A Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) credencia a Univates para oferecer uma qualificação voltada para formar pediatras. A autorização é provisória, confirmada no fim de novembro. De acordo com a instituição, serão ofertadas duas vagas por ano e a residência tem duração de três anos.
Para aprovação do certificado, foi elaborado um projeto da universidade em parceria com o Hospital Bruno Born (HBB). Coordenador do programa, o pediatra e professor Sérgio Kniphoff, destaca o significado da oferta para médicos especialistas no atendimento a crianças. “Esse é um projeto de muito tempo, de transformar o HBB em um hospital escola e também em avançar nas especialidades, frente a carência de pediatras na nossa região.”
Conforme relatório do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), há cerca de 2,5 mil pediatras em atuação no estado. Porém, a distribuição entre as regiões gaúchas são desiguais. Só em Porto Alegre, estão 42% destes profissionais. Caso incorporada a Região Metropolitana, esse número se aproxima dos 70%.
Levantamento do Sindicato Médico do RS (Simers) aponta que há 131 municípios sem atuação de pediatras. “Termos uma referência aqui não é garantia que os médicos ficarão no Vale. Mas, aumenta as chances. Os médicos costumam ficar onde fizeram a residência”, avalia Kniphoff.
O coordenador do curso de Medicina, Luciano Duro, avalia o programa como um marco para o atendimento em saúde infantil na região. “A iniciativa tem a missão de suprir a formação de especialistas qualificados e de contribuir para a continuidade dos profissionais na região.”
Em cima disso, o professor ressalta a importância de ofertar aos médicos uma formação de excelência, o que repercute no atendimento à comunidade. “A união da Univates com a qualidade assistencial do Hospital Bruno Born proporciona um ambiente de aprendizado prático e multidisciplinar.”
A previsão é que as atividades comecem em março. O processo seletivo é feito pela Univates. O edital de inscrição será publicado neste mês e a prova de seleção está pré-agendada para janeiro.
Período de avaliação
Para se tornar uma residência permanente, a formação de pediatras terá mais uma ou duas avaliações dos ministérios da Saúde e da Educação, junto com a Comissão Nacional. Quando a primeira turma se formar, é feita uma nova análise. Conforme Sérgio Kniphoff, esse processo pode levar de três a cinco anos.
“Ao todo, o médico faz a graduação de seis anos. Depois, mais três de residência na pediatria. Completa nove anos de estudos”. No entanto, para manter os profissionais na especialização, é paga uma bolsa de estudos.
“É como se fosse um salário. O residente sai trabalhando, é um médico, tem número no CRM. Poderá atender. Só que com menos responsabilidade do que um pediatra. Será acompanhado por supervisores, por médicos preceptores e coordenadores.”
Hoje, contando a pediatria, a Univates oferece sete residências (Clínica Médica, Oncologia, Radiologia, Psiquiatria, Saúde Coletiva, Gineco/obstetrícia).
Cenário no RS
- Total de médicos
São mais de 37,3 mil médicos em atividade no estado. Especialistas em pediatria, são cerca de 2,5 mil. - Demanda por pediatras
A distribuição de médicos é desigual, com 42% dos profissionais atuando em Porto Alegre e 58% no interior. Um levantamento do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) evidenciou que 131 municípios gaúchos estão sem pediatras. - Estatísticas gerais
Crescimento: O número de médicos no RS aumentou 51% entre 2011 e 2024.
A densidade de médicos passou de 2,31 para 3,42 médicos por mil habitantes.
No Rio Grande do Sul, há 19.722 médicos homens e 17.646 profissionais mulheres.
A média de idade dos médicos é de 47,7 anos.
Entrevista
Marcos Frank • presidente do HBB
“É impossível pensar o Bruno Born sem formação de mão de obra”
A Hora – Sobre a parceria Univates e HBB. Como esse movimento contribui para o fortalecimento do hospital e do atendimento em Saúde?
Marcos Frank – A parceria do HBB com a Univates fez com que o processo de educação médica dentro do HBB, que estava iniciando, ganhasse um grande impulso e avançasse o número de residências médicas. Então hoje nós temos médicos treinados em Lajeado e que conhecem a realidade local. E a parceria faz com que, cada vez mais, possam ser ofertadas mais vagas em residências médicas. Isso vai fazer com que a saúde regional daqui a algum tempo tenha especialistas em número suficiente para atender toda a população.
– Como a oferta de residências médicas pode ajudar a reduzir o déficit de profissionais especialistas na região?
Frank – Hoje em dia o grande gargalo da Medicina não é mais a entrada no curso de Medicina. Isso as pessoas conseguem com uma certa facilidade. Aumentou muito o número de vagas, porém, o número de vagas nas residências ficou parado no tempo. Isso torna urgente que os grandes hospitais aumentem a vaga nas residências médicas, para fazer com que a gente tenha mais especialistas disponíveis, seja para a cidade, para a região ou para o estado. Vamos ajudar a formar especialistas que vão para outras regiões que também estão carentes.
– O hospital faz investimentos importantes, com uma nova maternidade e o centro de cardiologia. Tendo em visto a qualificação da casa de saúde, o que se pode projetar em termos de futuro no que se refere a formação de médicos? Como se tornar um hospital escola?
Frank – O Bruno Born na prática já é um hospital escola. Temos todo um setor desenvolvido que lida com com residentes, com estagiários, ou mesmo doutorandos. Somos um hospital escola não só para a Medicina, também para a nutrição, para a psicologia, enfermagem, fisioterapia. Temos na nossa cidade um grande hospital. Agora, com o avanço que estamos vivendo, com a ampliação, novas obras, serviços, estamos em um caminho muito positivo.
Entre as especialidades, temos gineco e obstetrícia. E estamos com uma reformulação na maternidade. Teremos um dos complexos mais avançados e completos do país.
Junto com isso, a inauguração da área de cardiologia também é um dos próximos passos, vamos estruturar um projeto para residência nesta área. É impossível pensar o Bruno Born sem formação de mão de obra. Uma qualificação interna para atuar no hospital, seja em termos de médicos, residências e nas profissões paramédicas também.