Primeiro de abril

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Primeiro de abril

A origem do dia da mentira, comemorado em 1º de abril, está relacionada a uma mudança radical feita no calendário no século XVI. Era uma época de disputas entre católicos e protestantes e o Concilio de Trento resolveu adotar o calendário Gregoriano, mudando a forma de contar o tempo do calendário Juliano.

A reunião desses religiosos católicos na cidade de Trento, na Itália, foi na verdade mais uma resposta à Reforma Protestante e tinha como objetivo reafirmar a autoridade da Igreja Católica. No entanto, acabou mudando a maneira como as pessoas que seguiam a religião cristã contavam seus dias.

A partir dessa alteração, o ano se iniciaria em 1º de janeiro (e não mais em 25 de março), estaria dividido em 12 meses (com 365 dias), conteria quatro estações distribuídas por eles e seguiria o movimento da Terra em relação ao Sol.

Com o tempo, aqueles católicos que insistiam em celebrar o Ano Novo em 25 de março passaram a ser alvo de piadas e brincadeiras. O Dia da Mentira, em 1º de abril, surgiu como uma forma de protestar contra essas mudanças. Com o tempo a tradição se espalhou pela Europa e pelo mundo, e hoje é conhecida como Dia da Mentira.

No Brasil, a tradição de celebrar o dia da mentira começou em 1828, quando o jornal mineiro “A Mentira” publicou a notícia falsa da morte de Dom Pedro I.

Em tempos mais recentes, o “presidente eleito” da Venezuela resolveu à seu modo também mudar o calendário antecipando o Natal para o dia primeiro de outubro. Fez isso sob protestos da igreja católica, a mesma que havia feito o mesmo há quatro séculos. Para justificar seu tresloucado ato o ditador afirmou em rede nacional: “Jesus Cristo pertence ao povo, o Natal é do povo e o povo o celebra quando queira comemorar seu Natal.”

Aqui na nossa região fato semelhante se deu. Na sequência da tragedia de maio que derrubou inúmeras pontes e isolou cidades do VGale do Taquari, uma ponte em especial criou enormes transtornos: a ponte sobre o rio Forqueta que conecta a parte alta do Vale com a baixa e com a região metropolitana.

Consumada a tragedia, o caos se instalou na circulação de veículos e pessoas. Porém, graças a movimentação de alguns abnegados uma antiga ponte de ferro foi reconstruída permitindo a passagem de automóveis de pequeno porte e veículos de socorro, mas de forma lenta e com fluxo de um sentido por vez.

Meses mais tarde, o exército com apoio das prefeituras de Lajeado e Arroio do Meio colocou uma ponte metálica, temporária, mas que permitia veículos de carga.

Com o trânsito emergencial resolvido saía o caos e entrava a paciência para esperar em longas filas. Naquele momento, ainda sob forte consternação, se imaginava que o governo do Estado e a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) fariam a reconstrução da ponte levada pelas águas no menor tempo possível. Afinal era sabido por todos que a ausência dessa ponte transtorna a vida de milhares de pessoas todos os dias. Mas o quê se viu a partir de então foi uma construtora trabalhando em ritmo lento e incompatível com a promessa de um secretário de Estado de que até o Natal a ponte estaria concluída.

Nessa semana, faltando um mês para o prazo fatal, quando até as árvores que restaram na beira do rio já sabiam que o prazo seria impossível de cumprir, o mesmo secretário retorna e anuncia outro prazo que, ao que tudo indica, também não será cumprido. Segundo ele, a ponte estará pronta na véspera do dia da mentira ou como preferem alguns, na véspera do dia dos bobos.

 

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