância da prevenção. Incidência da doença no Vale é quase o dobro da média nacional

Contágios por sífilis passa 2,3 mil em menos de dois anos
Em Lajeado, Vigilância Epidemiológica contabiliza mais de 300 contágios. Também há 17 casos de contaminação congênita, da gestante que passa para o feto. (FOTOS: Filipe Faleiro)
Vale do Taquari

Para cada 100 mil habitantes, o número de contágios por sífilis chega a 204,3 pessoas. Esse resultado indica que a Infecção Sexualmente Transmissível (IST) alcança patamares de epidemia regional. É o que afirma a 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS).

Para se ter uma ideia, no RS, são 158,6 casos confirmados. No Brasil, a incidência é de 113,8 positivos para cada 100 mil habitantes.

Em 2023 até setembro deste ano, foram 2.303 diagnósticos positivos para a doença na região. Os números foram apresentados durante seminário no Hospital Bruno Born para profissionais de saúde da região, promovido a partir da parceria entre Secretaria Municipal de Saúde de Lajeado e 16ª CRS, o intuito é qualificar o atendimento à população.

“O assunto das ISTs ainda é um tabu na nossa sociedade. Por mais que hoje tenhamos um avanço nos tratamentos, existem preconceitos. Nós, como profissionais de saúde, precisamos entender isso e fazer uma acolhida humanizada desses pacientes. Entender o sofrimento que estão passando e orientar”, diz a coordenadora Regional de ISTs/AIDS, Aline Abichequer.

Equipes da saúde tiveram treinamento durante todo o dia de ontem. Estratégia é aumentar o número de testes e sensibilizar a comunidade para a prevenção

De acordo com ela, aumentar as testagens dos pacientes que vão aos postos, também incluir isso no pré-natal, tanto para a mulher quanto para o companheiro, são medidas essenciais para o diagnóstico precoce.

A sífilis tem cura. Em média, são três semanas de tratamento. Porém, isso não garante imunidade. “Caso se cure, é possível pegar de novo. O problema é que essa doença é silenciosa. Quando o paciente se dá conta, já está avançado e com lesões nos órgãos, como no cérebro e no coração”, diz a coordenadora da Vigilância Sanitária de Lajeado, Juliana Demarchi.

O diagnóstico da sífilis é feito por meio de testes rápidos disponíveis nos serviços de saúde do SUS. Esses testes são práticos e fornecem resultados em até 30 minutos, sem a necessidade de estrutura laboratorial. “É fundamental que pessoas sexualmente ativas realizem testes regularmente, especialmente se tiverem múltiplos parceiros ou não usarem preservativos”, diz Juliana.

RISCOS

A sífilis não tratada pode causar complicações graves, incluindo danos ao coração, cérebro e outros órgãos. A infecção também pode ser transmitida de mãe para filho durante a gravidez, resultando em sífilis congênita, que pode causar deformidades, problemas neurológicos e até a morte do bebê. Além disso, a presença de sífilis aumenta o risco de transmissão e aquisição do HIV.

A prevenção inclui o uso de preservativos em todas as relações sexuais e a realização de testes regulares. O tratamento é simples e eficaz, geralmente feito com antibióticos, mas é crucial que seja iniciado o mais cedo possível para evitar complicações.

Entrevista
Juliana Demarchi • coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Lajeado

“A sífilis tem cura, mas precisamos de prevenção e diagnóstico precoce”

A Hora – Como os serviços de saúde acompanham a alta dos contágios e como preparar as equipes?

Juliana Demarchi – Reunimos todos os profissionais de saúde de Lajeado e da região para reforçar a sensibilização e qualificação no atendimento em relação à sífilis e ao HIV. Nosso foco é alertar os profissionais, revisar protocolos e capacitar para a identificação precoce dos casos, junto com o acompanhamento adequado dos pacientes.

– Qual o cenário atual?

Juliana – O Rio Grande do Sul é o segundo estado com maior número de casos de sífilis no Brasil, e Lajeado apresenta uma incidência elevada, tanto na população geral quanto em crianças. Estamos acompanhando 19 casos de sífilis congênita, transmitida da mãe para o feto, além de cerca de 70 gestantes com diagnóstico ativo em 2024. Tivemos 300 novos casos neste ano. São dados preocupantes e precisamos agir de maneira conjunta para atender essa demanda crescente e tentar reduzir as infecções.

– E quanto ao HIV/AIDS?

Juliana – Acompanhamos mais de mil pacientes com HIV/AIDS no serviço especializado. Infelizmente, podemos afirmar que estamos enfrentando uma verdadeira epidemia de sífilis e de HIV. É um momento crítico que exige esforços conjuntos para desenvolver estratégias mais eficazes.

– Como funciona o tratamento da sífilis? Tem cura?

Juliana – Sim, a sífilis tem cura e o tratamento é simples, com penicilina benzatina, a conhecida Benzetacil. Dependendo da fase da doença, são necessárias no máximo três doses, administradas em três semanas. No entanto, é importante reforçar que a sífilis não confere imunidade. Mesmo que a pessoa se trate e se cure, ela pode se infectar de nov caso tenha uma nova exposição à doença.

– Como a população pode acessar o diagnóstico e o tratamento?

Juliana – Disponibilizamos testes rápidos em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Qualquer pessoa pode buscar atendimento, independentemente de apresentar sintomas. Muitas vezes, a sífilis não apresenta sinais na fase inicial, e o diagnóstico só ocorre em estágios tardios, quando já há lesões graves no cérebro ou em outros órgãos. Por isso, insistimos na importância de procurar as unidades e fazer o teste. É rápido, o resultado sai em meia hora, e o tratamento também é acessível pelo SUS. É preciso reforçar que tanto a sífilis quanto o HIV podem ser controlados com medidas adequadas, mas para isso, precisamos de engajamento de todos.

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